quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Vórtice negentrópico automonitorador espontâneo. 30

Eu era uma única pessoa com milhões de corpos separados em todo o mundo, e muitos se perguntavam se tais corpos eram independentes. ----- Não. Parece improvável, mas assim é (.) -----, eu respondia. Ora, eu era o confidente maior de alguns dos elementos mais inteligentes de Nova York, curador de uma selvagem campanha contra o monopólio corporativo, e escultor de uma esposa bela e absurda, que registrava todos os meus excessos num bloco. Mas uma vez que eu tomava uma posição, uma vez traçada minha corajosa linha de conduta, tudo o que havia de contrário à ela (eu sabia) viria assaltar-me covardemente através da mídia democrata. Muitas vezes, era como se meu cérebro estivesse sendo arrancado, com um terrível ruído de sucção. Quando eu replicava publicamente, minhas réplicas, pelo menos, não tinham sua beleza estonteante arruinada por nenhum tipo de maquiagem publicitária, como as de minha adversária, que com tinturas grosseiras visava um processo de branqueamento forçado e irreal do meu eleitorado. Bastava eu me declarar a favor da normalidade e do bom senso americano de sempre, que logo era atacado por aberrações globalizantes.  As bichas velhas da mídia liberal diziam aos meninos negros dos bairros: ----- Ele vai acabar com a barulhenta cultura de vocês, Biddy Blair (.) ----, seguido por efeitos sonoros de desordem sensorial absoluta, reverberando como sirenas policiais pelos bairros pobres. ----- Tudo bem (eu dizia  à Gisele) Não se sabe até que ponto isso pode ressuscitá-los ou acabar com eles de vez, pois essa mesma malignidade se volta contra os praticantes, gerando uma apatia no eleitorado indeciso que ameaça não comparecer às urnas. Fora os que decididamente não votarão em ninguém, de tão confusos. DIGA SE NÃO ESTOU FELIZ (!) -----, concluí. Eu estava de volta do mundo dos mortos, meu orgulho agora era igual a uma espada. A situação tornara-se mais favorável que uma tempestade perfeita. A telepatia convertera-se, para mim, numa defesa suprema contra qualquer forma de distorção organizada ou tirania por parte dos grupos de pressão, esses viciados em controle individual. Assim que, por outro lado, a liderança da Câmara também estava se valendo de uma telepatia de mão única com o intuito de me fazer migrar para posições tradicionais republicanas, sobretudo algumas relativas à criação de novos bancos no âmbito da Federal Deposit Insurance Corporation, que propunha uma desregulamentação quase total do setor financeiro. ----- Mas essa (expliquei à Gisele) é uma ''área de baixa pressão'', uma ''sucção no vazio '' que recria as condições para um novo colapso econômico (.) Certamente vou reduzir impostos, como Bush, mas para ''rire trés haut mes victoires'' ; apenas não posso sair assinando embaixo de qualquer coisa que faça tremer os pilares da América (.) Nossa correspondência privada, por exemplo, vem sendo lida com curiosidade por integrantes de ambos os Partidos, ainda que chegue ao destino parecendo não ter sido aberta(.) Não importa (!) Detetives particulares seguirão enfiando a a cabeça dentro de nossos quartos. Até mesmo as geladeiras atuais possuem sistemas de captura de dados sonoros e visuais. Nada disso me fará rejeitar ou negar nosso âmago, nem me obrigará a esforçar-me a todo momento para ser ''mais flexível'' ou a adaptar minha imagem pública a de um ''sorbonista pacificador''. Talvez só até o mês que vem. O ano eleitoral até agora avançou pouco, mil pequenos indícios me dizem isso. Ouça o que digo : Sou capaz de chegar à Transfiguração sozinho, não preciso desse bando de maricas me dizendo à todo momento que se eu não me moderar os festejos de novembro terão lugar sem mim. Tenho esse sentimento há alguns dias e confio nele. Não confio mais no pitoresco ! O importante é só prestar atenção aos sobressaltos. Isso será fácil. Os juros baixos não estão estimulando a criação de novos bancos.. muito bem: E DAÍ (?!) Veja que ainda tenho alguns movimentos de impaciência de tempos em tempos. É deles que tenho que me defender agora, por quinze dias, três semanas. Mas a injeção de liquidez para evitar a deflação está valorizando a riqueza concentrada das grandes corporações em sua forma mais estéril e fictícia, o que é muito pior , pois inibe a criação de novos empregos. Quanto a isto, não ficarei neutro e inerte. Se m exagerar nada, é claro. Talvez rindo tranquilamente da situação, sem me exaltar. Sim, finalmente serei natural , sofrei mais, depois menos, mas sem tirar nenhuma conclusão disso. Não vou observar a economia americana morrer passivamente ! Morreremos nem frios nem quentes, mas mornos. Já me queixei disso em algum jornal ? VEJA QUE ME IMPACIENTO DE NOVO !  O mundo logo se transformará num gigantesco Japão deflacionário entupido de Transnacionais sentadas sobre privadas de centenas de trilhões de dólares sem uso, como cocô boiando em água parada. Mas se eu disser que qualquer banco de desconto é corrupção categórica a taxar o público para o lucro privado dos donos do mundo, o povo americano declarará que morri doido.  Tentarei então não fazê-lo. Ao menos hoje. Então por que me alegrar, neste momento (?) Sim, estou contente, um pouco, é inevitável, mas não a ponto de bater palmas.  Não responderei mais perguntas.  Daqui até novembro vou tão somente me contar minhas próprias histórias, o resto que se dane. E não serão mais do mesmo tipo; nem bonitas nem feias, mas calmas. Histórias quase sem vida. Não faz mal. Mas me prometo muita satisfação. Deixe-me dizer em primeiro lugar que não perdôo ninguém. Desejo a todos meus adversários uma vida atroz e uma execrável existência de silêncio (.) -----, eu disse. Nessas ocasiões, eu olhava para Gisele e me perguntava, do fundo do coração, se não seria melhor poupar aquela criança desses assuntos. Muita amante protegida (eu pensava então) se arrisca pelo seu amante, como podemos ler nos registros de missões divinas e contos de glória militante. E eu sou totis viribus... Sou pelo combate cntra quem, primeiro, nos force a uma guerra. Uma obra política de luxo recatado, cujas jóias são caracteres ''avec des royaunnes épars ''. Um universo onde cada elemento se sacrifica pela grandeza do conjunto; a singularidade, ou seja,  a Rebelião de um fragmento, de um detalhe revelador. Em breve todos dirão que compreendem minha Psique, mas sempre haverá indivíduos viciados em controle, no esquema ''coca-cola com aspirina'', tecendo comentários sobre a malignidade das minhas emissões.

K.M.

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