Tanto Adam Smith quanto Karl Marx acreditavam que uma característica básica do capital é ser internacional . Para Smith , era uma questão de bom senso que o capital fosse libertado de barreiras políticas nacionais . Para Marx , a expansão progressiva do mercado através da internacionalização do capital constituía necessidade histórica do capitalismo . Os administradores mundiais são os promotores mais ativos da predição marxista : a nação -Estado , que no século XIX assinalou um avanço sobre as organizações políticas anteriores , não está à altura do desafio do mercado global . George Ball previu certa vez que , falando perante a Câmara dos Comuns canadense , que a lógica da economia levaria inevitavelmente à integração dos Estados Unidos e do Canadá . Lealdades territoriais bairristas cedem à racionalidade econômica. O fato de os interesses e lealdades dos capitalistas transcenderem o território nacional foi notado por Thomas Jefferson : ''Mercadores não possuem país que chama de seu . Onde quer que se encontrem , nenhum laço formam com o solo . Interessa-lhes apenas a fonte de seus lucros '' . O Presidente Eisenhower apresentou essencialmente o mesmo argumento em 1960 , no Rio de Janeiro , quando declarou que '' o capital constitui algo curioso, talvez sem nacionalidade '' (risos ) . Flui para onde é melhor servido '' . As companhias internacionais adotam tradicionalmente uma visão tolerante do patriotismo, em busca de um devir simbiótico e bem explorado. As grandes companhias químicas e petrolíferas que tinham acordos de cartel com firmas alemãs no início da Segunda Guerra Mundial opuseram-se ativamente ao combate contra Hitler. Adolph Berle descreve as dificuldades que os Estados Unidos tiveram nas vésperas da guerra para levar companhias americanas a deixar de cooperar com os alemães na América Latina . Durante a Guerra Fria , companhias adotaram engenhosas manobras para ladear as restrições do Departamento de Estado e do Pentágono sobre a venda de materiais ''estratégicos '' à União Soviética e à China . Em 1973 , a subsidiária filipina da Exxon recusou-se a vender petróleo à Marinha americana na baía de Subic porque seu interesse dominante consistia em fortalecer o boicote árabe mundial contra os Estados Unidos. Banqueiros americanos , acreditando que o capital é tanto internacional como não ideológico , fazem negócios com bancos nacionais russos e búlgaros há muitos anos . Falando-se sobre a renovação de um de seus empréstimos à Bulgária, Daniel Davidson , diretor do Morgan Guaranty Bank em Londres , soltou uma risadinha : 'Tanto quanto sabemos , eles podem estar comprando urânio com o empréstimo ''. Uma idéia do quão pouco as empresas podem dar-se ao luxo de lealdades locais é revelada pela história da expansão das mesmas nos Estados Unidos, As companhias mais antigas , as fábricas de tecido, eram locais em sentido político . Construíam e administravam cidades da companhia , e os negócios e a comunidade circundante cresciam juntos. As lealdades locais, porém , foram logo deixadas de lado quando as companhias começaram a crescer mais que os mercados local e regional . Tranquilamente , dispuseram-se a sacrificar as comunidades locais para construir o mercado nacional . As cidades -fantasma de Massachusetts e Appalachia , outrora centros de indústrias locais, foram abandonadas por empresas que se dirigiram para o sul e para o oeste em busca de mão-de-obra mais barata. Uma cidade como Gary, Indiana , transformou-se em área de serviço de empresas nacionais como a U. S. Steel . Os executivos da U.S. Steel não residiam em Gary, obviamente ) . Uma vez que (em apertada síntese)sentiam uma compulsão cada vez maior para um crescimento cada vez maior , não se podem dar ao luxo de prender-se a qualquer território . Este é o significado de serem ''de pés ligeiros '' , uma expressão usada pelos administradores mundiais para descrever suas operações. O relacionamento entre grandes empresas com interesses no exterior e o governo americano evoluiu incessantemente ao longo de dos anos . O último estágio foi a consequência do espetacular declínio dos Estados Unidos sob os Democratas como potência global . Raiou uma nova era na política mundial em que a prudência aconselha mais liberdade na escolha dos amigos e mais cautela no uso da força . Durante os 25 anos em que os Estados Unidos foram a nação mais poderosa da Terra , e mais fortes e notórios os laços entre Washington, Wall Street e Detroit, as companhias americanas foram beneficiadas e desenvolvidas. Quando a CIA removeu Mohamed Mossadec , o turbulento premier iraniano que ''irracionalmente '' tentou interferir nas perspectivas da Gulf and Standard Oil de assumir o controle do petróleo do país, ou quano a mesma agência correu em socorro do bananal guatemalteco para salva-lo da United Fruit de uma nacionalista ''subversivo '' eleito pelo povo , essas iniciativas foram consideradas patrióticas e aplaudidas pelos empresários . Haviam sido conjuntamente defendidas a pureza do capital e a da ideologia . Quanto mais dispostos se mostravam o Pentágono e a CIA para derrubar ou instalar governos nos países subdesenvolvidos, melhor era o clima de investimentos para as empresas americanas. O poder militar foi usado para estabelecer as regras mestras, dentro das quais podiam operar as empresas. O governo servia mais como uma espécie de consultor poderoso. O orçamento militar constitui, talvez , o melhor exemplo da compatibilidade entre patriotismo e lucros. Durante a Guerra Fria, o Departamento de Defesa dispôs de 40 a 50 bilhões de dólares anuais para distribuir pelas empresas através de contratos de fornecimento . Com 6 bilhões de dólares anuais para gastar em pesquisas, grande parte das quais foi empregada nos custos de desenvolvimento de produtos civis da Boeing 707, o Pentágono Pentágono foi um dos maiores subvencionadores de algumas das maiores empresas . Quando empresas de eletrônica e aviação faziam anúncios de página inteira nos jornais e revistas , advertindo contra a ameaça soviética , elas estavam cumprindo , da maneira como encaravam a coisa , simultaneamente um dever patriótico e uma oportunidade comercial .
K.M.
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