Zizhang perguntou ao Mestre o que é ser esclarecido. O Mestre disse: ''Tramas que surgem gota a gota, calúnias que afligem a própria carne, nada disso ocorre com você . Pode-se dizer que isso é esclarecimento e nada mais. Tramas que surgem gota a gota, calúnias que afligem a própria carne, nada disso ocorre com você, pode-se dizer que isso é conseguir ver longe''. (Analectos 12.6)
Essa passagem gira em torno dos ideogramas ming e yuan, traduzidos geralmente como ''esclarecimento'' e ''poder ver longe''. Está associada ao dia a dia da corte. Sabe-se que Zizhang preparou-se para uma carreira burocrática, mas não há registros de que tenha exercido um cargo público. Confúcio aqui chama de sábias as pessoas capazes de antever complôs contra elas. O Mestre valoriza muito essa habilidade, porque tanto as tramas quanto as calúnias aparecem normalmente aos poucos, nos bastidores, e, via de regra, não é algo que se consiga evitar por esforço próprio. Aliás, o sentido original do ideograma ming é justamente ''ver com clareza''. Este ideograma representa um sol e uma lua, significando, claro, ''brilho''. Já yuan significa literalmente ''poder ver longe'' ou ''poder de ver longe''. Aqui temos uma ótima oportunidade de lembrar o significado de ''inteligência '' em chinês. Enquanto nas línguas ocidentais a inteligência é associada à capacidade de compreender mentalmente alguma coisa, em chinês ela corresponde à sabedoria prática com que se interage materialmente (não intelectualmente) com o mundo. No chinês moderno, ''inteligente'' é ''congming ''. O Clássico dos Documentos dá a seguinte explicação etimológica para o termo: ''aquele que consegue ver longe'' (ming): aquele que tem o poder de ouvir longe é ''cong''.
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