A verossimilhança no Ulisses é tão forte que James Joyce foi ridicularizado como mais um mímico do que um criador , acusação que, sendo falsa, é o maior de todos os elogios. Depois da morte de Joyce , quando a mídia inglesa estava preparando um longo programa a seu respeito , emissários foram a Dublin e abordaram o Sr. Richard Best para participar de uma entrevista . ---- Porque vieram me procurar ? ---- Pq o Sr. é um personagem do Ulisses. ---- Não sou personagem de ficção, sou um ser vivente ----- ele disse. O incidente foi um aviso útil . Até com um ''roman à clef '', o que o Ulisses é em grande parte, não há chave que se adapte direito. A arte coloca numa pessoa os cabelos da outra, ou suas vozes , ou suas posturas , cm chocante desrespeito pela identidade individual . Como Stephen Decalus no episódio Circe, a arte estilhaça a luz pelo mundo , destruindo e criando ao mesmo tempo . ---- Você também apareceu no Ulisses ?? Qual é o seu personagem ?? ---- Uma voz familiar por um instante , um nome que parecia pertencer à ela, e não àquela outra, depois ambas passando para um novo ser... como aliás insiste Joyce no Finnegans wake : ''Os traços formando o claro-escuro fundem-se, suas contrariedade eliminadas, formando um alguém estável '' (Aqui Stephen diz que ele mesmo não acredita em sua própria teoria, mas indica-a como uma parábola da relação entre arte e vida, mais que uma biografia não verificável . Até personagens que detém nomes e iniciais verdadeiras, muitas vezes são artisticamente alteradas. ---- Você , eu : Joyce também fez Stephen Dedalus enfatizar no Ulisses que o artista e sua vida nao se distinguem . E em Finnegans Wake, Joyce chega a dizer de Shem , o Penman , que ele produzia ''de seu corpo feio uma quantidade não incerta de matéria obscena '' que com essa dupla tinta (..) escrevia sobre cada polegada quadrada do único papel ofício disponível, seu corpo . Em vez de ser o deus andrógino da criação, o artista, diz Joyce, era a ''isca ''. Mas naturalmente Joyce era as duas coisas.
K.M.
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