sábado, 10 de setembro de 2016

Sotorama (5)


Na obra de Soto a gesticulação talvez esteja reduzida à um mínimo , é quase imperceptível, assim como a onomatopéia e a eloquência, há nela um desgaste mínimo de forças. Ela nos revela uma sabedoria desenvolvida pela mais alta cultura, uma relação contínua de linhas que se procuram ou se separam , mas formam constelações terrestres que se diriam conscientes da sua razão de vida.

A sombra aqui é supérflua pois tudo conduz a uma situação de calma oferecida, nirvânica, num país espiritual onde se aboliu a opressão humana, inclusive a opressão de formas que em determinados artistas ainda nos levam ao mal-estar. Assistimos uma evolução de ordem superior que não existe na sociedade nem nos programas dos reformadores. E esta não é uma linguagem  destinada especificamente a um grupo ou corrente de estetas; apesar de difícil, pode ser compreendida por um homem comum.

A certeza dessa arte,  de que se exclui o provável e o aproximativo, ajuda a confirmar a exigência do espírito que aspira à um mínimo de segurança e comprovação, sobretudo agora, neste tempo de violentos contrastes e negações absolutas. O lugar, a fórmula justa, o desdobramento das imagens, o signo, na obra de Soto formam um centro de relações e de identidades.

Post Scriptum

Todas as vezesque pretendo agir fortemente, distingo no céu vangoghiano um dedo: ele escreve Mane Tecel Phares.

Veja que ocupo-me de tantos assuntos díspares. Cantam eletricamente no relâmpago da visão, deixando palmas no altar do deus desconhecido.

K.M.







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