Devemos imaginar a transformação das formas épicas segundo ritmos comparáveis aos que presidiram à transformação da crosta terrestre no decorrer dos milênios. Poucas formas de comunicação humana evoluíram mais lentamente e se extinguiram mais lentamente. O romance, cujos primórdios remontam à Antiguidade, precisou de centenas de anos para encontrar, na burguesia ascendente , os elementos favoráveis ao seu florescimento . Quando esses elementos surgiram, a narrativa começou pouco a pouco a tornar-se arcaica ; sem dúvida ela tentou se apropriar do novo conteúdo de múltiplas formas , mas nao foi determinada verdadeiramente por ele , e talvez daí algum mal entendido . Por outro lado , verificamos que com a consolidação da burguesia ---- cuja imprensa é o instrumento mais importante --- destacou-se uma forma de comunicação que nunca havia influenciado decisivamente a forma épica. Mas hoje ela exerce essa influência, ainda que continue separada da narrativa , constituindo uma nova forma de comunicação através do éter hiper-informativo. Cada manhã recebemos notícias de todo o mundo . E, no entanto, o mundo não parece nenhuma história surpreendente no conjunto. Algo já muito explicado , quase nada a serviço da narrativa , e quase tudo a serviço da informação . Mas minha arte narrativa está em evitar cinquenta por cento das explicações, e narrar o extraordinário e o miraculoso com maior exatidão , sem impor qualquer contexto piscológico à leitora. Com isso o episódio narrado atinge uma amplitude que não existe na informação em si .
K.M.
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