sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Mestre da Luz e da Sombra.


Portrait-of-rosalba-peale.


Ácidos e ásperos instrumentos de pintura e gravura, atentos aos corpos sucessivos de Saskia, Hendrickje, Rosalba ou às metamorfoses de Tito, investigando o objeto, os sentidos a vida  imediata ou alegórica : lá fora ou no interior da Bíblia; rejeitando a alternativa do bem e do mal da luz e da sombra, da dualidade e lógica binária da linguagem, sob a tensão constante de um pensamento ordenador do caos. 

Navios da Europa ou do Oriente trazendo ouro, pedras preciosas, telas, tapeçarias e tantos outros símbolos fora da palavra. Depois de abraçar a faixa dos séculos, pela ciência do claro-escuro  divide-a. Represando a vida em si mesmo, explode-lhe a energia. Assiste à crucificação, logo depois aborda o Cristo na tenda de Emaús.

Circundado de credores, expulso dos florins e das categorias do supérfluo, alinha-se entre os contestadores da lógica.  Esgotados os dissensos do filho pródigo e o catálogo dos corpos asteróides ou não, assume ao máximo a densidade da vida psíquica. Procurando em vão, através de numerosos auto-retratos, identificar-se, entrevendo no último instante o moinho do Criador moendo o Tempo, Rembrandt abole a restrita memória dos homens nas ruas aguadas e curvas de Amsterdam para impor-lhes a sua própria, auto-referente, eterna, gigantesca, personalíssima memória.

K.M.

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