Não é a toa que o operador Soto se interessou vivamente pela obra Cézanne, dos cubistas, de Mondrian, de Paul Klee. Pertence à corrente de artistas que disseram NÃO a um mundo de carros armados e aviões de bombardeio, proclamando a superioridade das forças naturais como armamento de guerra e proclamando a subsistência de uma linha permanente que atravessa todos os períodos, mesmo os mais obscuros da história, em sua luta contra as potências negativas. Como a daqueles artistas de alta linhagem, a obra cinética de Soto é um documento da tensão dos homens para um esquema onde a matéria e o espírito, realidade e transcendência, se encontrem em condições de afirmar a alta origem de nosso destino. Eis o movimento que não destrói a linha das linhas.
Soto, operador da matéria, é alguém possuído pela idéia do Absoluto. A matéria é a base comum da obra de arte, mas o conjunto ambiental, o ''environnement'', abriga um ser irado pelo dilaceramento entre o plano real e o do Absoluto. Necessidade de romper nossas cadeias, libertar-nos da infância governamental, dos pesadelos do passado e do presente, para alcançar uma realidade que explode pacífica e misteriosamente e onde a subversão das formas, dos conceitos, dos ritmos, nos conduza a uma Vida Maior. Assim a ''Vibração Mural '' nos aproxima da totalidade e da urgência cósmica. A festa cósmica é sempre uma tensão, uma passagem do movimento ao extra-sensorial, onde o abraço fraternal ainda é possível.
Obra cinética, de base sólida e frágil ao mesmo tempo, que atrai-nos pela sua absorvente legibilidade ----- onde subsiste uma margem encantatória de enigma. Porque a idéia de labirinto é também própria à Soto. Com seu toque mágico, o artista expulsa o Minotauro, excluindo de sua concepção o ódio e a guerra suja. Soto encontra o Labirinto presente em todas as etapas da história individual e universal, mas transforma-o. Faz dele uma saída para ''o outro lado'', onde o horizonte outrora oculto torna-se claro e limpo, convidando à informação espiritual exata, à comunicação sensível com o invisível, obediente à poesia dos gestos grandiosos, onde os problemas nao são instantaneamente anulados, mas evoluem de acordo com os dados de uma formação espiritual superior.
K.M.
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