Harry Heltzer , presidente do conselho da 3M (que abandonou seu nome provinciano de Minnesota Mining and Manufactoring Company ) acreditava que os administradores de tais empresas eram então (em fins da década de 1970) ''os autênticos radicais '', e que somente eles poderiam conceber soluções para os grandes problemas da humanidade. Lee L. Morgan, então vice-presidente executivo da Caterpillar Tractor Company , pensava então que as empresas descobririam uma situação em que ''ganhariam sempre '' . Quando firmas americanas investiam no exterior ''todos se beneficiavam'', ele dizia: ''Países pobres obtém a tecnologia de que necessitam , capital de financiamento, impostos , especialização administrativa e aumento das exportações. Os cidadãos americanos (segundo eles) conseguiriam maior número de empregos, melhores balanços de pagamentos e todos os demais benefícios de um mundo integrado e pacífico . Carl Gerstacker dizia que era até possível lucrar no combate à poluição . Maisonrouge opinava que havia dinheiro a ganhar quando se empregavam e promoviam mulheres e se satisfaziam todos os anelos da juventude em todo o mundo por trabalho interessante e estimulante . A. W. Clausen do Bank of América, acreditava haver lucros enormes na reconstrução e desenvolvimento do sudeste asiático : ''Acho que devemos voltar-nos vigorosamente para o setor privado para fechar o hiato de renda entre as nações desenvolvidas e as subdesenvolvidas '', dizia . A CPC acreditava que poderia contribuir para resolver o problema da fome no mundo , continuando a criar alimentos altamente proteínados a baixo custo, como a JBS . ''Os altos executivos da maioria das transnacionais '', dizia José de CUbas, vice-presidente mais graduado da Westinghouse ''Usam uma linguagem altamente revolucionária e que teria sido inconcebível há dez anos ----- qualidade de vida, meio ambiente, responsabilidade social, serviços, lazer , enriquecimento, participação, satisfação no emprego . Enfim, a retórica habitual das multinacionais podia ser resumida em três palavras, entre a década de 1970 e 1980 : ''TODOS SE BENEFICIAM '' , o que explicava parte do poder ideológico do novo globalismo para mascarar suas manobras. Na busca da legitimidade , os administradores mundiais procuravam criar o novo consenso capaz de incorporar todos os movimentos progressistas e satisfazer os ''mais profundos anseios humanos '', ao menos publicitariamente. A PAZ MUNDIAL ATRAVÉS DO COMÉRCIO MUNDIAL !! , era um lema atrativo num mundo despedaçado por guerras onde se gastava mais de U$ 200 bilhões de dólares em armamento para ''proteger'' uma população mundial cuja maioria ganhava menos de cem dólares por ano . Num contexto como este, não deixa de ser ''consolador'' saber que havia lucro a ser obtido na limpeza do ar e do mar e no melhoramento da qualidade de vida geral , e ainda mais consolador que esses lucros tornariam finalmente TODAS AS PESSOAS mais ricas e felizes . Aqui nunca duvidamos que todos esses utopistas da idade espacial estavam em condições de tirar proveito das idéias mais modernas do século XX a a favor de sua ideologia . Se estávamos ou ainda estamos vivendo uma era de ''planejamento'', aqueles novos globalistas, aquelas novas transnacionais, pretendiam apresentar-se ao mundo como os únicos a possuírem as pretensões, a autoridade , a capacidade operacional e os recursos para ''planejar '' em escala mundial . Entramos na era da tecnologia e eles controlam a maior parte dela. Entramos na era da meritocracia e o poder dos administradores transnacionais não derivam mais apenas do que possuem , mas ainda mais do que ''agora'' todos eles sabem . O Destino se encarregou de dar aos globalistas um conveniente conjunto de inimigos ao longo das últimas três décadas. Eram óbvias as falhas, fissuras e inadequações pelas quais o Estado-nação vinha sendo penetrado pelo globalismo . A ''qualidade de vida'' transformou-se num clichê high-tech e higiênico no começo dos anos 1990 nos Estados Unidos justamente no momento em que todos passaram a notar sua ausência. Enquanto senadores sulistas começaram seus discursos mais patrióticos com aqueles apologéticos ''Posso ser antiquado, mas... '', os globalistas retalhavam a bandeira americana para fazer calças e a resposta publicitária , repercutida nas massas através da indústria cultural , era : ''AMÉRICA : AME-A OU DEIXE-A '', muitas vezes como frases coladas nos pára-choques de seus carros , produto de uma campanha secreta, premeditada e mal intencionada contra o patriotismo convencional , acusado de causar a perda de fé dos americanos no próprio processo político. Acusação que começou a ser ''fabricada'' com propósitos publicitários muito claros . Porque a perda da fé transcende ideologias. Foi assim tbm que o socialismo perdeu terreno como religião mundial. Quando o campo socialista fracionou-se em frações hostis e as duras realidades do Estado Soviético transformaram em zombaria o sonho socialista. A China, igualmente, estava se mostrando cada vez mais ansiosa para adquirir tecnologia junto às empresas transnacionais desde os anos 70 , e todo mundo sabe o que ela conseguiu com sua política de ''propriedade intelectual '' na indústria. Os chineses aprenderam muito rápido com os japoneses como adquirir tecnologia externa sem perder o controle de setores industriais avançados . Logo passaram a apresentar mais sofisticação na negociação de acordos de licenciamento do que os japoneses, e tinham todo o cuidado de obter não apenas o ''know-how'' fabril , mas tbm o desenho básico e os conhecimentos de engenharia . Na verdade, até o fim do século XX, o aumento da suspeita e da hostilidade nacionalista para com as empresas transnacionais só conseguiu plantar-se politicamente para enquadrá-las, a reação e a mudança de paradigma só está se tornando possível agora. Isso não significa que os altos executivos precisem referir-se à seus escritórios em arranha-céus do mundo inteiro como cidadelas sitiadas. As pretensões políticas sempre maiores e mal dissimuladas das empresas transnacionais são inevitáveis, mas inevitavelmente também , agora elas significarão cada vez mais exposição pública, o que carrega consigo o risco de aumento da hostilidade e das suspeitas.
K.M.
Nenhum comentário:
Postar um comentário