quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Uma Veneza para Giulio Turcato.



Turcato levanta um copo na mão: branco, vermelho, amarelo, azul e verde como acidade de Veneza. Desde sua vida pré-natal esse homem singular, nascido em Mantua,  reclamara para si próprio a cidade  de Veneza, esse suplemento  oriental de Europa, milésimo de China reduzida, rarefeita e fluidificada. O acaso, a insídia da natureza, a perfídia da água são retificados, contidos por uma engenharia sutil, caprichosa, ao mesmo tempo sólida. Alternativamente, Turcato esconde e mostra a linha. A linha vai e volta, explode, dissimula-se, hesita entre a gôndola e o vaporetto, manifestando a ruptura com todo esquema previsto. Merleau-Ponty era outro que também acreditava mais nas nervuras, vibrações e irradiações da pintura do que em sua ''física-óptica''. 

As histórias sobre Giulio Turcato , histórias de humour, invenção, poesia, entre Chaplin, Buster Keaton, Michaux, exorcizam a História com maiússcula, fértil em massacres e barbárie. Autocontestador ácido, Turcato, antes que o prendam, se prende, sempre paradoxal, ilógico, ao mesmo tempo fantasmagórico, gasoso, procurando  ''poeticamente vivere la realtá. ''

Insaisissable. Tangente à Hamlet: sonhador e homem de ação. Mas em que consiste sua ação ? Não nos esqueçamos que Hamlet se considerava : ''Louco somente ao norte-nordeste''.  Vos transladamos nas retidas constantemente por golpes sucessivos de imagens a desenrolar um filme interminável que transpões as fronteiras do tempo e do espaço. Linhas que não conhecem trégua, como Atalantas abstratas a galope, cores de um alfabeto autre, desencadeando forças antagônicas, entre a ironia plástica e a memória da futura maneira de se divertir.


K.M.




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