domingo, 29 de janeiro de 2017

México - Tenochtitlán.

 Resultado de imagem para asteca relogio solar

A metáfora do mundo como montanha e da montanha como doadora de vida materializam-se na pirâmide com um literalidade espantosa . Sua plataforma- santuário, quadrada como o mundo, é o teatro dos deuses e o seu campo de jogo. Qual é o jogo dos deuses ?? Jogam com o Tempo e o seu jogo e a criação e a destruição dos mundos. Oposição entre o trabalho e o jogo divino: o homem trabalha para comer , os deuses jogam para criar. Melhor dito : para eles não há diferença entre jogar e criar . Cada um de seus lances é um mundo que nasce ou se aniquila. Criação e destruição são noções antitéticas para os homens, mas idênticas para os deuses: TUDO É JOGO.  Nos seus  jogos ---- que são GUERRAS que são DANÇAS ---- os deuses criam, destroem e, às vezes , se auto-destroem . Ao se imolarem, recriam o mundo.  O jogo dos deuses é um jogo sangrento que culmina num sacrifício que é a criação do mundo . A destruição criadora dos deuses é o modelo dos ritos, das cerimônias e das festas dos homens : sacrifício é igual a destruição produtiva . Para os antigos mexicanos, DANÇA era sinônimo de PENITÊNCIA . Parece meio esquisito , mas não é : dança é primordialmente rito, e este é uma cerimônia que reproduz a criação do mundo pelos deuses, num jogo que é destruição criadora . Há uma conexão íntima entre o jogo divino e o sacrifício , que engendra o universo ; a este modelo celeste corresponde outro meramente humano : no rito , a dança é penitência. A equação DANÇA - SACRIFÍCIO se repete no simbolismo da pirâmide : a plataforma da cúspide representa o espaço sagrado onde se dissolve a dança dos deuses, um jogo criador do movimento e, portanto , do próprio tempo ; o local da dança é igualmente , pelas mesmas razões de analogia e correspondência , o local do sacrifício .  Ora, para os antigos astecas , o mundo da política não era diferente do mundo da religião: a dança celeste, que é destruição criadora, e também guerra cósmica ; e esta série analógica divina se projeta em outra, terrestre : a guerra ritual (ou ''guerra florida'' ) é o duplo da dança guerreira dos deuses e culmina no sacrifício dos prisioneiros de guerra. Destruição criadora e política de dominação dos outros são a dupla face, a divina e a humana, de uma mesma concepção. A pirâmide, tempo petrificado, local do sacrifício divino, é também a imagem do Estado asteca e de sua missão : assegurar a continuidade do culto solar, fonte da vida universal , pelo sacrifício dos prisioneiros de guerra. O povo mexicano se identifica com o culto solar : sua dominação é semelhante à do sol que nasce cada dia , combate, morre e renasce . A pirâmide é o mundo e o mundo é o México - Tenochtitlán : deificação da nação asteca pela sua identificação com a imagem ancestral do cosmos, a pirâmide . Para os herdeiros do poder asteca, a conexão entre os ritos religiosos e os atos políticos de dominação desaparece mas , o modelo inconsciente do poder continua sendo o mesmo : a pirâmide e o sacrifício.

K.M.

Nenhum comentário:

Postar um comentário