O generoso meio do auto-sacrifício .

O surgimento de filósofos pessimistas não é , de modo algum, sinal de grandes e terríveis situações de miséria dos tempos ; porém, essa interrogação sobre o valor das vidas e das medidas dos governantes para salvá-las, terá de ser feita num tempo em que, claramente, o refinamento, a urgência e a facilidade  maior dos atos governamentais, assim como , no nível individual, dos atos da própria vida privada, consideram as inevitáveis picadas de mosquito dos adversários na nossa alma como malévola demais, e na falta de autênticas experiências de entrega e auto-sacrifício, preferimos muitas vezes que surjam essas ''imaginações torturantes '' do que passarmos pelo tipo de tribulação ''mais nobre '', diante das quais os deuses decidem nos fazer firmes para sempre. Sempre existiram receitas contra filosofias pessimistas e contra a ''sensibilidade excessiva '' e a desconfiança dos tempos, fossem eles quais fossem , mas talvez lançar mão de ''receitas'' no contexto do poder político já seja algo temerário demais.  O generoso meio do auto-sacrifício é também o mais poderoso, pelo menos aquele que consegue impressionar o público. Quando o homem no centro das atenções é atacado, e sua sede de vingança torna-se tão próxima da satisfação , que ele chega a bebê-la até a última gota ''já na própria imaginação'', a esse excesso segue-se, naturalmente, um certo sentimento de distância ---- é então que ele pode valer-se de tal sentimento para elevar-se ''acima  de si'', como se diz, e perdoar o inimigo,  chegando até mesmo a abençoa-lo. Com essa ''violação de si mesmo'', esse escárnio do próprio impulso de vingança, até então ainda tão poderoso, o homem nobre cede ao novo impulso que agora torna-se ainda mais poderoso nele (O ASCO !) , e faz isso com tanta impaciência e exagero quanto pouco antes ''antecipava'', na sua fantasia, o prazer da vingança, ao mesmo tempo (com isto)  exaurindo-a . Na generosidade do auto-sacrifício há o mesmo grau de egoísmo que na vingança, mas é um outro tipo de egoísmo.

K.M.