terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O que nos torna ''nobres '' ??

A retidão, supondo que esta seja a nossa virtude, da qual nós, espíritos livres, não podemos nos livrar ----- bem, nós desejamos trabalha-la com toda malícia e amor , e não nos cansar do ''aperfeiçoamento'' em nossa virtude, talvez a única que nos reste: possa seu brilho um dia repousar como uma dourada e zombeteira luz vespertina sobre esse caldo de cultura envelhecido no meio do qual somos obrigados a viver. É a retidão aquilo que nos torna nobres  ?? Ora, certamente não é o fato de fazermos sacrifícios ; até o mais lascivo dos seres é capaz de sacrificar-se por algum objetivo. E certamente não é o fato de cultivarmos certas paixões como nossas ''Grandes Paixões'', pois existem inúmeras paixões desprezíveis.E muito menos é o fato de que fomos capazes de fazer algo pelos outros sem nenhum egoísmo ; talvez as consequências do egoísmo sejam as maiores de todas justamente entre os nobres. É porque a paixão que acomete o ''homem nobre'' é algo realmente  especial, sem que ele nem saiba disso: é o uso de uma medida rara e singular, QUASE UMA LOUCURA, a sensação de calor em coisas que os outros sentem como frias, uma previsão de valores para os quais ainda não inventaram uma balança , um sacrifício levado a altares dedicados a um deus desconhecido ; uma coragem sem pretensões à honra , uma auto-suficiência com uma abundância  compartilhada com pessoas e coisas. E se apesar disso nossa ''retidão'' , que nada mais é do que a capacidade de destilar valores para transmutá-los, um dia se cansar e suspirar e distender os membros e nos julgar demasiado duros, e quiser que as coisas sejam melhores, mais fáceis, mais suaves, como um vício agradável : permaneçamos ''duros'', nós, os últimos estoicos (!) E mandemos em seu auxílio tudo possuímos de diabolismo e demonismo ---- nossa repulsa à tudo aquilo que é tosco e impreciso, nosso ''nitimur in vetitum '', nossa coragem de piratas, nossa curiosidade mimada e refinada pela erudição, nossa mais fina, mais oculta, mais espiritual vontade de poder e de superação do mundo, que cobiçoso vagueia e e volteia em torno de todos os impérios do futuro ----- venhamos em auxílio de nosso ''deus desconhecido interno '' armados de todos os nossos demônios (!) É como quer se chamar o Espírito que nos conduz , e talvez por isso venhamos a ser confundidos e incompreendidos. Até então, o que enobrecia alguém era o ''raro'', e também aquilo que não se sabia sobre tal ''raridade. Não foram até agora todos os deuses semelhantes a demônios rebatizados ?? E o que sabemos tanto assim sobre nós mesmos, para não tirarmos proveito de qualquer coisa que nos transforme em exceções ?? Nossa retidão ... cuidemos para que ela não se transforme na nossa vaidade , no nosso ornato e aparato, no nosso fardo, limitação e tolice . 

K.M.

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