sexta-feira, 9 de setembro de 2016
Sotorama (4)
A procura de aproximações culturais semelhantes a que a leitora pode encontrar abaixo e em toda nossa obra constitui um exigência excitante do espírito. A procura pela unidade fundamental do pensamento humano, com todas assuas variantes históricas e culturais. Não apenas a o Paideuma de Pound, mas também a obra cinética de Soto satisfazem a dupla idéia de movimento e estabilidade do pensamento, constantes universais do nosso ser. O artista participa da consciência cósmica; sua identidade é verificável no tempo e no espaço, supera-os. O único e o múltiplo completam´se na sua identidade essencial.
Noto ainda que diante do enorme volume de técnicas e materiais que se apresentam a Soto , ele consegue, guiado por um instinto superior, atingir o essencial (o que se pode dizer de poucos). Apesar do número formidável de fatos e objetos que nos rodeiam, apesar dessa valorização do supérfluo que caracteriza a sociedade atual, não há dúvidas de que alguns homens, em particular poetas e filósofos, tal como divinos editores, compreenderam a necessidade de se atingir o essencial. É a essencialidade da arte de Soto, sempre sábio em escolher e fixar seus materiais, que há décadas ajuda a humanidade a entrar em comunicação com seu modo inimitável de apreender e representar o mundo. Tocando precisamente aquilo que há de mais essencial, Soto exclui ex-officio uma infinidade de valores secundários (que podem ser até expressivos) e a participa ativamente de uma operação da mais alta dignidade, não só estética mas intelectual, metafísica e fenomenológica.
Escreveu Leopardi que a natureza é ''Mãe e Inimiga'', constrói e destrói implacavelmente. Também o poeta Charles Baudelaire pensava que a natureza é ''suspeita'' e ele sente-se bem somente no mundo criado e posto à disposição do homem pela arte. E como assinala Susanne K. Langer, a arte vale-se da ubiquidade para educar os homens. Os princípios baseados em linhas geométricas, que percorrem toda a história da humanidade, cooperam de modo implacável à imposição de um sistema que se opõe violentamente aos absurdos sistemas políticos-sociais: um sistema que produz a subversão dos valores comuns, que corrige o vulto do universo se valendo de um certo entendimento super-consciente com a natureza.Exatamente porque a forma de vivência da sociedade está corrompida, porque proliferam, mesmo nos países comunistas, o horror cotidiano.
K.M.
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