terça-feira, 16 de maio de 2017

Science and Civilization in China.




Essa POESIA DOS FATOS  e a realização das milagrosas delicadezas da percepção na ciência contemporânea impregnam minha leitura de maneira escancarada. Há nela pontos nervosos que pressionam o futuro humano. Não por acaso, Broch e Canetti eram escritores treinados nas ciências exatas e matemáticas. A presença profunda de Paul Valery  em nossos sentimentos sobre a vida  após a morte da cultura é inseparável  de sua própria habilidade e sensibilidade poética única e alternativa ao ''resto'' , às ''outras metafísicas'' da pesquisa matemática e científica . As indagações de Queneau e de Borges , que estão entre as mais  estimulantes das letras modernas, têm por trás de si a álgebra e a astronomia. E há ainda um exemplo mais amplo, mais central . O único sucessor real de Proust foi  Joseph Needham. A ''La recherche du temps perdu'' e Science and Civilization in China, representam dois vôos prodigiosamente sustentados, controlados , do intelecto-re-creativo. Exibem aquilo que Coleridge denominou de ''poderes esempláticos '', aquela multifacetada coerência de projeto que constrói uma grande casa da linguagem para que a memória e e a conjectura nela habitem. A China da apaixonada recomposição de Needham ----- moldada interiormente, de maneira tão acentuada, antes que ele saísse em busca de sua verdade material ----- um lugar tão intrincado, tão iluminado por sonhos, quanto  o caminho de Combray. O relato que Needham, em um ensaio ''provisório'', fez sobre os erros de interpretação e a descoberta final da verdadeira simetria hexagonal do cristal  de neve tem o mesmo exato sabor de revelação múltipla transmitido pela descrição que o narrador faz do campanário de MartinVille. Ambas as obras são uma longa dança da mente.

K.M.

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