sexta-feira, 26 de maio de 2017

USO MACIÇO.


 Para responder de forma mais eficiente à aceleração das mudanças , um uso maciço das novas técnicas digitais de gestão e simulação, de processamento e acesso à informação ''em tempo real '' e de comunicação interativa pode se revelar não só muito útil, como constituir-se em fator crucial para se gozar de ''vantagens estratégicas' no nova dinâmica política e econômica global.   Como tratar enormes fluxos de dados  concernentes a problemas que em última instância estão totalmente interligados em situação de mobilidade decisória. Muito provavelmente, a única resposta é a adoção de estruturas de organização que favoreçam uma verdadeira ''socialização das resoluções de problemas '',  em vez de seu tratamento por instâncias isoladas, com risco de rapidamente se tornarem  concorrentes, serem engolfadas, superadas e expulsas da disputa. O ''tratamento cooperativo  e paralelo das dificuldades '' requer a concepção de ferramentas muito especializadas e inovadoras , não só de filtragem inteligente dos dados, mas de OPERATIVIDADE TOTAL DA REALIDADE a partir de um ou vários centros de sistemas complexos de comunicação transversal.

K.M.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

O mito do veneno que salva.


O mito do veneno que salva.

O MITO DO VENENO QUE SALVA. ARTIGO DE RICARDO ABRAMOVAY

“É difícil encontrar problema contemporâneo mais importante que o resultante dos 14 maiores projetos de exploração de carvão, petróleo e gás pelo mundo afora. Por um lado, cada um deles representa uma bênção a seus países de origem, oferecendo horizonte palpável de solução para a dependência energética (caso dos EUA), para a pobreza (caso da China) ou para a educação (caso do Brasil). Mas, quando se somam essas iniciativas, a bênção se converte em maldição”.

A análise é de Ricardo Abramovay, professor titular da FEA e do IRI/USP, pesquisador do CNPq e da Fapesp, e autor de Muito Além da Economia Verde, ed. Planeta Sustentável, em artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo, 05-02-2013.

Eis o artigo.

É difícil encontrar problema contemporâneo mais importante que o resultante dos 14 maiores projetos de exploração de carvão, petróleo e gás pelo mundo afora. Por um lado, cada um deles representa uma bênção a seus países de origem, oferecendo horizonte palpável de solução para a dependência energética (caso dos EUA), para a pobreza (caso da China) ou para a educação (caso do Brasil).

Mas, quando se somam essas iniciativas, a bênção se converte em maldição: estudo recente divulgado pelo Greenpeace mostra que a queima adicional de combustíveis fósseis decorrente apenas dessas 14 iniciativas vai lançar na atmosfera, em 2020, o correspondente a tudo o que os EUA emitem hoje em gases de efeito estufa.

Como a exploração de combustíveis fósseis exige pesada estrutura de instalação e de distribuição (minas, poços, oleodutos, gasodutos, postos de gasolina), isso significa que esses 14 projetos colocam a humanidade num "ponto de não retorno" (título do trabalho do Greenpeace) com relação às mudanças climáticas.

A dimensão física do sistema de energia baseado em fósseis já é gigantesca. Ela se amplia a cada investimento adicional em carvão, petróleo e gás. Entre 2000 e 2008, por exemplo, a China investiu nada menos de US$ 300 bilhões em novas minas de carvão. A amortização desses investimentos só vai acontecer entre 2030 e 2040. Essas instalações continuarão funcionando até 2060, segundo um importante relatório das Nações Unidas. Investimentos em fósseis têm um impacto sobre a vida social que se prolonga por décadas.

O re sultado é aterrador: seis graus de elevação da temperatura global média até o final do século. É bom lembrar a convergência crescente entre os governos, as organizações multilaterais, a sociedade civil, o número crescente de empresas e a esmagadora maioria da comunidade científica de que o aquecimento derivado da emissão de gases de efeito estufa não deveria ir além de dois graus. O rumo atual é três vezes superior ao limite mencionado quase exaustivamente em conferências e documentos internacionais.

É verdade que novas tecnologias permitem obter combustíveis fósseis cuja exploração até recentemente era inviável: é o caso do gás de xisto e do pré-sal. Não é menos certo que essa exploração pode trazer benefícios econômicos, sociais e at é geopolíticos fundamentais. É possível até que as ameaças ambientais desses projetos não sejam tão grandes quanto o habitualmente alardeado. Na maior parte dos casos, eles são acompanhados de promessas relativas à captação e à armazenagem de carbono ou à garantia de que os conhecimentos atuais impedirão que se repitam tragédias como a que atingiu o Golfo do México em 2010.

Nada disso, entretanto, elimina o mais importante e que, sobretudo no caso do pré-sal brasileiro, não tem ocupado lugar devido no debate público: aumentar nessa proporção o uso de combustíveis fósseis coloca o conjunto da sociedade numa rota cujos perigos são apenas prenunciados pelo furacão Sandy, pelos incêndios florestais na Rússia, em 2010, ou pelo ciclone que chegou a Santa Catarina poucos anos atrás. E muitos outros que virão.

No mundo todo, crescem os investimentos em energias renováveis e em tecnologias explicitamente voltadas a reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Alguns dias após a divulgação do relatório do Greenpeace, a Bloomberg e o Business Council for Sustainable Energy publicaram um estudo que mostra o declínio das fontes tradicionais de energia nos Estados Unidos e uma elevação muito expressiva da participação do gás (que é fóssil, mas não tão sujo quanto o carvão e o petróleo) e de renováveis na matriz energética do país.

O trabalho enfatiza também os ganhos de eficiência no uso da energia por parte da indústria e dos domicílios. Um avanço certamente fundamental que justifica a afirmação: "Uma revolução está transformando a maneira como os americanos produzem, consomem e pensam sobre energia". Esse avanço, entretanto, corre o risco de ser ofuscado pelo estrago advindo da oferta adicional de combustíveis fósseis em diferentes países, mencionados e quantificados no trabalho do Greenpeace.

Em vez simplesmente de surfar na onda do atraso representada por esses investimentos, o Brasil teria muito mais a ganhar caso consolidasse sua matriz energética menos dependente de fósseis que o resto do mundo, mas, ao mesmo tempo, se liderasse uma discussão global cujo ponto de partida só pode ser a pergunta: qual a quantidade de gases de efeito estufa que a economia mundial ainda pode emitir para que haja chance de não ultrapassar o limite de dois graus?

Em 2012, a Agência Internacional de Energia respondeu a essa pergunta com toda a clareza em seu World Energy Outlook: se a civilização tiver prioridade diante da renda dos combustíveis fósseis, não mais que 30% das reservas hoje conhecidas poderão ser exploradas.

O problema é que a viabilidade econômica dessas explorações é incompatível com esse limite. Além disso, como a decisão referente a esses investimentos não é tomada levando em conta seus efeitos globais, cada país, cada empresa dá as costas aos evidentes impactos destrutivos desses projetos e age como se a oferta de combustíveis fósseis e o aquecimento global fossem dois temas independentes um do outro.

Não é sensato que o caminho para a redenção social, para a independência energética ou para qualquer outro objetivo relevante tenha como contrapartida a tão grande ampliação dos riscos a que a miopia dos governos e a ambição das empresas petrolíferas estão expondo a espécie humana.

CSN 68

A relação entre os EStados Unidos e os outros países obviamente remonta às origens da história da América, mas como a Segunda Guerra Mundial foi um divisor de águas, pode-se começar por aí. Enquanto a guerra promovia o enfraquecimento ou a destruição de rivais industriais , aos Estados Unidos ela propiciava enormes benefícios. O território americano jamais fora atacado até então e a produção americana mais que triplicou . Mesmo antes da guerra, os EStados Unidos já eram de longe o país mais industrializado do mundo ---- como o eram desde a virada do século . Mas, naquele momento em especial, possuíam os americanos literalmente 50% da riqueza mundial e controlava os dois lados dos dois oceanos . Nunca houve um período na história em que uma nação tenha tido um controle e uma segurança do mundo tão esmagadores. Aqueles que determinavam a política americana sabiam muito bem que os EStados Unidos sairiam  da SEgunda Guerra como a primeira potência global da história, tanto assim que  , durante e depois da guerra, já planejavam cuidadosamente coo moldar o  mundo pós-guerra. Como tratava-se de uma sociedade aberta , podia-se ler os planos deles, claros e francos. Os estrategistas norte-americanos ---- desde os ligados ao Departamento de EStado até os do Conselho de Relações EXteriores (um dos grandes canais pelos quais líderes empresariais influenciavam a política externa )----- concordaram que o domínio dos EStados Unidos devia ser mantido . Mas haviam diferentes opiniões quanto a ''como '' fazer isso. Numa linha mais rígida , temos documentos da época como o Memorando 68 do Conselho de Segurança Nacional (de 1950). O CSN 68 desenvolveu as opiniões do secretário de EStado Dean Acheson e foi escrito por Paul Nitze, que estava ainda vivo até outro dia mesmo (ele foi um dos negociadores do controle de armamentos de Ronald Reagan ). O CSN 68 propunha uma estratégia de ''empurrar para trás'' , que ''fomentaria as sementes da destruição dentro do sistema soviético, para que se pudesse então negociar um pacto , , em termos propriamente norte-americanos, com a União Soviética . As políticas recomendadas pelo CSN 68 exigiriam sacrifícios e disciplina nos Estados Unidos ---- em outras palavras, gigantescos gastos militares e cortes nos serviços sociais. Seria tbm necessário superar o excesso de tolerância que permitia demasiada dissidência interna e externa. Essas políticas estavam de fato sendo implementadas desde 1949, quando a espionagem dos Estados Unidos na Europa Oriental foi transferida para uma rede liderada por Reinhard Hehlen, que já havia dirigido a inteligência militar nazista na Frente Leste da guerra.

K.M.

Um poder maior do exército ativo.


 Nos parágrafos finais da primeira parte do MANIFESTO COMUNISTA , Marx e Engels propõem dois argumentos distintos sobre as razões pq o domínio da burguesia chegará ao fim . Por u lado , a burguesia é ''incapaz de exercer seu domínio pq não tem competência para assegurar a existência de seu escravo em sua escravidão ,  porque não consegue impedi-lo de  cair num estado tal em que deve nutri-lo, em lugar de ser nutrida por ele. A sociedade NÃO PODE MAIS (!!!!!!!!!!) viver sob o domínio da burguesia ; em outras palavras, A EXISTÊNCIA DA BURGUESIA NÃO É MAIS COMPATÍVEL COM A SOCIEDADE. O avanço da indústria é uma doença cujo agente transmissor é a burguesia; o desenvolvimento da indústria. portanto, abala a própria a base sobre a qual a burguesia assenta sua produção e apropriação. O que a burguesia produz, portanto , são seus próprios coveiros. Sua derrocada e a vitória do proletariado são igualmente INEVITÁVEIS !!!! , ainda que o cenário , no momento, seja o do desamparo proletário e da convulsão proto-constituinte , a associação entre os proletários substituirá luminosamente o avanço da indústria, de modo a minar as bases da burguesia que vive de apropriar-se dos malefícios do progresso industrial nos moldes imperialistas. Qualquer estudioso de convulsões sociais sabe que qualquer perda de legitimidade como resultada da incapacidade de assegurar subsistência de um exército de reserva se traduz, quase que imediatamente, NUM PODER MAIOR (e qualitativamente superior ) DO EXÉRCITO ATIVO. Pois, na visão de Marx , os exércitos ativo e de reserva consistiam do mesmo material humano que se supunha circular, de modo mais ou menos contínuo , de um para o outro. Os mesmos  indivíduos fariam parte do exército ativo hoje e do exército de reserva amanhã, dependendo dos altos e baixos das empresas, linhas e locais de produção . Assim, a ordem burguesa perde legitimidade igualmente entre os membros dos exércitos ativos e de reserva, intensificando-se desse modo a tendência daqueles que por acaso se encontrem no exército ativo de transformarem sua associação no processo produtivo de instrumento de exploração pela burguesia em instrumento de luta contra esta.

K.M.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

CRITÉRIOS EXTERNOS E CONSEQUÊNCIAS PÚBLICAS.

Certas mudanças estruturais no capitalismo mundial  vem tornando há tempos bem mais difícil reconciliar a cobiça empresarial com o interesse público ----- se o definimos de modo a incluir a SAÚDE, a SEGURANÇA , O BEM-ESTAR E CONFORTO DE PELO MENOS SETENTA POR CENTO DA POPULAÇÃO. A empresa global , basicamente porque realiza a maior parte de suas transações consigo mesma, defechou o COUP DE GRÂCE no Mercado. É bem verdade que o poder acumulado pelos oligopólios gigantes em fins da década de 1950 para controlar suprimentos, fixar preços e criar demanda artificiosa tornou um anacronismo  o conceito clássico de Mercado  mesmo antes que as grandes empresas se tornassem  globais. A Globalização, porém ,completou o processo.  No mínimo, quase metade  as transações envolvendo firmas globais americanas são aquelas em que o comprador  e o vendedor são essencialmente os mesmos --- venda entre empresas, empréstimos e outras transferências.  Nestas condições, obviamente que todos perdem a  noção de PREÇO JUSTO  de mercado. DESAPARECEM OS CRITÉRIOS EXTERNOS PARA SE JULGAR AS CONSEQUÊNCIAS PÚBLICAS, E O RESULTADO O FOÇO ENTRE REALIDADE E ESPECULAÇÃO. Passa-se então a operar uma engrenagem em que os empresários dispões de uma ampla gama institucional para maximizar seus lucros às expensas do interesse público. 

K.M.

domingo, 21 de maio de 2017

''O resto é silêncio''


 No mesmo dia em que o Panamá foi invadido, a Casa  Branca anunciou tbm planos (implementados logo em seguida) de suspender todas as proibições de empréstimos ao Iraque . O Departamento de Estado explicou com seriedade  que um  medida objetivava alcançar '' O AUMENTO DAS METAS DE EXPORTAÇÃO AMERICANAS E NOS COLOCAR EM MELHOR POSIÇÃO PARA TRATAR COM O IRAQUE SOBRE O RELATÓRIO DE DIREITOS HUMANOS ...''. O Departamento de Estado  continuou com essa ''farsa'' enquanto Presidente Bush repelia a oposição democrática iraquiana (banqueiros, profissionais, etc ) e bloqueava todos os esforços do Congresso para condenar os crimes atrozes (de seu velho amigo ) de Saddam Hussein. Comparado com os amigos de Bush em Bagdá e Pequim , Noriega (no Panamá) parecia a Madre Teresa de Calcutá. Após a invasão , Bush anunciou  um bilhão de dólares em ajuda ao Panamá, dos quais 400 milhões consistiam em INCENTIVOS ÀS EMPRESAS NORTE-AMERICANAS para exportar produtos ao Panamá , 150 milhões foram para pagar empréstimos aos bancos e 65 milhões foram para outros empréstimos ao setor privado e garantias aos investidores americanos . Em outras palavras, cerca da metade da ajuda foi um presente do contribuinte americano às empresas americanas. Os Estados Unidos colocaram os banqueiros todos de volta ao poder depois da invasão. O envolvimento de Noriega com o tráfico de drogas era trivial se comparado com o deles. O tráfico de drogas, no Panamá, foi SEMPRE conduzido pelos bancos ---- e como o sistema bancário era praticamente TODO desregulamentado -----, isso resultava numa saída natural para o dinheiro do crime organizado.  Essa foi, em linhas gerais, e durante muito tempo, a BASE ALTAMENTE ARTIFICIAL  da economia panamenha e permaneceu assim mesmo quando anunciaram medidas a respeito ----- possivelmente em grau mais elevado ---- após a invasão. As Forças Armadas de Defesa Panamenha tbm foram integralmente reconstituídas exatamente com os mesmo oficiais. Em geral , tudo ficou praticamente na mesma, só que agora os servidores encarregados eram bem mais confiáveis.  (O mesmo, por sinal, se passou com GRANADA , que se tornou um grande centro de lavagem de dinheiro das drogas desde a invasão americana ). A Nicarágua tbm se tornou um importante canal de ligação para o mercado americano de drogas, depois da vitória de Washington na eleição de 1990. A

K.M.





Kremlin aprova nova estratégia de segurança econômica




15 de maio de 2017 ÍGOR RÔZIN,
Medida busca amortecer queda da qualidade de vida no país.

Por telefone, Pútin e Maduro discutem soluções para crise venezuelana
A política russa na Nova Rota da Seda
Metade dos russos sinalizam voto para 4º mandato de Pútin
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ECONOMIA RUSSA, SEGURANÇA, PIB, VLADÍMIR PÚTIN

Estratégia também envolve a criação de um sistema nacional de gestão de riscos Foto:kremlin.ru
Nesta segunda-feira (15), o presidente russo Vladímir Pútin aprovou uma estratégia de segurança econômica que valerá no país até 2030.

O documento, que foi publicado no portal de regulamentos oficiais, define os principais desafios e ameaças para a segurança econômica da Rússia e busca evitar crises na área de recursos, indústria, ciência e finanças.

A estratégia deve proteger a economia nacional de ameaças externas e internas, garantir a soberania econômica da Rússia e a unificar o espaço econômico nacional.

Entre desafios e ameaças, o documento cita os crescentes desequilíbrios na economia e nas finanças globais, o uso de medidas discriminatórias contra setores-chaves da economia nacional, a restrição do acesso a finanças estrangeiras e tecnologias avançadas, os conflitos próximos a fronteiras ou em áreas de interesse econômico da Rússia, mudanças estruturais na demanda global por recursos energéticos e a exposição do sistema financeiro da Rússia a riscos globais.

Os principais objetivos da estratégia são o fortalecimento da soberania econômica, o aumento da capacidade técnico-científica da economia russa a um patamar mundial e a melhoria da qualidade de vida da população.

Crise passou, mas crescimento ainda é baixo na Rússia width=
Crise passou, mas crescimento ainda é baixo na Rússia
O documento cita as principais medidas para atingir esses objetivos: melhorar o clima de investimentos, lutar contra paraísos fiscais, criar o novo mecanismo de resposta às sanções financeiras, otimizar a carga fiscal das empresas privadas, aumentar a eficiência das despesas orçamentais, superar a dependência das importações de equipamentos sofisticados e evitar aquisições hostis.

A estratégia também envolve a criação de um sistema nacional de gestão de riscos, que permitirá  identificar e avaliar os desafios e ameaças existentes e potenciais, bem como planejar medidas políticas na esfera da segurança econômica.

Os principais indicadores da segurança econômica são o índice do volume físico do produto interno bruto (PIB), a porção do PIB da Rússia no PIB mundial, o nível da dívida pública e a participação dos produtos de alta tecnologia no PIB.

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sexta-feira, 19 de maio de 2017

Ensinando uma lição ao Panamá.


 Até o final dos anos1960 o Panamá foi controlado por sua minúscula elite européia, menos de dez por cento da população. Isso mudou em 1968, quando Omar Torrijos, um general extremamente populista, liderou um golpe que permitiu aos negros e aos mestiços pobres partilharem uma fatia mínima do poder, sob sua ditadura militar. Em 1981 , Torrijos foi morto num acidente aéreo. Até 1983 , o governante efetivo do Panamá foi Manuel Noriega, um genocida que havia firmado aliança com Torrijos e a CIA. O governo norte-americano já sabia há anos que Torrijos  estava envolvido com o tráfico de drogas e seus ''controladores'', desde pelo menos 1972, quando o governo de Nixon considerou a possibilidade de ''exterminá-lo''. Contudo, ele continuou na folha de pagamentos da CIA por longo tempo. Em 1983 , uma missão do Senado norte-americano concluiu que o Panamá havia se tornado um grande centro de lavagem de dinheiro e tráfico de drogas. O governo americano, mesmo assim , continuou prestigiando os serviços de Noriega. Em maio de 1986 , diretor do Órgão de Repressão às Drogas elogiou Noriega publicamente num evento por sua ''VIGOROSA POLÍTICA CONTRA O TRÁFICO DE DROGAS ''. Um ano mais tarde, esse mesmo diretor deu BOAS VINDAS À NOSSA ESTREITA RELAÇÃO '' com Noriega. Em agosto de 1987, uma resolução do Senado condenando Noriega foi contestada por Elliott Adams, uma autoridade do Departamento de Estado, encarregado d política norte-americana na América Central . Ainda assim , quando Noriega foi finalmente processado , em Miami, em 1988 , todas as denúncias, exceto uma, eram referentes a atividades praticadas antes de 1984, quando ele ainda era ''nosso'' ''GAROTO'' ...  , ajudando os Estados Unidos contra a Nicarágua, fraudando eleições com a aprovação dos Estados Unidos e geralmente servindo de modo bem satisfat´rio aos interesses do Tio Sam. Isso nada teve haver com a repentina descoberta de que ele foi um gângster e traficante de drogas ---- o que todos sempre souberam. Tudo era muito previsível, como um estudo atrás do outro apontou. Um tirano brutal cruza facilmente a linha do amigo admirável para o vilão, quando comete o ''grave crime'' da independência. O erro mais comum apontado por Washington, durante essas décadas, nos países da América Central , era o de que os tiranos sempre acabavam indo além do roubo aos pobres de seu país, e criavam disputas com Washington. A interferência nos interesses dos atores globais privilegiados sempre acaba provocando a retaliação dos líderes empresariais da região. Em meados de 1980, Noriega já era considerado  culpado por todos esses crimes. E, entre outras coisas,  ele parecia com frequencia não estar disposto a colaborar com os Estados Unidos na guerra dos CONTRAS . A independência de Noriega ameaçava inclusive a independência do próprio Panamá ---- no ano2000, o canal passou de mãos. Erapreciso antes, contudo, assegurar que o Panamá estaria em mãos de pessoas que pudessem e aceitassem ser controladas. Como não se podia mais confiar em Noriega para cumprir as ordens americanas, ELE TINHA QUE SUMIR.  Washington impôs sanções econômicas ue virtualmente destruíram a economia panamenha, deixando a carga principal cair sobre a maioria pobre e não -branca. Essa população tbm passou a odiar Noriega, porque ele era o responsável direto pela guerra econômica (totalmente ilegal ) que estava matando a população do país. Em seguida, tentou-se o golpe militar, mas falhou . . Então, em dezembro de 1989, os Estados Unidos comemoraram a queda do muro de Berlim e o fim da Guerra Fria invadindo o Panamá de modo fulminante,matando centenas e talvez milhares de pessoas. Isso restaurou imediatamente o poder da elite branca e rica  , que havia sido destituída pelo golpe de Torrijos, bem a tempo de assegurar um governo dócil na mudança administrativa do Canal, em 1 de janeiro de 1990. Durante todo esse processo, a imprensa  americana foi comandada por Washington, selecionando vilões segundo as necessidades dos estrategistas republicanos. Ações anteriormente perdoadas tornaram-se crimes. Por exemplo , em 1984, a elição presidencial panamenha foi vncida por Arnulfo Arias. A eleição foi roubada por Noriega com violência e fraudes consideráveis.  Mas Noriega ainda não havia se tornado desobediente. ELE ERA O ''NOSSO'' HOMEM NO PANAMÁ!!!! , e o partido de Arias foi julgado por ter perigosos elementos de ''ultra-nacionalismo'' . O governo do Presidente Reagan aplaudiu a violência e as fraudes de Noriega , e mandou para lá o Secretário de Estado, George Shultz , para legitimar a eleição roubada e elogiar a versão da ''DEMOCRACIA DE NORIEGA''  como um modelo perfeito para os errantes sandinistas.  A aliança Washinton -mídia e os principais jornais abstiveram-se completamente de criticar a eleição fraudulenta no Panamá (incluindo os auto-denominados avatares dos direitos humanos como a Times ) mas consideraram como totalmente sem valor as eleições sandinistas daquele mesmo ano ---- que forma muito mais livre e honestas ---- simplesmente porque não puderam ser controladas. Em maio de 1989 , Noriega novamente roubou as eleições, dessa vez  de um representante da oposição empresarial ,Guilherme Endara. Noriega usou menos violência do que em 1984. Mas o governo Reagan havia já sinalizado estar CONTRA Noriega. Segundo o roteiro previsível , a imprensa americana expressou sua indignação ante o fracasso dele em seguir ''nosso'' ''elevado padrão democrático''. Aí a imprensa começou com sua histeria sobre Direitos Humanos só para vender mais. Anteriormente não tinham dado nenhuma atenção. Na época da invasão do Panamá, em dezembro de 1989, a imprensa já havia satanizado Noriega devidamente, transformando-o num monstro pior que Átila, o rei dos Hunos (basicamente, a mesma satanização que fizeram com Kadafhi, na Líbia ---- algo muito eficiente em termos de induzir decisões em Washington )  . Ted Troppel jurava que ''NORIEGA PERTENCIA ÀQUELA CONFRARIA ESPECIAL DE VILÕES INTERNACIONAIS, homens como Kadhafi , Idi Amin , Aiatolá Khomeini, que os americanos amam odiar ---- a recíproca é verdadeira '' . Dan Rather (um histérico total) colocou-o no topo  da lista de ladrões, traficantes e da ''escória do mundo '' .Mas na verdade, Noriega foi um bandido de calibre bem menor ---- exatamente como era quando trabalhava para CIA. Em 1988, o Americas Watch publicou uma reportagem sobre Direitos Humanos no Panamá , mostrando um quadro bem desolador. Mas como os relatórios e as informações mostram claramente,  o registro de violações de Noriega aos diretos humanos não eraem nada diferente dos de outros ''clientes ''do Tio Sam ... tomemos o caso de Honduras. Embora não fosse  um governo terrorista e assassino como os de  El Salvador e da Guatemala,  os abusos contra direitos humanos lá, eram muito provavelmente piores do que no Panamá. De fato, haviaum batalhão treinado pela CIA, em Honduras , que por si só já havia matado mais que o próprio Noriega. Ou então consideremos os ditadores apoiados pelos Estados Unidos na época, um erro pior qu o outro : Trujillo, na República Dominicana ; Somoza, na Nicarágua ; Marcos, nas Filipinas; Duvalier, no Haiti ; e uma série de outros gângster da América Central durante a década de 1980. Todos eram mais brutais que Noriega.

K.M.




terça-feira, 16 de maio de 2017

Science and Civilization in China.




Essa POESIA DOS FATOS  e a realização das milagrosas delicadezas da percepção na ciência contemporânea impregnam minha leitura de maneira escancarada. Há nela pontos nervosos que pressionam o futuro humano. Não por acaso, Broch e Canetti eram escritores treinados nas ciências exatas e matemáticas. A presença profunda de Paul Valery  em nossos sentimentos sobre a vida  após a morte da cultura é inseparável  de sua própria habilidade e sensibilidade poética única e alternativa ao ''resto'' , às ''outras metafísicas'' da pesquisa matemática e científica . As indagações de Queneau e de Borges , que estão entre as mais  estimulantes das letras modernas, têm por trás de si a álgebra e a astronomia. E há ainda um exemplo mais amplo, mais central . O único sucessor real de Proust foi  Joseph Needham. A ''La recherche du temps perdu'' e Science and Civilization in China, representam dois vôos prodigiosamente sustentados, controlados , do intelecto-re-creativo. Exibem aquilo que Coleridge denominou de ''poderes esempláticos '', aquela multifacetada coerência de projeto que constrói uma grande casa da linguagem para que a memória e e a conjectura nela habitem. A China da apaixonada recomposição de Needham ----- moldada interiormente, de maneira tão acentuada, antes que ele saísse em busca de sua verdade material ----- um lugar tão intrincado, tão iluminado por sonhos, quanto  o caminho de Combray. O relato que Needham, em um ensaio ''provisório'', fez sobre os erros de interpretação e a descoberta final da verdadeira simetria hexagonal do cristal  de neve tem o mesmo exato sabor de revelação múltipla transmitido pela descrição que o narrador faz do campanário de MartinVille. Ambas as obras são uma longa dança da mente.

K.M.

sábado, 13 de maio de 2017

''Céleri Remoulade ''

''Ora viva, Winner (!) '', disse Mr. Green, numa voz que prometia os melhores martinis do mundo, jantares opíparos e teto sob o qual pernoitar, caso Winner se sentisse muito cansado para voltar para casa.  '' Amanda, esse é Winner (!) ''

''Prazer '', disse ela afavelmente.

Era precisamente o que Winner estava esperando : loira, alta e muito afável, suficientemente cerimoniosa para não permitir intimidades e com a mesma expressão de '' sejemos todos bons vizinhos'' que caracterizava igualmnte Mr. Green. Este os conduziu então à uma sala de estar .  Sim, ele já tinha estado com Dylan.

''Ele trabalha no ramo de seguros '' , anunciou Mr. Green, e Winner pensou que ele já andara bebendo novamente ou estava apenas ansioso, pq  Winner já descrevra-lhe pormenorizadamente a agência de publicidade onde trabalhava.

''Talvez se pudesse alegar , em sua defesa '' , continuou Winner '' que a vida em certas fases realmente anda rápido demais. Digo: com incrível rapidez. Mas o dia em que precisamos começar nossa última vontade, antes de largarmos seus restos, está muito à nossa frente. Winner via isso com uma nitidez peculiar porque agora já passara quase um ano e meio, desde sua liberação da clínica. Pouca coisa havia mudado, desde então . Eu apenas esperava, enquanto movia-me de uma lado para o outro daquela atividade'' , disse Winner...

''Mas não é coisa de grande importância '', disse, modestamente , à Miss Green .

Entrou um criado exibindo uma bandeja de martinis.

''Mr. Dylan já tinha estado antes aqui em casa '', disse Tom , o garçom, recordando Mr. Green.

''Sim, mas não me lembro de te-lo visto ''.

''É de New York. Basta ''

Sorriram todos.

''Não, ele é de Boston '', disse Winner.  E era verdade .

Meia hora depois, Winner pensou : porque os Green estavam insistindo tanto naqueles martinis ? O jantar foi servido. Mesa para três, com velas, e um jogo de guardanapos azuis  e uma galinha fria com molho verde.  Antes, porém, houve ''céleri remoulade'' . Winner adorava ''Céleri Remoulade ''.

''Dylan tbm gostava '', disse Winner '' Ele sempre teve prazer em ''falar demais '' à mesa , vivendo com aquela exasperante tenacidade de um pescador que baixa as redes num rio vazio , pois não costumava fazer nada que correspondesse à pessoa que era, e agia assim intencionalmente, com sabedoria. O resultado final era bem aproveitável. Ele costumava, como se diz num certo tipo de literatura policial ''Esperar atrás de sua própria pessoa ''.

''Claro '', disse Mr. Green ''na medida em que essa palavra designa a parte de um ser humano formada pelo mundo e o curso da vida ''.

Winner riu.

''Grandes provações são privilégio de grandes naturezas''.

''Gostaria de acreditar nisso, mas não é correto '' , disse Mr. Green

''Eu sei que não '', disse Winner, e riu mais.

''As mais simples naturezas nervosas tbm têm suas crises ''.

''Na verdade, acho que não restava mais nele nada daquele grande abalo que não fosse o resto inabalável que possuem todos os heróis ou vilões, que não é coragem , nem vontade , nem auto-confiança. É simplesmente a capacidade de agarrar-se tenazmente em si mesmo ''  , disse Winner.

K.M.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Formas de governo atuais.

As formas de governo atualmente em uso estabilizaram-se (quem não tem esse sentimento ?) numa época em que as mudanças técnicas, econômicas e sociais eram bem menos rápidas que hoje . Os grandes problemas políticos do mundo contemporâneo referem-se ao equilíbrio geopolítico,  ao equilíbrio ambiental , às mutações da economia e do trabalho , ao desenvolvimento dos países do hemisfério sul, à educação, à miséria, à manutenção do laço social, etc . Ninguém nunca possui soluções simples e definitivas para resolvê-los . Uma abordagem séria dessas questões exige provavelmente a mobilização de uma grande variedade de competências, muitas das quais difíceis de serem exploradas com competência , e o tratamento contínuo de enormes fluxos de informação e a guerra velada da contra e da pseudo -informação. Além disso, os problemas em questão estão todos, em maior ou menor medida , interconectados em um espaço mundializado. Enfim, sua resolução exige negociações entre atores muito numerosos, de porte , cultura e interesses muito diferentes  e a curto prazo ainda mais heterogêneos. Praticamente nenhum sistema de governo contemporâneo foi concebido de modo a responder adequadamente à tais exigências. Os procedimentos de decisão e avaliação em uso hoje foram propostos para um mundo relativamente estável  em um a ecologia  uma semiótica da comunicação ''simples '' ---- o que se tornou impossível após oceanificação das informações.  O hiato entre o caráter do fluxo diluviano de informações e os modos tradicionais de decisão e orientação faz-se, hoje em dia especialmente, muito evidente.

K.M.

Tomahawk.

Não sabia que na flotilha de de apoio dos porta-aviões norte-americanos os destróieres  estavam equipados com misseis Tomahawk. São os mesmos que atingiram a Síria. 

K.M.

Ensinando uma lição à Guatemala.


 Se houve um lugar na América Central que obteve alguma cobertura pela mídia norte-americana antes da revolução sandinista, este lugar foi a Guatemala. Em 1944 , uma revolução derrubou um tirano odioso, resultando daí o estabelecimento de um governo democrático que se inspirou basicamente no New Deal, de Roosevelt . Nos dez anos de interlúdio democrático que se seguiram, houve o início de um bem sucedido desenvolvimento econômico independente.  Isso causou uma verdadeira histeria em Washington. Eisenhower e Dulles advertiam que ''a autodefesa e a autopreservação dos Estados Unidos estavam em jogo, a menos que o vírus fosse exterminado. Os relatórios da Inteligência americana da época eram muito francos quanto ao perigo representado pela ''democracia capitalista '' na Guatemala. Um memorando da CIA, de 1952, descreveu a situação da Guatemala como ''adversa ao interesses dos Estados Unidos ', devido à ''influência comunista ... baseada na defesa das reformas sociais e da política nacionalista''. O memorando advertia que a Guatemala ''tinha recentemente aumentado seu apoio às atividades comunistas e anti-americanas em outros países da América Central. Um primoroso exemplo citado foi  uma alegada doação de U$ 300.000 a José Figueres. Como já foi mencionado anteriormente, José Figueres foi o fundador da democracia na Costa Rica e  o  principal líder democrático da América Central. Embora ele  tbm tenha contribuído entusiasticamente com a CIA e tenha chamado os Estados Unidos de ''o porta-bandeira de nossa causa '', além de ter sido considerado pelo embaixador norte-americano na Costa Rica como ''a melhor agência de propaganda que a United Fruit Company poderia encontrar na América Latina ''. Figueres tinha um estilo  independente e, portanto , não era de tanta confiança quanto Somoza ou outros bandidos à serviço de Washington . Na retórica política dos Estados Unidos, isso possivelmente faria dele um ''comunista '', na época.  Então, se a Guatemala havia dado dinheiro para ajudá-lo a vencer as eleições, isso mostrava que a Guatemala ''apoiava os comunistas ''. Pior , o mesmo memorando da CIA continuava , as ''diretrizes radicais e nacionalistas'' do governo capitalista democrático, incluindo a ''perseguição dos interesses econômicos estrangeiros, especialmente os da United Fruit Company , haviam ganho  ''o apoio da maioria dos guatemaltecos''. O governo estava obtendo a ''mobilização dos camponeses até aqui inertes '' , e minando, ao mesmo tempo , o poder dos ''grandes latifundiários ''. Além disso, a revolução de 1944 tinha despertado  (ainda com a CIA) ''um forte movimento nacional para libertar a Guatemala da Ditadura Militar, do 'atraso social ' e do 'colonialismo econômico'', que haviam sido normas do passado e ''inspirado a lealdade e se ajustado ao interesse da maioria dos guatemaltecos politicamente conscientes''. As coisas tornaram-se ainda piores depois  que um bem-sucedida reforma agrária começou a ameaçar a ''estabilidade '' nas nações vizinhas, onde a população sofrida não poderia deixar de notar tais medidas. A situação ficou horrenda. A CIA empreendeu um bem0-sucedido golpe. A Guatemala tornou-se o açougue da América Central, com a intervenção regular dos Estados Unidos sempre que as coisas ameaçavam sair fora da linha.  No fim da década de 1970, as atrocidades estavam novamente alcançando limites absurdos, provocando protestos pelo mundo. Mesmo assim ,ao contrário do que muitos creem , a ajuda militar para a Guatemala continuou virtualmente a mesma, sob o governo dos ''direitos humanos '' de Mr. Carter. Os aliados americanos tbm se voltaram para a causa ---- notadamente Israel, um ativo estrategista de Washington , em parte ao seu sucesso em promover o terrorismo de Estado. Com Reagan , o apoio ao genocídio na Guatemala tornou-se absolutamente fanático. O mais radical dos Hitlers guatemaltecos até então apoiados pelos Estados Unidos, Rios Montt  ,foi saudado publicamente por Ronald Reagan (risos ) como um ''apóstolo dedicado à democracia '' . No início dos anos 1980, os amigos de  Washington trucidaram dezenas de milhares de guatemaltecos, a maioria índios do planalto , além de outros incontáveis casos de tortura e violência. Grandes regiões, regiões inteiras da Guatemala foram dizimas desse modo sistematicamente. Em 1988 , um jornal guatemalteco aberto há pouco tempo, chamado , La Época , foi explodido por terroristas ligados ao governo, cujas operações tornavam-se cada vez mais perfeitas.  Na época, a mídia norte-americana estava muito preocupada com o fato de um jornal financiado pelos Estados Unidos na Nicarágua, La Prensa --- que propunha abertamente a derrubada do governo e apoiava  o exército terrorista dirigido pelos Estados Unidos ---- ter sido forçado a deixar de lançar algumas edições devido à falta de papel de imprensa. Isso indignou algumas edições em NYC . O ''afeminado'' Washington Post agora bradava aos quatro cantos da América, com sua vozinha frequentemente surtada, contra o  ''TOTALITARISMO SANDINISTA ''. Por outro lado, a destruição do La Época não despertou interesse algum e nem foi noticiada nos EUA, embora o fato tenha sido bem conhecido pelos jornalistas norte-americanos.  Naturalmente , os meios de comunicação de massas norte-americanos não esperavam noticiar que as forças de segurança, financiadas pelos Estados Unidos, haviam silenciado a única voz independente na  Guatemala, que havia tentado , poucas semanas antes, se levantar .  Um ano depois , um jornalista do La Época, Júlio Godoy, que havia fugido após a explosão do jornal, voltou à Guatemala para uma breve visita. Quando voltou para os Estados Unidos , ele comparou a situação da  América Central com a Europa Oriental .Para ele, os europeus orientais tinham ''mais sorte que os centro-americanos '', Godoy escreveu porque :

''Enquanto em Praga o governo imposto por Moscou degradaria e humilharia os reformistas , o governo da Guatemala, criado por Washington , os assassinaria. Isso ainda continuou por muito tempo , num virtual genocídio que até então já havia feito mais de 150.000 vítimas, aquilo que a Anistia Internacional chama de ''um programa governamental de assassinato político ''. 

A imprensa ou se conformou ou , como no caso do La Época, desapareceu. ''Somos tentados acreditar '', continua ainda Godoy '' que algumas pessoas na Casa Branca rendem homenagens aos deuses astecas, oferecendo o sangue centro-americano ''. E cita ianda um diplomata da Europa Oriental que afirmara : 

''Enquanto os norte-americanos não mudarem sua atitude na região, não haverá aqui espaço para a verdade ou para a esperança. ''

Suspendendo-se no vazio ,

K.M.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Ensinando uma lição à Nicarágua.


Não apenas El Salvador foi ignorado pelas principais correntes da mídia norte-americana durante a ´decada de 1970. Nos dez anos anteriores à derrubada de Anastasio Somoza, em 1979, a televisão norte-americana --- todas as redes ---- dedicaram exatamente UMA HORA à Nicarágua, inteiramente relacionada ao terremoto de Manágua, em 1972 . DE 1960 a 1978, o The New York Times publicou três editoriais dobre a Nicarágua. Não porque nada estivesse acontecendo ali, mas sim porque qualquer coisa que lá estivesse acontecendo não seria digno de registro . A Nicarágua não foi motivo de preocupação enquanto o regime tirânico de Somoza  não foi desafiado . Quando se regime foi desafiado pelos sandinistas, no fim dos anos 70 , os Estados Unidos tentaram instituir o chamado ''Somozismo em Somoza '' . Isto significava que todo o sistema corrupto deveria ser mantido intacto , mas com outra pessoa na liderança. Como isso não funcionou , o então Presidente Jimmy Carter tentou manter a Guarda Nacional de Somoza como uma base para potência norte-americana. A Guarda Nacional sempre fora notoriamente cruel e sádica. Em junho de 1979 , levou àcabo uma série maciça de chacinas na guerra contra os sandinistas, bombardeando bairros residenciais em Manágua,  matando dezenas de milhares de pessoas. Nessas alturas, o embaixador norte-americano enviou um telegrama à Casa Branca dizendo que seria aconselhável mandar a guarda Nacional suspender o bombardeio, porque isso poderia interferir na política de manter a Guarda no podr e deixar os  sandinistas de fora. Nosso embaixador na Organização dos Estados Americanos (OEA ) tbm falou  a favor do Somozismo sem Somoza. Mas a OEA rejeitou prontamente a sugestão . Poucos dias depois, Somoza voou para Miami com o que restava do Tesouro Nacional , e a Guarda desmoronou . O Governo Carter levou os comandantes da Guarda para fora o país em aviões com sinais da CruzVermelha (um crime de guerra ) e começou a reconstituí-la nas fronteiras da Nicarágua. Os Estados Unidos tbm usaram a Argentina como intermediária. Naquela época, a Argentina estava sob o comando de generais, que deram uma folga na tortura e no assassinato de sua  própria população para ajudar a restabelecer a Guarda ---logo rebatizada de os CONTRAS  ou GUERREIROS DA LIBERDADE. Reagan utilizou-os para lançar uma guerra terrorista em grande escala contra a Nicarágua, combinada com uma guerra econômica, que foi muito mais letal ;. Ainda por cima os Estados Unidos intimidaram outros países para não mandarem ajuda. Mesmo assim , apesar dos níveis astronômicos da ajuda militar, os Estados Unidos não conseguiram criar um força militar estável  nem viável na Nicarágua. Isso foi realmente notável . .Nenhuma guerrilha no mundo obteve tantos recursos, mesmo remotamente, quanto os CONTRAS obtiveram dos EUA.  Com tais recursos, era possível iniciar uma guerrilha nos próprios Estados Unidos.  Mas porque o Tio Sam não foi tão longe na Nicarágua ? A OXFAM explicou assim : ''A Nicarágua foi  excepcional no esforço e no firme compromisso  daquele governo .. em melhorar as condições de vida do povo e estimular sua participação ativa no processo de desenvolvimento. Dos quatro países centro-americanos onde a OXFAM teve presença significativa (El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua ) somente na Nicarágua houve um real esforço em resolver as injustiças da posse da terra e em estender os serviços médicos, educacionais e agrícolas às famílias de camponeses pobres.No início da década de 1980, o Banco Mundial considerou ''alguns setores daNicarágua mais bem extraordinariamente bem desenvolvidos do que qualquer outra parte do mundo ''. Em 1983 , O Banco Interamericano de Desenvolvimento  concluiu que '' a Nicarágua fazia notáveis progressos no setor social e estava lançando as bases para um desenvolvimento socio-econômico a longo prazo''. O sucesso das reformas sandinistas aterrorizaram, então ,  os estrategistas norte-americanos . Eles sabiam que ''pela primeira vez, a Nicarágua tinha um governo que realmente se interessava pelo povo'', conforme afirmou José Figueres, pai da democracia na Costa Rica. O ódio provocado pelos sandinistas por estes tentarem dirigir recursos aos pobres (sendo bem sucedidos nisso ) foi realmente magnífico de se observar . Todos os estrategistas políticos norte-americanos compartilharam esse ódio simultaneamente, atingindo um verdadeiro frenesi acefalado , que clamava por sangue diariamente na televisão norte-americana.  Nos idos de 1981, um membro da Secretaria de Estado  alardeou que nós iríamos ''transformar a Nicarágua na Albânia da América Central '' isto é , pobre, isolada, e politicamente radical, quase intratável, de modo que o sonho sandinista de criar um modelo novo  e exemplar para a América Latina seria um fracasso. George Schultz chamou os sandinistas de ''UM CÂNCER  QUE TINHA QUE SER DESTRUÍDO ''. Na outra ponta do Senado , um outro líder político, o liberal Alan Cranstron, declarou que se não fosse possível destruir os sandinistas, teríamos então de deixá-los ''APODRECEREM NO PRÓPRIO PUS ''. Então, os Estados Unidos lançaram um triplo ataque contra a Nicarágua. Primeiro, exercendo uma extrema pressão sobre o Banco Mundial eo Banco Interamericano de D.  para suspenderem todos os projetos de assistência ao país.  Segundo, lançaram a guerra dos CONTRAS juntamente com uma guerra econômica ilegal para acabar com a OXFAM e o que ela chamou de ''AMEAÇA DO BOM EXEMPLO ''. Os terríveis ataques terroristas dos CONTRAS sob ordens de Washington  , em direção aos ''alvos leves ''contribuíram, juntamente com o boicote econômico, para o fim de toda e qualquer esperança de desenvolvimento econômico e social. O terrorismo norte-americano  assegurou que a Nicarágua não desmobilizasse seu exército e enviasse seus parcos e limitados recursos para a reconstrução das ruínas, que foram deixadas pelos ditadores  apoiados pelo Pentágono e pelos crimes dos reaganistas. Uma das mais respeitáveis correspondentes da América Central, Julia Preston  , escreveu, para o Boston Globe , que ''autoridades do governo afirmaram estar contentes em ver os CONTRAS  debilitarem os sandinistas, forçando-os a desviar seus escassos recursos para a guerra e afastando-os, assim, dos programas sociais ''. aquilo era fundamental, já que os  programas sociais eram o coração de um bom exemplo que poderia contaminar outros países da região e corroer o sistema americano de Hegemonia mundial ---- digo : do roubo e da exploração assassina em todo o mundo. Recusaram então ajuda na hora da catástrofe de 1972, após o grande terremoto. Os Estados Unidos enviaram uma considerável quantia de recursos em auxílio à Nicarágua, mas que foi roubada por Somoza. Mas em 1988 , quando um desastre natural -- o furacão Joan ---- abalou a Nicarágua, o Tio Sam não enviou nem um centavo.A devastação do furacão mais a perspectiva bem-vinda de fome em massa e danos ecológicos a longo prazo ajudaram os esforços americanos. O Tio Sam queria que os nicaraguenses morressem de fome para que pudesse depois acusar os sandinistas de má gestão econômica. Já que não estavam sob controle, deveriam sofrer até a morte. 

K.M.


terça-feira, 9 de maio de 2017

'Tradables X'

O investimento tecnologicamente inovador , a partir do domínio do conhecimento em física, química e outras ciências, que se caracterizam como disciplinas que transcendem as necessidades de uma linha de produto e , assim , abrem o horizonte de participações multi-setoriais. Isto é , não se trata mais, apenas, da economia de escala mas também da economia de escopo, novos produtos e novos processos, não necessariamente relacionados com a base industrial que deu origem à corporação. AS ''barreiras de entrada ''nos ramos industriais e estruturas de mercado (diferentes tipos de oligopólio ) persistem para empresas e ''firmas individuais '', mas não para estas corporações que se constituem em contestadoras e desafiantes  --- chalengers --- daquelas barreiras a partir de sua força tecnológica, financeira e organizacional (.) A produção dos''tradables X'' é um alvo fundamental desses global players que vão configurando um novo tipo de empresa multinacional, cujas características se diferenciam inclusive do antigo modelo norte-americano de replicar suas plantas no exterior. No novo perfil  ''pró-comércio'' a montagem final do produto pela multinacional se dá  na economia nacional da corporação, que então o ''exporta''. Estes tradables estão presentes, com igual importância, no comércio intra e inter-corporações multinacionais.

K.M.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Just as I used to say...

As finanças gerais estão representadas por um fator Fi em que se incluem variadas operações. Há as manobras estritamente patrimoniais pelas quais buscam ganhos de capital através do mercado de bolsas, na negociação de ações de empresas contidas em seu portfólio e que encontram no market for corporate control um espaço apropriado de ampliação . Há aplicações em outros títulos financeiros, práticas de arbitragem em geral nos mercados de crédito e decapitais mundialmente integrados. Ocorre o financiamento a empresas vinculadas a seus networks técnico-produtivos, tais como fornecedores e cooperadores, no desenvolvimento de tecnologia.  As operações especulativas com moedas explicam em boa parte o  crescimento das operações cambiais além das necessidades meramente comerciais. Dedicam-se à montagem de esquemas de ''funding'' para seus investimentos que otimizem as oportunidades oferecidas pelo crédito  bancário , pelo mercado de securities  e pelos fiscos dos países para onde dirigem seus investimentos. As estratégias de depreciação do capital fixo tbm aqui se incluem , na medida em  que implicam a inserção, nos preços produtivos, de um componente financeiro específico. E finalmente , a montagem de esquemas temporais adequados , no plano das posições devedoras-credoras, ativas-passivas , segundo as oportunidades oferecidas pelos vários segmentos dos sistemas financeiros nacionais em que atuam e do mercado de capitais mundialmente integrado.

K.M.

Inovações históricas.

Ernest Chandler, em sua pesquisa sobre as grandes empresas modernas estabelece seis traços que constituem , segundo ele, verdadeiras inovações históricas no comportamento empresarial , das quais três  remetem-nos justamente à lógica financeira geral que nos ocupa aqui :''Dentre as várias mudanças recentes no crescimento , gestão e financiamento da moderna empresa industrial, , seis não tem precedentes históricos. Estas incluem : a adaptação a uma nova estratégia de crescimento ---- aquela de ingressar em novos mercados em que as capacidades organizacionais  originárias da empresa não oferecem vantagens competitivas ; a separação gerencial entre cúpula administrativa da corporação e a gestão intermediária nas divisões operacionais ; o amplo e continuado desapossamento (divestiture) de unidades operacionais ; a compra e venda de corporações como um negócio específico em si mesmo ; o papel representado por gestores de portfólio nos mercados de capitais ; e a evolução desses mercados de capitais para facilitar a emergência do que tem sido designado como um mercado para o controle de corporações . As três últimas representam para Chandler expressões das finanças como um fim em si mesmo, na estratégia das corporações, enquanto as três primeiras refletem um novo perfil de decisões competitivas em produção e tecnologia. 

K.M.

Causas remotas...


Os processos especulativos, geralmente se iniciam com a expansão ex-nihilo do crédito bancário . Os bancos criam moeda a partir de seus empréstimos e, após algum tempo , com o crescimento da demanda efetiva de mercadorias e ou ativos financeiros seus preços começam a aumentar. Este aumento de preços  propicia o aparecimento de novas oportunidades de lucro e atrai mais empresas e investidores. Assim instaura-se um círculo, em que os novos investimentos levam a aumentos de renda, que estimulam outros investimentos e outros aumentos de renda. Nesse momento, é muito fácil identificar a ''mania especulativa '' , quando boa parte do mundo parece estar louca, no sentido intelectual . Mas devemos imitar um pouco do mundo que temos diante de nós, ou corremos o risco de termos nossas vozes fagocitadas pela irracionalidade de seus processos. À medida que o BOOM especulativo prossegue, as tacas de juros, a velocidade da circulação da moeda e os preços dos ativos continuam aumentando . Em determinado estágio, alguns insiders decidem vender seus títulos e pegar seus lucros. Os preços indicam sinais de queda., podendo iniciar-se um (especula-se) período de dificuldades financeiras. Uma corrida por liquidez --- com consequencias deletérias sobre os preços dos ativos, das mercadorias e dos títulos. A liquidação pode ocorrer de forma ordenada, não existe nenhuma necessidade racional de ''pânico'' .Sempre haverá dinheiro suficiente. Calma. Apenas deve-se controlar a expansão do crédito. As outras causas são em geral incidentes que ''abalam '' a confiança do sistema, e projeta os receios dos investidores de forma desarticulada na tela. Deslocam-se das commodities industriais, ações, imóveis, letrasde câmbio, notas promissórias, moedas estrangeiras --- e correm de volta para a moeda corrente. Talvez não seja perda de tempo lembrar que os sistemas monetários não possuem ''âncoras'' , e que sua estabilidade depende da reprodução gradual do passado no presente, como forma de calcular e precificar o futuro.  A instabilidade é da natureza das economias monetárias e acriação endógena de moeda pelos agentes privados (bancos, empresas) constitui um modo de alavancar e prolongar a fase de expansão do ciclo, quando perspectivas de lucros crescentes sustentam a confianças dos agentes. Com perdão do ''prosaico'' , existe uma velha metáfora nos mercados financeiros que diz : Os bancos lhe fornecerão o guarda-chuva se fizer sol,  mas o tomarão de volta se começar a chover . Correntes do ''Mainstream'', os adeptos das ''Expectativas racionais : A NOÇÃO DE QUE OS MERCADOS DE ATIVOS SÃO COMPOSTOS, OU MESMO DOMINADOS POR ESPECULADORES INTELIGENTES, BEM INFORMADOS E COM BONS FINANCIAMENTOS, QUE FAZEM COMPLICADOS CÁLCULOS PASSO APASSO, NÃO É EXATA. ESSE NÃO EXATAMENTE O SEU ''MODO DE SER ''. 

K.M.

ÂNCORA FISCAL.


Outra circunstância recomenda de forma categórica a ênfase no ajuste fiscal. A maioria das estabilizações realizadas em condições de inflação alta e crônica resultou, historicamente, sobretudo em suas etapas iniciais, em significativa expansão da demanda agregada, especialmente do consumo privado, em resposta à queda do imposto inflacionário, à recomposição do crédito e outros fatores relevantes.  Muitas experiências históricas mostram também que uma expansão excessivamente rápida da demanda interna pode ter consequências negativas para o suposto programa de estabilização. Pelo menos a médio prazo, a forma mais eficiente de se conter a expansão da demanda ,dentro de limites consistentes com a consolidação da estabilidade, não é o recurso à valorização cambial ou à política de taxas de juros elevadas, mas sim a implementação de uma política fiscal rigorosa.  Deste ponto de vista, o ajuste fiscal requerido é, tudo o mais constante, tanto maior for o impulso expansivo desencadeado pela própria estabilização inicial no nível geral dos preços. E convém ainda frisar que a contenção fiscal é a forma de restringir a demanda que mais se combina com a preocupação de assegurar uma posição externa sólida ---- fortalecer a ''âncora fiscal '' é o que permite, em última instância, conferir uma base sólida à estabilização de uma determinada economia e libertá-la de qualquer perigosa dependência da valorização cambial e de taxas de juros internas excepcionalmente elevadas.

K.M.

OVERSHOOTING.


Para inserir a questão tributária no contexto macroeconômico, é preciso, antes de mais nada, reconhecer que o enquadramento dos problemas financeiros do Estado assume uma importância central para qualquer economia moderna integrada no comércio mundial, ainda mais se esta procura emergir de um longo período de estagnação e instabilidade monetária. Nessas condiçoes, a consolidação do processo de estabilização  pressupõe que o setor público se mostre capaz de prescindir , de forma duradoura, do financiamento inflacionário obtido junto aos Bancos Centrais ou pela colocação de títulos públicos de curtíssimo prazo no mercado.  Mais do que isso: após um longo período de inflação muito alta ,marcado por tentativas sucessivas e fracassadas de estabilização  e pela perda da confiança na moeda nacional e no Estado responsável pela sua emissão e destruição. é possível que a recomposição do padrão monetário exija, entre outras coisas, um ''overshooting ''ou um sobre-ajustamento fiscal nas etapas iniciais do processo de estabilização. Na impossibilidade de reestruturar o serviço das dívidas internas ou externas, isso significa ter que gerar um superávit primário (isto é , um resultado positivo no orçamento excluindo despesas líquidas de juros) superior ao que seria requerido para sustentar a estabilidade no longo prazo. Um overshooting inicial do superávit primário pode ser necessário por diversas razões, e o peso de cada uma delas depende muito das circunstância específicas de cada país. Uma razão recorrente é que a oferta de financiamento não inflacionário ao setor público, de fontes privadas domésticas ou do exterior, costuma demorar a voltar aos níveis anteriores à crise inflacionária. Por maiores que sejam os esforços de ajustamento e de busca de respeitabilidade por parte dos gestores da política econômica, a credibilidade e o acesso ao crédito  de prazo mais longo tendem a se restabelecer lentamente, Muitas vezes os programas de estabilização não contam com qualquer garantia firme de apoio financeiro  internacional em escala significativa, como é o caso dos programas realizados em grandes economias. A necessidade de atuar sobre as expectativas pessimistas e reverter a desconfiança constitui ela mesma uma razão adicional para que seja indispensável, ou pelo menos recomendável , produzir algum overshooting na área fiscal. A descrença generalizada na sustentabilidade de um programa de estabilização pode muito facilmente converter-se numa ''profecia auto-realizada'' , ao dar lugar a comportamentos defensivos que elevem os custos sociais e políticos associados ao programa de ajustamento (como a Troika costuma exigir) e acabam por inviabilizar, na prática,  a consolidação da estabilidade e a retomada sustentada do desenvolvimento. Nesse caso, o overshooting inicial do superávit primário constituiria uma espécie de ''fuga para frente'', uma tentativa de impedir que a cristalização de expectativas desfavoráveis torne politicamente insustentável o programa de estabilização. 

K.M.

domingo, 7 de maio de 2017

O NOVO ENDAKA (conclusão)


O NOVO ENDAKA , apesar de passageiro , assustou os japoneses . A manutenção dos mega-superávits comerciais com os Estados Unidos e os saldos crescentes com o Sudeste da Ásia, aliado ao movimento de venda de ativos no exterior, provocaram ,entre 1994 e 1995, um intensa flutuação do iene. Na primeira fase, a moeda japonesa, depois de se manter em uma média pouco superior a 135 unidades por dólar entre1987 e 1993, chegou a atingir um mínimo 85por um em maio de 1995, uma valorização de mais de 35%, Com isto, o valor em ienes dos ativos de empresas japonesas no exterior minguaram . Mesmo assim, os investidores japoneses continuaram se desfazendo de posições no exterior com o objetivo de gerar caixa. De um total de U$77 bilhões aplicados em edifícios de escritórios, hotéis e shopping centers no Estados Unidos, durante a década de 80 , quase U$ 20 bilhões foram vendidos entre 1992 e 1995 , por credores japoneses de empresas japonesas endividadas . Como exemplo basta citar o caso do Rockefeller Center, no centro de NovaYork. A aquisição de 80% do complexo imobiliário pela Mitsubish Estate por U$ 1,4 bilhão, na segunda metade dos anos 80, foi criticada à época como mais um exemplo da derrota do capitalismo americano ao poderio japonês. Em maio de 1995, o conjunto foi revendido  a seus antigos donos por um valor, em ienes, equivalente a um terço do que foi originalmente pago . O prejuizo em dólares foi da ordem de U$ 600 milhões. Diante do NOVO ENDAKA e frente a uma perspectiva de agravamento da crise interna, uma missão japonesa, chefiada por Eisuke Sakakibara, alto funcionário do Ministério das Finanças, foi em julho de 1995 a Washington negociar um acordo. O governo americano, em conjunto com o japonês , realizaria maciças intervenções no mercado de câmbio  com o objetivo de sustentar a paridade em torno de 100 ienes por dólar.   Com isto, os bancos nipônicos ganhariam tempo para usar os recursos fornecidos pelo Banco Central do Japão  para comprar títulos do Tesouro americano, obtendo, sem risco,  uma margem de 6% ao ano nesta operação, superior  à que poderiam obter em Tókyo.  Em contrapartida, os americanos seriam beneficiados de duas maneiras : Evitariam uma venda desenfreada de seus títulos públicos, por instituições japonesas ávidas por liquidez, o que poderia provocar um aumento na taxa de juros nos Estados Unidos,  e, principalmente,  veriam atendidas várias de suas demandas de maior acesso para seus produtos no mercado japonês. Como resultado da ação concertada entre as duas potências, a tendência de valorização do iene foi revertida por uma recuperação sustentada do dólar.  No início do ano de 1997, a paridade vltou à estabilizar-se entre 115 e 120 ienes. O sucesso da operação nipo-americana valeu à Sakikabara uma promoção importante . Ele tornou-se muito famoso na mídia japonesa, que o apelidou de ''MR. YEN ''.

K.M.

sábado, 6 de maio de 2017

' Non-performing '

Do montante identificado pelo governo japonês, pouco menos de um terço (U$ 126 bilhões) eram de responsabilidade dos grandes bancos ---- city banks , bancos de longo prazo e trust banks . E estes dados não incluem os U$ 100 bilhões de empréstimos realizados a instituições não bancárias, que foram perdoados ou tiveram seus juros reduzidos no  intuito de apoiar a reestruturação destas instituições. Tbm não se consideram nestas estatísticas os U$ 85 bilhões vendidos à Companhia de Aquisição de Crédito Cooperativo (CCPC) . Assim , só os grandes bancos estavam direta ou indiretamente envolvidos com '' non-performing '' no valor global de U$ 300 bilhões. A CCPC era um exemplo interessante dos instrumentos que vinham sendo usados pelos grandes bancos na época, em acordo com o governo japonês, para permitir que estas instituições obtivessem vantagens fiscais e simultaneamente ''limpassem' seus balanços. A exemplo dos instrumentos financeiros utilizados para a reestruturação das empresas industriais afetadas pela crise dos anos 70 e 80, a Companhia tinha sido  construída  , no início de '993 , por 164 instituições financeiras,com o objetivo de adquirir, com desconto , créditos irrecuperáveis de seus associados. Seu capital inicial era de 7,93 bilhões de ienes (U$ 730 milhões). Os fundos para suas operações eram provenientes  de empréstimos desses mesmos bancos. Tratava-se, na prática , de operação meramente contábil  . A Companhia era uma companhia de ''propósito específico '' (special purpose company ) cujo objetivo era permitir que os bancos associados retirassem de seus balanços ativos ''podres '',  em troca de empréstimos à CCPC que, formalmente, eram considerados ''sadios'' pelos auditores do governo  e de ''companhias independentes''. Num processo como este, os bancos registram o valor do desconto com prejuízo, realizando perdas que são passíveis de abatimento junto ao Fisco. Eliminam ademais o pagamento de impostos sobre os juros que teriam que ser lançados, caso os ''créditos podres '' continuem a ser rolados.

K.M.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

O valor podia alcançar o dobro do que foi informado. U$ 800 bilhões...


A reaceleração dos superávits externos foi , em boa medida, decorrente do ajuste recessivo que se seguiu ao estouro da bolha especulativa. De um lado, a redução no nível de atividade doméstico limitou o crescimento das importações. De outro, as empresas , em reação à frustração de suas expectativas de crescimento de demanda internam , aceleraram suas vendas ao exterior. Simultaneamente, aumentaram as exportações de máquinas e equipamentos, produtos de maior valor agregado, em detrimento dos bens de consumo duráveis, especialmente na área de aparelhos audiovisuais e de informática.  Entre 1985 e 1994, a participação dos bens de capital na pauta de exportações japonesas aumentou de 48% para 62%. Uma outra mudança estrutural importante na área externa foi a mudança no relacionamento do Japão com as economias emergentes do Sudeste da Ásia. Ao final do mesmo período, a região passou a absorver 40% das exportações japonesas, contra24% em 1985. Em compensação, os países mais desenvolvidos perderam posição, de 62% para 52%. Em boa medida, o aumento da demanda de equipamentos nipônicos produtivos realizados por empresas japonesas na região . A terceira consequência importante da deflação nos mercados de ativos foi transformar a massa de capital especulativo criado durante a BOLHA em um pesadelo que colocava em risco não só o sistema financeiro japonês mas tbm  o internacional . Como resultado da desvalorização dos imóveis  e das ações , as empresas que estavam em posição especulativa passaram a apresentar prejuízos patrimoniais,. As garantias dadas aos empréstimos bancários perderam valor de mercado, gerando um volume crescente de créditos insolventes. Os bancos começaram, então , a ser negativamente afetados pela crise financeira assim como as grandes Securities Companies, muitas das quais haviam , como de praxe, dado a seus clientes garantia firme contra perdas frente a eventuais prejuízos. Segundo o Ministério das Finanças do Japão, os créditos improdutivos ou sujeitos à reestruturação montavam U$ 400 bilhões em março de 1995, o que representava 80% do PIB brasileiro  do meso ano, para se ter uma idéia.Mas outras fontes diziam que o valor podia alcançar o dobro do que foi informado. U$ 800 bilhões...

K.M.

O ''estouro da bolha ''


O ''estouro da bolha '' gerou vários impactos negativos sobre a economia japonesa que foram sentidos por longo tempo. Um deles, como vimos, foi o de lançar o país, a partir de 1992, na pior recessão de seus últimos 40 anos. Para fazer frente à desaceleração do consumo privado e à retração da forma bruta do capital fixo , as autoridades passaram a utilizar tanto a política fiscal quanto a monetária como estímulo à demanda interna. Entretanto, a economia, a despeito de flutuações ocasionais, lutou muito para conseguir sustentar seu primeiro processo de retomada do crescimento.Para minorar o efeito recessivo da bolha, foram acionados diferentes instrumentos de natureza fiscal . Promoveu-se uma regulação generalizada no imposto sobre a renda, com o objetivo de estimular o consumo das famílias, vítimas de um ''efeito riqueza'' negativo , que as mantiveram distantes do consumo da segunda metade dos anos 80.  Foram aprovados orçamentos suplementares voltados para o aumento das despesas com obras públicas. Essas medidas, aliadas ao impacto da recessão sobre a receita pública, tiveram como consequência o aumento do déficit dos governos central e locais, de 0 ,3% do PIB em 1991 para 7,7%em 1995. Como consequência, a dívida pública líquida que vinha se reduzindo desde 1986, voltou a crescer, recuperando os níveis de meados da década anterior. Este crescimento da dívida pública foi, porém, providencial para absorver a demanda crescente por títulos denominados em ienes. Um segundo impacto da recessão, provocada pelo ''estouro da bolha'', foi o aumento do superávit externo japonês , tanto em termos comerciais quanto em conta-corrente. Em decorrência da abrupta valorização de sua moeda em 1985- 1987, o Japão havia conseguido , até 1991 , reduzir penosamente seu saldo comercial com seus principais parceiros comerciais. Com a retração da economia doméstica, os superávits voltaram, no período de 1994-1995, a seus limites históricos máximos,n o que toca aos Estados Unidos, e atingiram níveis sem precedentes, frente aos países do Sudeste da Ásia. Houve, portanto, uma grande  reversão  no panorama de ajustes externos trilhado pelo Japão na segunda metade dos anos 80.

K.M.

Acelerando o investimento em imóveis.

O resultado imediato das novas políticas foi o início de uma queda sistemática e pronunciada nas bolsas de valores. No dia 2 de abril de 1990, quatro meses após atingir seu máximo de 38.915 pontos, o índice Nikkei havia se reduzido a 28.002,chegando a 20.221 no 1 de outubro seguinte. Neste espaço de tempo de pouco mais de 10 meses, 50% do valor total das ações das empresas japonesas havia simplesmente evaporado. A rapidez da crise deixou em situação ilíquida as empresas e as famílias que haviam se endividado para investir em ações, na expectativa de o mercado continuar sua tendência altista. A despeito do pânico ter se instalado nas bolsas de valores , o preço da terra continuou se valorizando. Parecia que o mito da terra era uma realidade. No Japão existia, até então , um axioma de que os preços dos terrenos não podiam cair, De fato ,  as estatísticas mostravam que um lote residencial em uma grande cidade teve seu valor multiplicado 135 vezes entre 1955 e 1985, contra sete vezes no caso de um depósito  a prazo. A partir de 1985, as famílias e as empresas aceleraram  seus investimentos em imóveis. Para tanto,  fizeram uso de volumosos empréstimos junto aos bancos. Entre 1985 e 1989, a carteira imobiliária destas instituições aumentou  de 17 para 43 trilhões de ienes --- o que equivalia acerca de U$ 400 bilhões. Do mesmo modo, as instituições financeiras não-bancárias tbm se lançaram agressivamente neste mercado . O saldo total dos empréstimos destas instituições cresceu , no período, de 22 para 80 trilhões de ienes , dos quais 32 trilhões representavam aplicações direcionadas para a compra de imóveis. Novamente, o risco dessas instituições recaía sobre os bancos, que haviam financiado 80% de seus ativos. 

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Perigo amarelo na França?


A CHINA VAI ÀS COMPRAS
Perigo amarelo na França?

http://diplomatique.org.br/perigo-amarelo-na-franca/

Os investimentos franceses na China são seis vezes maiores que os chineses na França. Porém, enquanto em Pequim ninguém se preocupa com uma “invasão europeia”, a cobiça oriental assusta diversos comentaristas em Paris. Esse fluxo de capital estrangeiro, seria impossível na presença de uma política industrial ambiciosa
por: Martine Bulard
3 de outubro de 2016

Depois de muito tempo invisíveis, os chineses adentraram o mundo dos negócios na França com grande destaque e enfrentando muitas críticas. Em poucos meses, colocaram as mãos em empreendimentos como o Aeroporto de Toulouse-Blagnac, o Club Med, a agência de viagens Pierre et Vacances, os hotéis Campanile e Kyriad, o clube de futebol FC Sochaux, o ateliê de moda Sonia Rykiel, a confecção Sandro, Maje et Claude Pierlot, sem falar dos 1,7 mil hectares de terras agrícolas em Indre… Só em 2015, foram investidos US$ 3,2 bilhões na França, duas vezes mais que em 2013. Devemos concluir que o perigo (amarelo) está em casa?

O entusiasmo do dragão asiático pelo galo gaulês é incontestável. Mas a realidade é modesta: os investimentos chineses acumulados representam apenas 2% do total de investimentos estrangeiros diretos (IEDs) na França, muito atrás do irmão inimigo japonês (6%), segundo dados da agência Business France.1 Embora a China esteja acelerando suas compras, ela ainda é um anão diante do campeão em todas as categorias de aquisições na França, os Estados Unidos, país que concentra sozinho um quarto dos IEDs.

Todos estão abalados em ver o famoso Club Med ficar sob o controle da bandeira vermelha, mas quase ninguém reclamou do desmembramento da Alstom, que permitiu à norte-americana General Electric assumir o controle de parte da alta tecnologia nuclear francesa,2 com consequências muito mais graves para a independência nacional.

Contudo, as ambições da China não devem ser tratadas levianamente. Irrisórios há vinte anos, hoje seus IEDs em escala planetária são quarenta vezes maiores, chegando a US$ 128 bilhões no ano passado, ou a US$ 249 bilhões, se incluirmos Hong Kong.3 O Império do Meio tornou-se o segundo maior operador mundial, atrás dos Estados Unidos (US$ 337 bilhões). Seu primeiro destino ocidental continua sendo os norte-americanos, mas a Europa passou a ser um dos alvos privilegiados, sobretudo o Reino Unido, a França e a Alemanha – líderes desde o início da década –, embora a Itália tenha ficado em segundo lugar em 2015, com a aquisição da gigante de pneus Pirelli pela ChemChina.



Gosto por marcas famosas

O desejo de ganhar o mundo não é nenhuma surpresa, vindo da segunda maior economia do mundo. Em um primeiro momento, esse desejo foi encorajado pelo governo, que criou uma série de instrumentos para realizá-lo. O banco de investimentos China Eximbank, por exemplo, fundado em 1994 para “prestar apoio financeiro a projetos” no exterior, hoje está estabelecido em Paris para se dedicar a negócios europeus e africanos. Desde 2006, as saídas de capitais são facilitadas, embora permaneçam controladas, e empréstimos são concedidos sem grandes problemas quando os projetos atendem aos critérios definidos pela Comissão do Conselho de Estado (governo) para a reforma. Além disso, fundos soberanos foram criados, entre eles a poderosa China Investment Corporation (CIC), que realizou seu primeiro grande golpe em 2007, conseguindo participação no famoso banco norte-americano Morgan Stanley…

Originalmente, a China voltou-se para a aquisição de recursos naturais, a fim de fortalecer seu abastecimento de energia e minerais, principalmente no continente africano. Ela entra agora em nova fase, focada nos países ocidentais. “A internacionalização dos grupos tornou-se uma prioridade nacional”,4 aparecendo com todas as letras nas metas oficiais do governo, como destaca a pesquisadora Geneviève Barré. Essa decisão estratégica no mais alto nível do Estado conjuga-se à determinação dos empresários de prosseguir em sua ascensão global.

Após a crise de 2007-2008, os investidores institucionais chineses perderam a confiança no sistema financeiro norte-americano, que era sua referência. Perceberam que comprar títulos do Tesouro dos Estados Unidos para reciclar parte de seus enormes excedentes financeiros – as reservas cambiais variam entre US$ 3 trilhões e US$ 3,5 trilhões, em média, desde 2010 – não constituía uma segurança econômica no momento em que as taxas de juros flertavam com o nível zero. Soou o sinal da diversificação, incluindo a compra de dívidas europeias.

As famílias mais ricas e as empresas mais vigorosas acentuaram o movimento. Para as primeiras, colocar fundos no exterior é a melhor maneira de proteger seu patrimônio e precaver-se contra eventuais investigações em tempos de luta contra a corrupção. Assim se forjou discretamente uma nova “Chinatown” no coração de Paris. Ela não tem nada a ver com aquela que vemos no 13º distrito, com seus imigrantes e pequenos comerciantes. Essa nova Chinatown está instalada no Triângulo Dourado (avenidas Champs-Elysées, Montaigne e George V).5

Os grupos – públicos ou privados, uma fronteira nem sempre fácil de definir – também são vorazes. Eles “têm cada vez mais dinheiro”, conforme nos explicam no Comité d’Échanges Franco-Chinois (CEFC – Comitê de Trocas Franco-Chinesas), em Paris. O crescimento febril das últimas décadas permitiu aos chineses acumular colossais tesouros de guerra. E uma parte do dinheiro derramado pelo Banco Central para lutar contra a desaceleração (quantitative easing) encontra-se com mais frequência no exterior do que no investimento interno.

É impossível detalhar todas as operações realizadas em território francês, mas podemos discernir três razões principais: ganhar fatias de mercado por meio da obtenção de uma rede de distribuição, dominar uma marca e adquirir tecnologia ou know-how gerencial. “Não queremos aumentar o volume de negócios a qualquer custo, mas construir a marca Haier”,6 diz o diretor da filial francesa da número um do mundo em eletrodomésticos. O objetivo é o mesmo para a empresa de aparelhos de telecomunicações Huawei, criada em 1987 por um ex-coronel do Exército Popular e hoje a terceira maior do mundo. A companhia desembarcou na França em 2003 e estabeleceu parceria com a Bouygues e a SFR para difundir seus celulares, que avançaram muito. Além disso, como explica Yan Yufen, secretário-geral da Câmara do Comércio e Indústria Chinesa, a França oferece “mão de obra altamente qualificada e crédito fiscal para pesquisa (CIR) a todas as empresas”. A Huawei instalou quatro centros de pesquisa e desenvolvimento, e criou 734 postos de trabalho – sem que saibamos quanto dinheiro público embolsou.

Transformado em “fábrica do mundo”, o Império do Meio carece cruelmente de marcas capazes de seduzir os consumidores chineses mais abastados. Daí seu frenesi de aquisições de marcas de vestuário de luxo (Cerutti, Sonia Rykiel, Maje etc.); cosméticos (Marionnaud); produtos de prestígio, como os grands crus de Bordeaux, dos quais controla uma centena; e alimentos, especialmente leite em pó, já que o rótulo made in France permite vender a preço de ouro. E, claro, turismo de alto padrão (ver boxe).

São as aquisições de empresas industriais, porém, que estão no topo (43,2% do IED, de acordo a Business France), embora elas raramente façam soar as sirenes da mídia. Isso é notável no setor de energia: o fundo soberano CIC assumiu o controle de 30% da GDF-Suez (agora Engie), conseguindo acesso às tecnologias de tratamento de gás liquefeito; a Petrochina comprou a refinaria Lavera; a Taihai Yantai, uma das líderes do setor nuclear civil, comprou duas especialistas em transformação de metais e caldeiras para o setor nuclear (Manoir Industrie e CTI); além da parceria entre a Electricité de France (EDF) e duas empresas chinesas para a construção de reatores EPR em Hinkley Point, no Reino Unido.

Focadas em alta tecnologia, infraestrutura, transporte e produtos químicos, mas sem esquecer outros setores sempre que surgem oportunidades, as incursões realizam-se principalmente por meio da compra de empresas em dificuldade – mas não podres. Em plena tormenta financeira na Peugeot, a gigante de automóveis Dongfeng adquiriu 14% do capital da companhia, obteve direito de observação no centro de pesquisa em Xangai e continua de olho nos 14% detidos pelo Estado francês.7 À beira da falência, a maior fabricante francesa de máquinas de perfuração de túneis, a Neyrpic Framatome Mécanique (NFM), passou para o controle do grupo Northern Heavy Industries (NHI), que conta com um enorme mercado na China, cujas cidades crescem como cogumelos. Uma das joias francesas dos motores marítimos, a Baudoin, que vinha perdendo velocidade desde sua aquisição pelo fundo de investimento francês Axa Private Equity, foi comprada pela Weichai. Há ainda os tratores McCormick, comprados pela número dois chinesa Yto, que repatriou para seu país parte do know-how para produzir tratores de baixo e médio padrão, e relançou a fabricação francesa. Essas empresas conseguiram superar as dificuldades. Em outras palavras, as produções consideradas úteis pelos investidores chineses seriam indignas do gênio francês?

A falta de visão industrial de longo prazo é notável no caso da Rhodia, que teve suas duas fábricas e seu centro de pesquisa, abandonados pela Rhône-Poulenc, passados para o controle da ChemChina. “A chegada dos chineses [em 2007] nos preocupou”, reconhece Jean Granjon, secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT), o principal sindicato da empresa, transformada na Bluestar Silicones. “Especialmente porque no início seu projeto era reconstruir de forma idêntica a planta de Saint-Fons na China. Até o momento, isso não aconteceu.” Oito anos depois, ele é obrigado a constatar: “A ChemChina investiu, ao passo que a França e a Rhône-Poulenc não faziam isso havia anos. Ao contrário dos antigos proprietários, há um projeto industrial de desenvolvimento de silicones e a ambição de tornar a Bluestar Silicones o terceiro player do mundo”. Atualmente, vigora uma repartição do mercado: a produção de alto padrão das fábricas francesas é vendida na França e na Europa; a produção chinesa, na China e nos países emergentes. Mas será sempre assim? Quem paga a orquestra decide a música. Quanto ao grande empresário Ren Jianxi, embora membro do Partido Comunista Chinês, é bastante improvável que ele seja sensível ao internacionalismo proletário e à solidariedade para com os trabalhadores franceses.



Valls vende a desregulamentação

Para os assalariados, a chegada do capital chinês não mudou a vida cotidiana. “Nós nunca vemos os proprietários, que deixam os líderes locais à vontade, e continuamos lidando com os mesmos métodos de gestão de antes, extremamente duros”, destaca Granjon. É verdade que o número de empregos subiu (820 pessoas, contra 790 oito anos atrás), mas a carga de trabalho se intensificou, e, em julho, um trabalhador morreu em um incêndio. A nacionalidade não fez diferença para o caso. Tanto ontem como hoje, “o trabalho é feito em detrimento da segurança”, avalia o sindicalista.

Outras aquisições se transformaram em pesadelo: Zhang Guohua, que fez promessas fabulosas aos empregados para controlar a líder europeia da madeira compensada Plysorol, então em liquidação, cobiçava na realidade seu tesouro de guerra, 600 mil hectares de floresta no Gabão – o processo por abuso de bens sociais ainda está em curso; a Shanghai Electric Group (SEG), que comprou a fabricante de impressoras offset e rotativas Goss International, apressou-se a fechar uma das fábricas francesas (Montataire) após truques jurídico-financeiros para evitar o pagamento de licenciamentos. Essas práticas inaceitáveis não são uma especialidade chinesa. Mas o que importa é quanto a França é capaz de proteger sua indústria.

No entanto, as operações são conduzidas com o incentivo das próprias autoridades francesas. A aquisição da Rhodia foi assinada na presença dos então presidentes da República Jacques Chirac e Hu Jintao. Foi no Élysée, sob os aplausos de François Hollande, que a Peugeot abriu seu capital para a Dongfeng. Em sua viagem para Xangai em janeiro de 2015, Manuel Valls estava dedicado a “vender a França”, declarando, como homem de esquerda convicto: “A imagem de que é impossível operar na França é falsa”. E completou: “A proteção do emprego é maior na Alemanha do que na França”,8 como se ele não tivesse nada a oferecer além da desregulamentação do trabalho. Aliás, isso não impediu que os chineses comprassem, em julho, a maior fabricante alemã de robôs, a Kuka, e a gigante suíça dos pesticidas e setor agroalimentar, a Syngenta.

Do ponto de vista chinês, esse enorme apetite é compreensível: é a forma de adquirir tecnologias mais rapidamente do que investindo em seu próprio país. Surpreendente é o laissez-faire dos líderes franceses (e europeus) – parece que eles abriram mão definitivamente de qualquer ambição industrial inovadora.

BOX

Dos palácios ao Aeroporto

Sócio do Club Med há muitos anos, o conglomerado de Xangai Fosun acabou por absorvê-lo. E tenta adquirir, na sequência, a Compagnie des Alpes e suas concessões nas maiores estações de esqui (Les Arcs, La Plagne, Serre Chevalier). Seu objetivo? Atrair a clientela chinesa no próprio país, onde o turismo explodiu e um Club Med deve abrir em breve; e no exterior, onde 120 milhões de chineses passaram férias em 2015, particularmente na França, principal destino no Ocidente.

A França é um campo de batalha para os operadores chineses. Além do consórcio Fosun, o grupo hoteleiro Jin Jiang adquiriu a Louvre Hôtels (Kyriad, Campanile, Première Classe) e levou, para surpresa geral, 15% da Accor (Mercure, Ibis, Novotel), sem esconder seu desejo de ir mais longe; a Kai Yuan conseguiu o hotel cinco estrelas Marriott da Champs-Élysées, em Paris; a companhia Hainan Airlines conseguiu uma parte da Pierre et Vacances e levou 10% do capital da Center Park, e também adquiriu a companhia aérea de baixo custo Aigle Azur, depois a Servair, filial de restauração da Air France.

Mais espetacular ainda, a Casil Europe1 apropriou-se do Aeroporto de Toulouse-Blagnac, perto das pistas de teste da Airbus. Ela não só aproveitou a privatização do aeroporto para levar 49,9% do capital, como ainda Manuel Valls e Emmanuel Macron concederam-lhe um pacto de acionistas fora das normas, que permite aos proprietários chineses, minoritários, comandar.2. Seguros de si, os acionistas chineses ainda quiseram apropriar-se de uma parte dos fundos do aeroporto (70 milhões de euros), alegando, menos de um ano após sua chegada, o pagamento de 20 milhões de euros em dividendos.

1 A Casil Europe é majoritariamente constituída pelo grupo chinês Symbiose (que inclui o Shandong High Speed Group e o Friedman Pacific Investment Group) e pelo grupo canadense SNC Lavalin.

2 Revelações de Laurent Mauduit, “La scandaleuse privatisation de l’aéroport de Toulouse-Blagnac” [A escandalosa privatização do Aeroporto de Toulouse-Blagnac], 28 nov. 2014. Disponível em: www.mediapart.fr

1 Business France, “Rapport sur l’internationalisation de l’économie française. Bilan 2015 des investissements étrangers en France” [Relatório sobre a internacionalização da economia francesa. Balanço 2015 sobre os investimentos estrangeiros na França], Paris, 2016.

2 Ver Jean-Michel Quatrepoint, Alstom, scandale d’État [Alstom, escândalo de Estado], Fayard, Paris, 2015.

3 Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), “Rapport 2015 sur les investissements dans le monde” [Relatório 2015 sobre os investimentos no mundo], Genebra, jun. 2016.

4 Geneviève Barré, Quand les entreprises chinoises se mondialisent: Haier, Huawei et TCL [Quando as empresas chinesas se globalizam: Haier, Huawei e TCL], CNRS Éditions, Paris, 2016.

5 Ver Camille-Yihua Chen, Investissements chinois en France. Mythes et réalités [Investimentos chineses na França. Mitos e realidades], Pacifica, Paris, 2014.

6 Geneviève Barré, op. cit.

7 “Peugeot vu par le Chinois Dongfeng” [A Peugeot vista pela chinesa Dongfeng], Planète Asie, 5 mar. 2014. Disponível em: http://blog.mondediplo.net.

8 Cécile Amar “Manuel Valls ‘vend’ la France aux Chinois” [Manuel Valls “vende” a França aos chineses], Le Journal du Dimanche, Paris, 1º fev. 2015.