Seja qual for o critério empregado para medir o tamanho de um setor (gastos , empregos ou benefícios ) , não há dúvida que o setor público dos Estados Unidos aumentou substancialmente até 1980, quando as recessões dos anos 1970 e a quase depressão do início dos anos 1980 tornaram-se decisivas para a formação do consenso de que o Welfare State estava gerando uma redistribuição desastrosa de recursos do setor privado para o público. Em 1981 todos os países desenvolvidos alocaram mais da metade do total dos gastos públicos para finalidades de welfare state . A maior parte do aumento de empregos públicos ocorreu na educação e nos serviços sociais e de saúde . Mas os obviamente os gastos públicos não vão apenas para os salários dos empregos públicos, mas tbm para os salários do setor privado contratado pelo setor público (setor especialmente grande na América ). No final dos anos 1970 a renda provindas do governo (através de empregos ou transferências ) representava 41% do total das rendas nos Estados Unidos ; e a renda provinda da OCDE era substancialmente mais alta que o total dos lucros e da renda das empresas . Foi exatamente esta transferência de fundos do setor privado para o público que se tornou a raiz do problema da estagnação econômica nas economias ocidentais desde então . Considerando que tal problema (a estagnação ) se baseia na limitada disponibilidade de capital para investimentos produtivos , em virtude da alocação pública de capital escasso para o consumo improdutivo . A conclusão operacional então passa a ser a da necessidade de reverter essa transferência de fundos, fazendo voltar os recursos do setor público para o privado . Esse foi o fundamento oficial dos cortes mais drásticos, que se iniciaram durante o governo Carter e se expandiram ao extremo durante o governo Reagan . A taxa anual de crescimento dos gastos declinou de 7,9% (de 1964 a 1978) para 3,9% em 1979 e 1980 , e menos de 1,5% durante a década de 1980 . Vale a pena esclarecer aqui que enquanto o argumento ''anti-welfare state'' se relacionava com o volume dos gastos públicos globais , a maior parte dos cortes governamentais ocorreu nos gastos sociais. E nos Estados Unidos esses cortes foram especialmente acentuados nos gastos dependentes de ''testes de recursos financeiros, que serviam aos estratos de baixa renda da classe trabalhadora . ''QUANTO MAIORES OS GASTOS SOCIAIS MAIS BAIXO O DESEMPENHO ECONÔMICO'' tornou-se o lema para resumir a escassez de capital privado e uma ''relação inversa'' entre o tamanho do setor público e o desempenho da economia . Vários estudos americanos mostram que não houve escassez de capital durante os períodos de estagnação citados. Entre 1975 e 1980 , as empresas nos Estados Unidos consiguiram tomar emprestado U$ 100 bilhões para propostas de compras de ações, parte dos chamados ''empreendimentos de papel '' (fusões e outros empreendimentos não -produtivos ) .Esses empréstimos de dinheiro de bancos privados estavam ocorrendo ao mesmo tempo que o establishment político e o empresarial queixavam-se da ''falta de liquidez ''. alegando que esta tinha sido absorvida pelo Welfare State. E não apenas isso : ainda durante esse período os bancos particulares nos EUA emprestaram ( à força ??) U$ 700 bilhões para países latino-americanos, contribuindo substancialmente para o problema de suas dívidas externas . Na verdade, a melhor prova de que não existiu problema de falta de liquidez é que os bancos norte-americanos e europeus estavam competindo ferozmente no mundo inteiro, numa busca desesperada de clientes a quem emprestar dinheiro . Não houve escassez de liquidez nos anos 1970 e 1980 . Os Estados Unidos tiveram um desempenho econômico fraco no fim da década de 1960 e durante toda a década de 1970 ; um desemprego mais alto e um crescimento econômico mais baixo que o da Itália, da França e da Alemanha Ocidental . No entanto , nos Estados Unidos o total dos impostos descontados na folha de pagamento e dos bônus para benefícios adicionais eram muito menores (26 % do total dos salários ) do que na iTália (51%) , na França (44%) e na Alemanha Ocidental ( 40% ) . Aqui eu gostaria de me dirigir não às forças ''anti-welfare state '' , mas a algumas forças ''pró-welfare state '', as de ''orientação fabiana '' , para quem a falta de correlação entre o crescimento econômico e o volume dos gastos sociais ou a taxa de crescimento desses gastos questiona a premissa amplamente assumida de que o crescimento econômico é a pré-condição para a expansão do Welfare State. A pressuposição bem conhecida de Tony Crosland de que ''uma rápida taxa de crescimento é uma pré-condição para o estabelecimento do Welfare State ''. Contudo, em alguns países com grandes gastos sociais o crescimento mostrou-se rápido, e em outros, com gastos tão altos, ele mostrou-se lento . De modo que não há correlação, e um grande Welfare State continua sendo até hoje um problema ideológico, estratificado até o nível da total irrelevância no debate entre ortodoxia e heterodoxia econômica. A explicação ''anti-welfare state'' ganha uma roupagem técnica quase cômica ao associar-se à necessidade SEMPRE urgente de reduzir o déficit fiscal norte-americano a fim de estimular o crescimento e o nível de emprego . Mas na mesma época em que se discute e implementa tudo isso, a Suécia e o Japão apresentam déficits muito maiores (15% e 17% do PIB, respectivamente ) que os Estados Unido (5% do PIB ), e ambos os países possuíam taxas mais altas de crescimento econômico e nível de desemprego mais baixo que os Estados Unidos. Outro argumento clássico da época era o de que ''um grande déficit fiscal caminhava junto com a inflação . Mas esses três países, Estados Unidos, Suécia e Japão , tinham déficits imensos e ainda assim desfrutaram de taxas de inflação das mais baixas do mundo ocidental . Obviamente, é fato que a experiência de governo de Ronald Reagan é mencionada geralmente como uma experiência bem-sucedida que as forças neoliberais gostam de emular .Até líderes socialistas como Mitterrand e Craxi chegaram a se referir à economia de Reagan , ou ''Reaganomics '', como uma experiência modelo . Keynesianismo ortodoxo ??? A imensa depressão de 1981-1983 foi em grande parte corrigida por medidas keynesianas ortodoxas, isto é, estímulo de economia por meio de aumento dos gastos públicos e criação de um grande déficit fiscal. De fato , apesar da retórica anti-governamental da administração Reagan , o tamanho do setor público durante seu governo aumentou substancialmente. Descontando a inflação , o governo Reagan gastou 30% mais em 1985 do que em 1980. E esse crescimento não foi devido ao aumento dos empregos públicos federais , (que na verdade diminuíram sob Reagan ) ou às transferências sociais muito maiores, mas sim , ao aumento dos subsídios e da compra de bens e serviços . Esse aumento foi possibilitado pela transferência sem precedentes de fundos federais do setor social para o militar, e por um enorme aumento do déficit federal . Desde 1980 o orçamento da Defesa dobrou. Esse crescimento dos gastos militares só foi possível graças aos cortes nos gastos sociais. Entre 1982 e 1985, os gastos militares aumentaram em U$ 90 bilhões, ao passo que os gastos sociais sofreram perda de U$ 75 bilhões. De 1980 à 1985 a aquisição de armamento aumentou em 100% .Esse crescimento dos gastos militares sob Reagan correspondeu a uma política explícita de reindustrializar a América. Como afirmou o Secretário da Defesa Casapar Weinberger , um efeito benéfico do crescimento dos gastos militares (mais de um trilhão em 5 anos ) é a reindustrialização da América. Como esclareceu muito bem L. Thurow o ''Departamento de Defesa dos Estados Unidos muitas vezes desempenhou o papel do MITI japonês ma economia americana ''. Nessa época o orçamento para pesquisa do Departamento de Defesa representou nada menos do que UM TERÇO de todo o dinheiro gasto com pesquisa no país .O governo americano emprestava ou avalizava um trilhão de dólares , como o maior banco do mundo. Portanto, é difícil , à luz de todos esses fatos, justificar uma definição do governo Reagan como ''não-intervencionista '' ou neoliberal . Além do mais, o keynesianismo militarista de Reagan não foi um sucesso tão absoluto quanto veio sendo pintada historicamente . A taxa anual de crescimento de empregos durante seu governo (1,56%) foi mais baixa que em todos os governos Democratas desde a Segunda Guerra (Truman 2,4% , Kenedy-Jonhson 2,73% , e Carter 3,3 % ) ; foi mais baixo até do que a dos governos republicanos anteriores (Nixon-Ford 1,97% ). E apesar de toda a retórica sobre o grande número de empregos criados, a média anual em 1981-1985 foi menos da metade dos empregos criados entre 1976-1980, e não alcança a média obtida nos dez anos de 1966 a 1975 . analogamente , o índice médio anual do crescimento real do PIB não foi mais alto em 1981-1985 do que em 1976-1978. apesar de todos os incentivos tributários para a formação do capital empresarial , o crescimento médio anual em gastos com instalações e equipamento foi, na verdade, substancialmente mais baixo em 1981-1985 do que nos dez anos anteriores. A única área em que Reagan se saiu realmente melhor que seus predecessores foi no controle da inflação, que foi mais mais do quw nos anos 1970, mas não mais do que nos anos 1960 . E essa redução da inflação só foi conseguida às custas da (até então ) segunda pior depressão econômica da história americana , com o crescimento mais baixo e o mais alto desemprego desde 1930 . Houve certamente uma piora na qualidade de vida dos americanos nos anos 1980 .
K.M.
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