quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O homem compreende uma coisa quando sabe o que fazer dela.

Gualter de Souza Andrade Júnior.

A experiência é poder-ser e isso significa projetar, de modo que, essencialmente, a existência é transcendência, vista por Heidegger como superação. Destarte, para Heidegger, as coisas do mundo são utensílios em função do homem que é projeto. Heidegger emprega importante conceito acerca do dasein que é o ser-no-mundo. O homem, por estar-no-mundo, como existência, poder-ser, projeto, transcendência, significa, originalmente que faz do mundo o projeto de seu agir. “É a transcendência que institui o projeto ou esboço de um mundo: esse é ato de liberdade – aliás, para Heidegger, é a própria liberdade.” Entretanto, nesse ato de liberdade, o homem é limitado pelos utensílios que são o mundo. Portanto, ao se dizer que o homem está-no-mundo, tal fato traduz o cuidado do dasein quanto aos acontecimentos concernentes ao seu projeto, em face de uma realidade-utensílio, que é plataforma de ação. O homem não é espectador inerte do mundo, mas se relaciona com o que nele ocorre de modo a modificá-lo e, por consequência, o dasein modifica-se. No mundo, as coisas são instrumentos, mas podem ser úteis para a composição de um projeto quando compreendidas cientificamente. “[...] O homem compreende uma coisa quando sabe o que fazer dela, do mesmo modo como compreende a si mesmo quando sabe o que pode fazer consigo, isto é, quando sabe o que pode ser”. Heidegger desconstitui a certeza gnosiológica da Idade Moderna de que o conhecimento ocorre no interior da mente e encerra-se nela, centrada na qualidade interior do sujeito, como se fosse mônada, modo originário de compreensão do mundo. Ao contrário, o sujeito é aberto ao conhecimento. Dessa forma, o ser-com-os outros também é existencial, pois não há sujeito individual sem os outros e sem mundo. Assim “[...] como o ser-no-mundo do homem se expressa pelo cuidar das coisas, do mesmo modo o seu ser-com-osoutros se expressa pelo cuidar dos outros [...]”. Diante disso, o sujeito pode optar por dois caminhos: deixar de ocupar-se com os outros ou ajudá-los “[...] a conquistar a liberdade de assumir seus próprios cuidados”. A primeira hipótese denota atitude inautêntica, pois há apenas um estar junto. A segunda traz a compreensão de ação autêntica pelo coexistir. (REALE; ANTISERI, 1990b, p. 583-585).

Em “Ser e Tempo”, Martin Heidegger explica que a

[...] fundamentação dos modos de ser-no-mundo constitutivos do conhecimento de mundo evidencia que, ao conhecer, a presença adquire um novo estado de ser, no tocante ao mundo já sempre descoberto. Esta nova possibilidade de ser pode desenvolver-se autonomamente, pode tornar-se uma tarefa e, como ciência, assumir a direção do ser-no-mundo. Todavia, não é o conhecimento quem cria pela primeira vez um “commercium” do sujeito com um mundo e nem este commercium surge de uma ação exercida pelo mundo sobre o sujeito. Conhecer, ao contrário, é um modo de presença fundado no ser-no-mundo. (HEIDEGGER, 2007, p.109).

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