Eu aprendi diagramação bem cedo em uma atmosfera que ficava intoxicante por causa do cheiro de tinta de impressão. Logo comecei a escrever meu próprio jornal, pois para mim ''o som mais retumbante de toda a humanidade'', é a frase de Jesus: ''Meu reino não é deste mundo''. Assim, este jornal será publicado em forma de caderno espiralado e será enfeitado com o crucifixo até mesmo nas raras passagens em que o nome de Deus não é invocado. Nele, qualquer queda na mundanidade dos fatos estará amparada por antecipação num misticismo imanente e irrefutável . ------ O impulso intuitivo do grande tema ------ pensamento fluido ----- fluidez conceitual ----- um caderno é a melhor forma de romance, de jornal, de literatura, de investimento, de personalidade ------- Señor de sí mismo ------ conduzindo à exacerbação as formas passionais do próprio instinto, o gênio constantemente as multiplicando, centuplicando através de múltiplas técnicas de meditação oculta: o enigma da economia transposto em chave plástico-política de exegese, explodindo numa dimensão cósmica que equivale a reconstruir concretamente um possível paraíso terrestre dentro da mente, rejeitando-o logo à constatação de excessos indesejáveis. Não quer isto dizer que o paraíso terrestre deva ser habitado por uma única pessoa, ou no máximo duas: já que a muito se extinguiu a raça de Luís II da Baviera, aquele que assistia sozinho no teatro de sua corte a representação das óperas wagnerianas. O choque diante do Kalki Avatar e sua Luz Absoluta, sua estupenda baía aberta à ondulação do mar de palavras fabricando azulmente ondas de frases nunca fatigadas, nunca vencidas, nunca nem de longe igualadas, implicando a adesão a uma linha clássica hostil ao nosso século post-grego, mais voltado para o Oriente e o Terceiro Mundo. Esta paixão (certamente) vem do seu peculiar sentido da existência: ------ Condenar a primazia da cultura (Ele nos diz) tornou-se já impossível; essa imensa realidade virtual oposta à natureza (continua, mergulhando nas brilhantes águas da vida, da perambulação, das hecceidades, ''Universos incorporais de referência'', ''Poder sobre os elementos naturais''; e, ao mesmo tempo, uma pessoa perfeitamente consciente dos véus pintados, da Maya político-econômica do mundo, de cúpulas de vidro multicoloridas dando tonalidade à brancura radiante da Eternidade, estremecendo no impulso psico-lúbrico que desce do Céu intenso, e assim por diante. O Avatar é um monologuista sem estribeiras e um improvisador nato, veloz e vingativo, cruel e implacável; um campeão em calúnia. Na verdade, ser esculhambado por Kalki-Maitreya equivale a uma certa forma de altíssimo privilégio. É como se tornar objeto de um retrato com dois narizes feito por Picasso, ou uma galinha estripada por Soutine.
K.M.
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