sexta-feira, 19 de maio de 2017
Ensinando uma lição ao Panamá.
Até o final dos anos1960 o Panamá foi controlado por sua minúscula elite européia, menos de dez por cento da população. Isso mudou em 1968, quando Omar Torrijos, um general extremamente populista, liderou um golpe que permitiu aos negros e aos mestiços pobres partilharem uma fatia mínima do poder, sob sua ditadura militar. Em 1981 , Torrijos foi morto num acidente aéreo. Até 1983 , o governante efetivo do Panamá foi Manuel Noriega, um genocida que havia firmado aliança com Torrijos e a CIA. O governo norte-americano já sabia há anos que Torrijos estava envolvido com o tráfico de drogas e seus ''controladores'', desde pelo menos 1972, quando o governo de Nixon considerou a possibilidade de ''exterminá-lo''. Contudo, ele continuou na folha de pagamentos da CIA por longo tempo. Em 1983 , uma missão do Senado norte-americano concluiu que o Panamá havia se tornado um grande centro de lavagem de dinheiro e tráfico de drogas. O governo americano, mesmo assim , continuou prestigiando os serviços de Noriega. Em maio de 1986 , diretor do Órgão de Repressão às Drogas elogiou Noriega publicamente num evento por sua ''VIGOROSA POLÍTICA CONTRA O TRÁFICO DE DROGAS ''. Um ano mais tarde, esse mesmo diretor deu BOAS VINDAS À NOSSA ESTREITA RELAÇÃO '' com Noriega. Em agosto de 1987, uma resolução do Senado condenando Noriega foi contestada por Elliott Adams, uma autoridade do Departamento de Estado, encarregado d política norte-americana na América Central . Ainda assim , quando Noriega foi finalmente processado , em Miami, em 1988 , todas as denúncias, exceto uma, eram referentes a atividades praticadas antes de 1984, quando ele ainda era ''nosso'' ''GAROTO'' ... , ajudando os Estados Unidos contra a Nicarágua, fraudando eleições com a aprovação dos Estados Unidos e geralmente servindo de modo bem satisfat´rio aos interesses do Tio Sam. Isso nada teve haver com a repentina descoberta de que ele foi um gângster e traficante de drogas ---- o que todos sempre souberam. Tudo era muito previsível, como um estudo atrás do outro apontou. Um tirano brutal cruza facilmente a linha do amigo admirável para o vilão, quando comete o ''grave crime'' da independência. O erro mais comum apontado por Washington, durante essas décadas, nos países da América Central , era o de que os tiranos sempre acabavam indo além do roubo aos pobres de seu país, e criavam disputas com Washington. A interferência nos interesses dos atores globais privilegiados sempre acaba provocando a retaliação dos líderes empresariais da região. Em meados de 1980, Noriega já era considerado culpado por todos esses crimes. E, entre outras coisas, ele parecia com frequencia não estar disposto a colaborar com os Estados Unidos na guerra dos CONTRAS . A independência de Noriega ameaçava inclusive a independência do próprio Panamá ---- no ano2000, o canal passou de mãos. Erapreciso antes, contudo, assegurar que o Panamá estaria em mãos de pessoas que pudessem e aceitassem ser controladas. Como não se podia mais confiar em Noriega para cumprir as ordens americanas, ELE TINHA QUE SUMIR. Washington impôs sanções econômicas ue virtualmente destruíram a economia panamenha, deixando a carga principal cair sobre a maioria pobre e não -branca. Essa população tbm passou a odiar Noriega, porque ele era o responsável direto pela guerra econômica (totalmente ilegal ) que estava matando a população do país. Em seguida, tentou-se o golpe militar, mas falhou . . Então, em dezembro de 1989, os Estados Unidos comemoraram a queda do muro de Berlim e o fim da Guerra Fria invadindo o Panamá de modo fulminante,matando centenas e talvez milhares de pessoas. Isso restaurou imediatamente o poder da elite branca e rica , que havia sido destituída pelo golpe de Torrijos, bem a tempo de assegurar um governo dócil na mudança administrativa do Canal, em 1 de janeiro de 1990. Durante todo esse processo, a imprensa americana foi comandada por Washington, selecionando vilões segundo as necessidades dos estrategistas republicanos. Ações anteriormente perdoadas tornaram-se crimes. Por exemplo , em 1984, a elição presidencial panamenha foi vncida por Arnulfo Arias. A eleição foi roubada por Noriega com violência e fraudes consideráveis. Mas Noriega ainda não havia se tornado desobediente. ELE ERA O ''NOSSO'' HOMEM NO PANAMÁ!!!! , e o partido de Arias foi julgado por ter perigosos elementos de ''ultra-nacionalismo'' . O governo do Presidente Reagan aplaudiu a violência e as fraudes de Noriega , e mandou para lá o Secretário de Estado, George Shultz , para legitimar a eleição roubada e elogiar a versão da ''DEMOCRACIA DE NORIEGA'' como um modelo perfeito para os errantes sandinistas. A aliança Washinton -mídia e os principais jornais abstiveram-se completamente de criticar a eleição fraudulenta no Panamá (incluindo os auto-denominados avatares dos direitos humanos como a Times ) mas consideraram como totalmente sem valor as eleições sandinistas daquele mesmo ano ---- que forma muito mais livre e honestas ---- simplesmente porque não puderam ser controladas. Em maio de 1989 , Noriega novamente roubou as eleições, dessa vez de um representante da oposição empresarial ,Guilherme Endara. Noriega usou menos violência do que em 1984. Mas o governo Reagan havia já sinalizado estar CONTRA Noriega. Segundo o roteiro previsível , a imprensa americana expressou sua indignação ante o fracasso dele em seguir ''nosso'' ''elevado padrão democrático''. Aí a imprensa começou com sua histeria sobre Direitos Humanos só para vender mais. Anteriormente não tinham dado nenhuma atenção. Na época da invasão do Panamá, em dezembro de 1989, a imprensa já havia satanizado Noriega devidamente, transformando-o num monstro pior que Átila, o rei dos Hunos (basicamente, a mesma satanização que fizeram com Kadafhi, na Líbia ---- algo muito eficiente em termos de induzir decisões em Washington ) . Ted Troppel jurava que ''NORIEGA PERTENCIA ÀQUELA CONFRARIA ESPECIAL DE VILÕES INTERNACIONAIS, homens como Kadhafi , Idi Amin , Aiatolá Khomeini, que os americanos amam odiar ---- a recíproca é verdadeira '' . Dan Rather (um histérico total) colocou-o no topo da lista de ladrões, traficantes e da ''escória do mundo '' .Mas na verdade, Noriega foi um bandido de calibre bem menor ---- exatamente como era quando trabalhava para CIA. Em 1988, o Americas Watch publicou uma reportagem sobre Direitos Humanos no Panamá , mostrando um quadro bem desolador. Mas como os relatórios e as informações mostram claramente, o registro de violações de Noriega aos diretos humanos não eraem nada diferente dos de outros ''clientes ''do Tio Sam ... tomemos o caso de Honduras. Embora não fosse um governo terrorista e assassino como os de El Salvador e da Guatemala, os abusos contra direitos humanos lá, eram muito provavelmente piores do que no Panamá. De fato, haviaum batalhão treinado pela CIA, em Honduras , que por si só já havia matado mais que o próprio Noriega. Ou então consideremos os ditadores apoiados pelos Estados Unidos na época, um erro pior qu o outro : Trujillo, na República Dominicana ; Somoza, na Nicarágua ; Marcos, nas Filipinas; Duvalier, no Haiti ; e uma série de outros gângster da América Central durante a década de 1980. Todos eram mais brutais que Noriega.
K.M.
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