quinta-feira, 8 de setembro de 2016

O transporte suscitado pela musa



''Vocês podem reconhecer meus limites, eu não '', dizia Heidegger. Anos antes, ele havia escrito que a grandeza de um pensador se mede pela fidelidade ao seu próprio limite interior, e que não conhecer esse limite ---- não o conhecer devido à sua proximidade com o Indizível ----- é o dom secreto, e raro, do ser. Que uma latência se mantenha para que possa haver não latência, que um esquecimento seja preservado para que possa haver memória: é isso a inspiração, o transporte suscitado pela musa, que põe o homem em contato com a palavra e o pensamento. O pensamento só está próximo da coisa se se perder em sua latência, se deixar de ver a coisa. Essa é sua natureza de coisa ''ditada'': a dialética latência - não -latência, esquecimento-memória, é a condição que permite à palavra acontecer, e não apenas ser manipulada por um sujeito.


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