sábado, 11 de março de 2017

IMPERIAL SYSTEM

Ronald Reagan colheu bem rápido os frutos de sua ofensiva a partir da chegada ao poder na União Soviética, em 1985, da Glasnost e da Perestroika de Gorbachev . O mundo do trabalho e a periferia haviam sido ''redisciplinados'', a Europa estava alinhada com o novo projeto hegemônico e a liberação dos capitais privados tinha dado início a um processo intensivo de competição e recentralização da riqueza, acompanhado da redução da participação salarial na renda dos países industrializados . Os investimentos diretos estrangeiros se expandiram velozmente e comandaram a acumulação capitalista de uma riqueza registrada , cada vez mais, em termos totalmente financeiros. Por m momento parecia aos observadores que as condições favoreciam (de fato) a construção de um novo projeto hegemônico mundial nos Estados Unidos. Em 1986 , a União Soviética de Gorbachev e os Estados Unidos da segunda administração Reagan chegaram a um acordo em torno da redução , no prazo de cinco anos, de 50% de suas forças estratégicas e decidiram pela destruição de todos os seus mísseis balísticos no prazo de dez anos . A Segunda guerra fria chegava ao fim e o que fora um enfrentamento radical transformou-se na possibilidade, inclusive , de uma parceria  atômica. Reagan , Tatcher e Kohl reelegeram-se com facilidade, e quase todos os governos europeus apoiavam as novas diretrizes ''neoliberais'''. Nesse contexto os Estados Unidos começaram a ditar o que pareciam ou pretendiam ser as regras do NOVO REINADO  : um sistema de 'regimes'' e instituições internacionais ao estilo defendido pelos pluralistas como Robert Keohane . E é quando também consolidam-se as reuniões do G-7, enquanto o G-3 tentava coordenar suas políticas cambiais frente às flutuações e às crises financeiras que começam a repetir-se, de forma periódica e cada  vez mais frequente , a partir da desregulamentação de capitais iniciada pela Inglaterra em 1986 e seguida da crise da Bolsa de Nova York, em 1987 . Nas reuniões do Plaza em 1985 e do Louvre em 1987 os Estados Unidos abandonam aparentemente sua posição de isolamento na condução da política do dólar e propõem uma ''desvalorização coordenada'' de sua moeda que não foi seguida pela desvalorização competitiva das demais moedas relevantes. O marco e o iene assimilaram a nova correlação de forças e assumiram os novos valores como um dado estrutural que se manteve até 1989 , quando tudo começa a ruir uma vez mais e os Estados Unidos voltam a conduzir de forma unilateral a sua política monetária. No plano comercial, os americanos trazem à rodada do Uruguay  sua nova visão do comércio internacional, rigorosamente livre-cambista, e com relação às dívidas externas dos países, apresentam um novo plano de renegociação --- o Plano Baker, mais tarde chamado de Plano Brady --- oferecendo maiores facilidades de pagamento . Naquele momento o FMI e o BIRD assumiram sua nova posição como intermediários entre o governo americano, a banca privada e os governos endividados , e começaram a especializar-se como instituições responsáveis pela administração coordenada das políticas econômicas do Terceiro Mundo , sobretudo a América Latina. É exatamente aqui os ''países em desenvolvimento'' são rebatizados de ''mercados emergentes'' : a DOXA segue sua apropriação operativa do Capital e sua linguagem . Em 1989, um economista chegou a chamar de ''Consenso de Washington '' ao programa de políticas fiscais e monetárias associadas a um conjunto de reformas institucionais destinadas a desregular e abrir as velhas economias desenvolvimentistas , privatizando seus setores públicos e enganchando seus programas de estabilização na oferta abundante de capitais disponibilizados pela globalização financeira. Na América Latina , a versão ''adaptada'' das idéias neoliberais ou ''liberal-conservadoras'' (como chamavam na época ) veio na forma de de uma série de ''condicionalidades'' indispensáveis à renegociação de suas dívidas externas e do seu retorno ao sistema financeiro internacional . E apesar da revolução intelectual e social que forçou o processo de redemocratização na América Latina , também esta região do espaço hegemônico norte-americano encontrava-se perfeitamente enquadrada pelas novas idéias e submetida às novas regras e formas de administração coletiva das políticas econômicas. Entre 1985 e 1991 , a tentativa coordenada de retomar a hegemonia reforça-se com o crescimento econômico mundial puxado pela economia americana . Também a Europa,  animada pelo projeto Delors e pela desvalorização de suas moedas frente ao dólar ,nestas circunstâncias pôde voltar a crescer durante cinco anos sucessivos e ainda comemorar a queda dos regimes comunistas na Europa Central e a derrubada do Muro de Berlim.  Estava iniciada uma nova ordem política e econômica mundial hegemonizada pelos Estados Unidos. Foi exatamente quando chegaram as crises da Bolsa de Tóquio , a Guerra do Golfo , o fim da União Soviética, o início de um prolongado período de recessão na Europa e no Japão , e a perda de fôlego dos ''mercados emergentes'' latino -americanos.  Fenômenos paralelos ao continuado crescimento econômico assimétrico dos Estados Unidos e de alguns países asiáticos, com destaque especial para a China . O quadro mundial desandou completamente, e a América voltou a se preocupar com o redesenho de sua estratégia mundial de poder. Foi exatamente no festivo retorno de suas tropas que o Presidente Bush anunciou  perante o Congresso o ''início de um novo século americano'' .Quem primeiro entendeu a MENSAGEM IMPERIAL enviado ao mundo pelos Estados Unidos desde o Golfo Pérsico, foram os militares e os burocratas russos. Depois de Bagdá , o regime soviético ruiu sem honra nem glória e em silêncio o mundo deixou para trás a bipolaridade da Guerra Fria . Com o fim da URSS, o neoliberalismo e a economia de mercado avançaram sobre o leste europeu.  Com os acordos assinados em Maastricht ,em 1992 , o capital financeiro se globaliza finalmente e o dólar reafirma por novos caminhos a sua supremacia financeira mundial . Como resultado dessas crises especulativas , as crises se sucedem de maneira cada vez mais frequente durante os anos 1990 , chegando ao México em 1994 e à Tailândia em 1997, mas este estranho  sistema dólar flexível resistia e contornava os acontecimentos. No caso mexicano, foram os Estados Unidos que desembolsaram a maior parte dos recursos equivalentes    ao de um Plano Marshall, enquanto no caso tailandês tocou ao Japão articular, junto com o FMI e outros onze países , a ajuda financeira necessária para tentar evitar a ''GLOBALIZAÇÃO DO CONTÁGIO''. Não está errado dizer que a política externa americana orientou-se numa direção quase única e obsessiva : ''a caça aos mercados externos ''. Esta estratégia comercial. agora radicalmente livre-cambista, se impôs contra todas as resistências nacionais , , nos acordos que deram origem à nova Organização Mundial de Comércio (OMC) dotada de regras e instrumentos extremamente rigorosos que interditam vários tipos de protecionismo, subsídio ou política de quota capaz de sustentar estratégias de desenvolvimento da produção nacional . Exatamente a mesma diretriz que orientou a inclusão do México no NAFTA e que pretendia constituir a ALCA em parceria com transnacionais norte-americanas. Crescimento do superávit comercial norte-americano com a América Latina nessa época foi elevado. Ironia que a OMC funcionasse então como o principal instrumento americano para impor seus interesses, sobretudo aos parceiros comerciais da Ásia, configurando uma estratégia global de ocupação de mercados externos pelas empresas e produtos norte-americanos, exatamente a mesma coisa que a China buscará na mesma OMC nos próximos anos, ao que tudo indica.

K.M.

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