Para Weber, se à ciência não cabe emitir juízos de valor, também é preciso lidar com o fato de que os valores são seu objeto e um dos objetivos da revista da qual acabara de assumir a direção, era o de realizar uma "crítica científica" dos ideais e dos juízos de valores. Portanto, seria necessário especificar em que poderia consistir tal crítica científica. Quanto a isso, o autor afirma o seguinte:
À consideração científica é acessível sobretudo, incondicionalmente, a questão quanto à oportunidade dos meios com relação a um determinado fim [...]. Nós oferecemos àquele que age a possibilidade de mensurar entre as consequências desejáveis e não desejáveis de sua ação, e assim responder à questão: quanto custa a realização de um fim almejado, na forma de perda previsível de outros valores? [...] A ciência pode tornar consciente que cada agir, e naturalmente, segundo as circunstâncias, o não agir, significa uma tomada de posição em favor de determinados valores, e por consequência -o que de bom grado se esquece atualmente- contrária a outros. Porém, realizar a escolha é algo que compete ao homem que age (Weber 1968a, p. 149; 1981a, p. 59).
Dando continuidade a suas ideias, o autor destaca ainda que uma abordagem científica dos próprios juízos de valor pode ir além de mostrar a relação entre meios e fins implicadas em cada ação, mas pode inclusive ensinar a avaliar nossos ideais de forma crítica, mas o limite dessa crítica é o limite da própria arte da dialética, isso, é, só pode oferecer os instrumentos para uma avaliação de caráter lógico-formal, sem nada poder afirmar sobre seu conteúdo. Mostrar possíveis contradições e inconsistências; este é o seu limite. A partir disso, encontramos uma primeira formulação, ainda que tímida, pouco desenvolvida, de uma justificativa [J1] para a atitude de neutralidade axiológica por parte da ciência, expressa nos seguintes termos:
Esta pode, colocando-se este fim, conduzir aquele que age voluntariamente a uma reflexão sobre aqueles axiomas últimos que estão na base do conteúdo do seu querer, ou seja, aqueles critérios de valor últimos que inconscientemente o movem, ou - para que fosse coerente- deveriam movê-lo. Tornar conscientes esses critérios últimos, que se manifestam concretamente nos juízos de valor, é em cada caso a última coisa que ela (a ciência) pode fazer, sem invadir o terreno da especulação. Que o sujeito que julga deva conformar-se a estes critérios últimos, é uma decisão pessoal, que concerne apenas à sua vontade e à sua consciência, não ao saber empírico (idem, p. 61).
Raquel Weiss
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