terça-feira, 14 de março de 2017

‘’O sonho e o desejo de fundar um reino privado e também uma dinastia ‘’

Décadas após o início da crise dos anos 1970. Vemos que a globalização seguiu uma trajetória que reforça a expansão das mesmas tendências fundamentais do capital financeiro... no sentido de buscar a uniformização do capital , elevando a importância do espaço econômico. A globalização foi guiada unicamente pela possibilidade de cartelização internacional com base numa concentração mil vezes mais avançadas do capital . Claro que o poder político foi decisivo na luta competitiva de caráter econômico, e que para o capital e seu lucro a posição estatal é importantíssima , mas, na verdade , o que delimita os territórios econômicos em expansão são barreiras protetoras que não precisam coincidir necessariamente com fronteiras nacionais , tarifárias ou coloniais . Isso continua válido na nova fase de expansão e dominação do capital financeiro. O que se altera não é o papel do poder político, são suas formas de atuação e de proteção dos espaços econômicos garantidos para os seus capitais . O processo de centralização capitalista acelerado nas últimas décadas concentrou ainda mais o poder econômico num espaço político ainda mais restrito . E o controle da tecnologia e da capacidade de investimento transformou-se nas novas barreiras que se somam às intervenções às intervenções diretas das grandes potências na disputa e preservação dos seus mercados extra-nacionais. A aliança entre  o capital financeiro e os grandes poderes políticos tornou-se hoje em dia ainda mais indispensável do que no passado . Agora a competição capitalista e estatal se dá forma mais fluida mas mais concentrada, razão pela qual as novas fronteiras dos territórios econômicos estão em um processo contínuo de destruição e reconstrução , definidos pelos avanços financeiros e conquistas comerciais que são a face e o reverso das disputas estatais . A concentração do capital e do poder político através do século XX permitiu inclusive que as ‘’novas combinações ‘’ responsáveis pela inovação schumperiana fossem cada vez mais uma de obra de um ‘’empreendedor coletivo ‘’ formado por ‘’grandes blocos de poder financeiro e político ‘’, indistinguíveis entre si . Como se agora tivessem em comum mais do que nunca (nas palavras de Schumpeter ) ‘’o sonho e o desejo de fundar um reino privado e também uma dinastia ‘’. Da mesma forma, nos ciclos de expansão financeira de que nos fala Braudel , o estado se alia às finanças sustentando  a multiplicação do capital fictício , ‘’pelo toque da vara de condão ‘’ das dívidas públicas . Com a diferença que hoje em dia, avançado o processo de internacionalização e desregulamentação das finanças, surgiu uma espécie de  ‘’dívida pública mundial ‘’ que é administrada como um sistema de crédito internacional pela finança privada capitaneada por quatro ou cinco Bancos Centrais relevantes do mundo . Além do mais, desfeitas as fronteiras entre moeda, finanças e capital , as políticas monetárias se transformaram em alavancas simultâneas da competição entre os Estados e do jogo especulativo e da acumulação da riqueza abstrata.


K.M.

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