A compreensão histórica é entendida pelo materialismo histórico como pós-vida do objeto de compreensão, cujo pulsar se faz sentir até o presente. Ainda que não seja o caso aqui, tal compreensão tem seu lugar , mesmo que entre parênteses, pois não está acima de qualquer crítica. Nela coexistem uma idéia antiga, dogmática e talvez ingênua da RECEPÇÃO com uma forma nova e crítica. A primeira pode resumir-se na afirmação de que a RECEPÇÃO determinante de uma OBRA deve ser para nós aquela que ela teve entre seus contemporâneos, sobretudo se estes foram pessoas ilustres e poderosas. Não é outra a perfeita analogia de Ranke, em ''Geschichte der romanischen und germanischen'' : '' Tal como foi realmente '', que seria, afinal ''a única coisa '' que importa ''. De fato : o que é próprio da ORIGEM DIVINA nunca se dá a ver somente no plano mundano e factual, com as vestes grosseiras do mundo caído. Seu ritmo superior só se revela a um ponto de vista duplo, o da pré - e da pós-história dos fatos. Feliz do homem que alcança tal ponto de vista . Mas ao lado deste encontramos também, sem mediação alguma, o ponto de vista dialético e de horizonte ainda mais amplo, que reconhece uma ''HISTÓRIA DA RECEPÇÃO''. A fortuna crítica e relacional das OBRAS passa a ser considerada por inteligências capazes de um maior refinamento. Até porque não fazê-lo, como, infelizmente, é comum no nível das massas , aprofunda os aspectos mais negativos de toda a história da arte universal, aprisionando os homens no nível intelectual da turba. No entanto, parece-me que a descoberta das verdadeiras causas do maior ou menor êxito de um ARTISTA , para a duração desse êxito ou também para o seu contrário , este é um dos mais relevantes problemas que se colocam à vida e sobrevida da arte em nossos dias. Já Mehring via as coisas assim, e seu livro ''Lessing: A Lenda '' transforma em ponto de partida de suas análises a RECEPÇÃO de Lessing por Heine e Gervinus, por Stahrs e Danzel , e finalmente também por Erich Schmidt.. E não será por acaso que pouco depois surgiu o meritório trabalho de Julian Hirsch : ''A Gênese da Fama '' (extremamente meritório , mais pelo conteúdo do que pelo método ). A questão central é a mesma que atiramos à mesa, e sua solução fornece o critério de referência para tal . De fato: o materialismo histórico está ainda muito presente nas democracias ocidentais, ainda que despido de seus trapos marxistas. Mas este fato não justifica a omissão de outro, mais importante ainda: o de que tal solução nunca foi encontrada. Pelo contrário: não há qualquer dúvida de que apenas em casos muito isolados se conseguiu apreender todo o conteúdo histórico de uma OBRA de tal modo que ela se tornasse para nós transparente enquanto ARTE, ou mesmo para que transcendesse tal condição para uma ainda mais elevada. Por isso, todo esforço de aproximação de uma OBRA será mais ou menos vão se seu conteúdo histórico sóbrio não se tornar objeto de um conhecimento dialético. E essa é apenas a primeira das verdades pelas quais minha WORK IN PROGRESS se orienta. Meu rolo de papel infinito é a resposta de um homem prático às aporias da especulação teórica.
K.M.
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