sexta-feira, 12 de maio de 2017

Ensinando uma lição à Guatemala.


 Se houve um lugar na América Central que obteve alguma cobertura pela mídia norte-americana antes da revolução sandinista, este lugar foi a Guatemala. Em 1944 , uma revolução derrubou um tirano odioso, resultando daí o estabelecimento de um governo democrático que se inspirou basicamente no New Deal, de Roosevelt . Nos dez anos de interlúdio democrático que se seguiram, houve o início de um bem sucedido desenvolvimento econômico independente.  Isso causou uma verdadeira histeria em Washington. Eisenhower e Dulles advertiam que ''a autodefesa e a autopreservação dos Estados Unidos estavam em jogo, a menos que o vírus fosse exterminado. Os relatórios da Inteligência americana da época eram muito francos quanto ao perigo representado pela ''democracia capitalista '' na Guatemala. Um memorando da CIA, de 1952, descreveu a situação da Guatemala como ''adversa ao interesses dos Estados Unidos ', devido à ''influência comunista ... baseada na defesa das reformas sociais e da política nacionalista''. O memorando advertia que a Guatemala ''tinha recentemente aumentado seu apoio às atividades comunistas e anti-americanas em outros países da América Central. Um primoroso exemplo citado foi  uma alegada doação de U$ 300.000 a José Figueres. Como já foi mencionado anteriormente, José Figueres foi o fundador da democracia na Costa Rica e  o  principal líder democrático da América Central. Embora ele  tbm tenha contribuído entusiasticamente com a CIA e tenha chamado os Estados Unidos de ''o porta-bandeira de nossa causa '', além de ter sido considerado pelo embaixador norte-americano na Costa Rica como ''a melhor agência de propaganda que a United Fruit Company poderia encontrar na América Latina ''. Figueres tinha um estilo  independente e, portanto , não era de tanta confiança quanto Somoza ou outros bandidos à serviço de Washington . Na retórica política dos Estados Unidos, isso possivelmente faria dele um ''comunista '', na época.  Então, se a Guatemala havia dado dinheiro para ajudá-lo a vencer as eleições, isso mostrava que a Guatemala ''apoiava os comunistas ''. Pior , o mesmo memorando da CIA continuava , as ''diretrizes radicais e nacionalistas'' do governo capitalista democrático, incluindo a ''perseguição dos interesses econômicos estrangeiros, especialmente os da United Fruit Company , haviam ganho  ''o apoio da maioria dos guatemaltecos''. O governo estava obtendo a ''mobilização dos camponeses até aqui inertes '' , e minando, ao mesmo tempo , o poder dos ''grandes latifundiários ''. Além disso, a revolução de 1944 tinha despertado  (ainda com a CIA) ''um forte movimento nacional para libertar a Guatemala da Ditadura Militar, do 'atraso social ' e do 'colonialismo econômico'', que haviam sido normas do passado e ''inspirado a lealdade e se ajustado ao interesse da maioria dos guatemaltecos politicamente conscientes''. As coisas tornaram-se ainda piores depois  que um bem-sucedida reforma agrária começou a ameaçar a ''estabilidade '' nas nações vizinhas, onde a população sofrida não poderia deixar de notar tais medidas. A situação ficou horrenda. A CIA empreendeu um bem0-sucedido golpe. A Guatemala tornou-se o açougue da América Central, com a intervenção regular dos Estados Unidos sempre que as coisas ameaçavam sair fora da linha.  No fim da década de 1970, as atrocidades estavam novamente alcançando limites absurdos, provocando protestos pelo mundo. Mesmo assim ,ao contrário do que muitos creem , a ajuda militar para a Guatemala continuou virtualmente a mesma, sob o governo dos ''direitos humanos '' de Mr. Carter. Os aliados americanos tbm se voltaram para a causa ---- notadamente Israel, um ativo estrategista de Washington , em parte ao seu sucesso em promover o terrorismo de Estado. Com Reagan , o apoio ao genocídio na Guatemala tornou-se absolutamente fanático. O mais radical dos Hitlers guatemaltecos até então apoiados pelos Estados Unidos, Rios Montt  ,foi saudado publicamente por Ronald Reagan (risos ) como um ''apóstolo dedicado à democracia '' . No início dos anos 1980, os amigos de  Washington trucidaram dezenas de milhares de guatemaltecos, a maioria índios do planalto , além de outros incontáveis casos de tortura e violência. Grandes regiões, regiões inteiras da Guatemala foram dizimas desse modo sistematicamente. Em 1988 , um jornal guatemalteco aberto há pouco tempo, chamado , La Época , foi explodido por terroristas ligados ao governo, cujas operações tornavam-se cada vez mais perfeitas.  Na época, a mídia norte-americana estava muito preocupada com o fato de um jornal financiado pelos Estados Unidos na Nicarágua, La Prensa --- que propunha abertamente a derrubada do governo e apoiava  o exército terrorista dirigido pelos Estados Unidos ---- ter sido forçado a deixar de lançar algumas edições devido à falta de papel de imprensa. Isso indignou algumas edições em NYC . O ''afeminado'' Washington Post agora bradava aos quatro cantos da América, com sua vozinha frequentemente surtada, contra o  ''TOTALITARISMO SANDINISTA ''. Por outro lado, a destruição do La Época não despertou interesse algum e nem foi noticiada nos EUA, embora o fato tenha sido bem conhecido pelos jornalistas norte-americanos.  Naturalmente , os meios de comunicação de massas norte-americanos não esperavam noticiar que as forças de segurança, financiadas pelos Estados Unidos, haviam silenciado a única voz independente na  Guatemala, que havia tentado , poucas semanas antes, se levantar .  Um ano depois , um jornalista do La Época, Júlio Godoy, que havia fugido após a explosão do jornal, voltou à Guatemala para uma breve visita. Quando voltou para os Estados Unidos , ele comparou a situação da  América Central com a Europa Oriental .Para ele, os europeus orientais tinham ''mais sorte que os centro-americanos '', Godoy escreveu porque :

''Enquanto em Praga o governo imposto por Moscou degradaria e humilharia os reformistas , o governo da Guatemala, criado por Washington , os assassinaria. Isso ainda continuou por muito tempo , num virtual genocídio que até então já havia feito mais de 150.000 vítimas, aquilo que a Anistia Internacional chama de ''um programa governamental de assassinato político ''. 

A imprensa ou se conformou ou , como no caso do La Época, desapareceu. ''Somos tentados acreditar '', continua ainda Godoy '' que algumas pessoas na Casa Branca rendem homenagens aos deuses astecas, oferecendo o sangue centro-americano ''. E cita ianda um diplomata da Europa Oriental que afirmara : 

''Enquanto os norte-americanos não mudarem sua atitude na região, não haverá aqui espaço para a verdade ou para a esperança. ''

Suspendendo-se no vazio ,

K.M.

Nenhum comentário:

Postar um comentário