domingo, 30 de abril de 2017

Algumas variações na taxa iene-dólar.

A era pós-Breton Woods foi marcada por quatro períodos distintos de queda extremamente acentuada do dólar em relação ao iene e por quatro períodos em que o dólar reverteu suas tendências declinantes e ascendeu em disparada. Ao longo dos últimos 25 anos, o grau de apreciação acumulado do iene superou em muito o seu grau de depreciação. Os dois primeiros aumentos na taxa iene-dólar seguiram-se aos choques do petróleo dos anos 1970. Ou seja , o iene enfraqueceu nos intervalos de 1973-74 e1978-79. O terceiro período atípico na trajetória ascendente do iene  coincidiu aproximadamente com o primeiro governo Reagan nos Estados Unidos (1981-1984) , quando o dólar fortaleceu-se movendo-se de sua posição em torno de Y 203.00 por dólar para Y251.10 por dólar entre 1981 1984. Uma quarta reversão na subida do iene ocorreu tbm de abril de 1995 até o ano 2000. Com relação à trajetória de ENDAKA, o primeiro aumento substantivo  no iene --- de Y357.52/U$ para Y302.44/U$ --- teve lugar imediatamente após a ruptura do sistema de Bretton Woods. A segunda elevação expressiva ocorreu em dezembro  de 1975 a outubro de 1978 ( de Y305.70 para Y183.95) , entre as duas crises mundiais do petróleo.  Após um hiato de sete anos, iniciou-e a terceira fase de valorização acentuada. Em 1985, quando o ajuste promovido  pela ''diplomacia do dólar forte'' já havia cumprido dua função, os EStados Unidos persuadiram os demais países do G-5 (Japão, Inglaterra, França e Alemanha ) que uma aterrisagem forçada (hard-landing) do dólar sobrevalorizado poderia produzir sérias consequências para a economia mundial e promover um acordo pelo qual seus respectivos bancos centrais agiriam concertadamente para reduzir o preço do dólar em condições controladas . Isto resultou num aumento mensal  de 4, 37% no valor do iene entre setembro de 1985 e abril de 1986, perfazendo um aumento total de quase 35% em pouco mais de seis meses. A intervenção coordenada dos bancos centrais após os Acordos do Plaza consegue, assim , levar a taxa iene-dólar de volta ao seu patamar de 1981, antes do governo Reagan. A fase seguinte de aumento acentuado do iene em relação ao dólar começou bem pouco depois do início do governo Clinton, em janeiro de 1993. O iene passou de Y 125/U$ para Y 100,40/U$ nos primeiros sete meses daquele ano . Em 19 de abril de 1995 amoeda japonesa atingiu seu pico histórico, sendo cotada a Y79.75 /U$. Novamente, a pressão altista sobre o iene foi desde então aliviada e começou a reverter seu curso. Em abril de 1997 o iene era vendido a Y126.90/U$ Tanto os estudos sobre a situação econômica do Japão como um todo, quanto relatos sobre companhias específicas sugerem que no final dos anos noventa o Japão enfrentou consideravelmente mais dificuldades do que antes em adaptar-se às continuadas pressões cambiais. Em sua Economic Survey of Japan (1993-1994) , a Agência de Planejamento Econômico japonesa (EPA) esclarecia porque este período de mudanças na taxa iene-dólar era diferente daquela de meados dos anos 1980. 

K.M.

Coordenação entre o Fed e o Banco Central do Japão.


Durante a vigência do sistema de taxas de câmbio  de Bretton Woods, estabelecido logo após a Segunda Guerra Mundial , exportadores, importadores, investidores e órgãos governamentais, tanto japoneses quanto americanos , foram forçados a formular políticas e estratégias baseados numa paridade fixa  de Y 360 por dólar . Entretanto, desde o começo da ruptura do sistema de Breton Woods em 1971 , quando o então presidente americano Richard Nixon pôs termo ao compromisso dos Estados Unidos de converter dólares em ouro , o iene sofreu uma apreciação da ordem de 400% frente à moeda americana. Esse período foi marcado por momentos de significativa volatilidade das taxas de câmbio: ao longo dos últimos vinte e cinco anos , o iene sofreu elevações agudas em quatro momentos diferentes  e atravessou quatro períodos de acentuada depreciação. Como resultado, mais instituições japoneses sofreram sofreram perdas substanciais. Analistas estimam que o montante de receitas cambiais japonesas perdidas devido aos fortes aumentos frente ao dólar desde 1971 , situa-se entre U$ 400 e U$ 720. Em um antigo artigo da Business Week intitulado '' The Superyen Could Soon Fall Back to Earth, de 1995, William Glasgall cita a Merryll Lynch and Co. , como tendo ''estimado que os investidores japoneses '' já acumulavam '' U$ 400 bilhões em perdas cambiais não -realizadas. Apesar das perdas incorridas em cada subida subsequente do iene em relação ao dólar, até os anos noventa a economia japonesa parecia adaptar-se com razoável eficácia às mudanças no cenário internacional. DE fato, o repasse dos ônus do iene valorizado para os consumidores domésticos, na forma de preço mais elevados, e a transferência de partes consideráveis e suas instalações produtivas para o exterior, tornaram-se práticas comuns para as firmas japonesas,  O Japão passou por recessões causadas pelas elevações anteriores do iene, mas estas foram sempre de curta duração e vieram seguidas de períodos marcados por taxas de crescimento econômico respeitáveis. Entretanto, a significativa desaceleração japonesas no início dos anos 1990 (em 1993 o PIB cresceu apenas 0,1 %) e a incerteza quanto à capacidade do Japão para consolidar um padrão de crescimento sustentável a médio prazo com base na demanda do setor privado, criaram sérias preocupações acerca da apreciação do iene ---- ou endaka, como é comumente chamada em japonês. Em função das diminutas taxas de crescimento do Japão nesta década, vem sendo cada vez mais difícil recorrer ao consumidor doméstico para que absorva eventuais aumentos no valor do iene. Além do que, é possível que o ritmo veloz em que as firmas japonesas passaram a deslocar sua  produção manufatureira para o exterior tenha resultado numa exacerbação do problema do desemprego no país. Além disso , a instabilidade de muitas firmas japonesas, no início da década de 1990, incluindo os bancos do país,  aparentemente impediram que aquelas mantivessem os níveis de inversão nos mercados financeiros americanos que alcançaram nos anos 1980. O fato de que as firmas japonesas tenham sido forçadas a se desfazer de títulos e ações americanos gerou pressões altistas ulteriores sobre o iene em relação ao dólar. E a questão ganhou ainda maior significação diante do ritmo acelerado  da integração entre as economias do Japão e de seus vizinhos asiáticos, que os tornou crescentemente vulneráveis a eventuais oscilações altistas do iene. Mesmo para além da esfera de influência imediata do Japão , a estreita inter-dependência dos mercados financeiros em âmbito mundial fez da apreciação do iene uma das causas diretas da crise do peso mexicano de dezembro de 1984, com um impacto bastante negativo em toda a América Latina.Neste contexto , apesar de haver adotado um discurso público destinado à ''empurrar'' o iene durante os primeiros estágios da administração Clinton (o chamado ''talking up ), o governo americano começou a dar sinais de estar preocupado com uma possível valorização excessiva do iene . Em 1995 e 1996 os policy-makers americanos claramente envidaram esforços consideráveis para evitar a apatia econômica japonesa fosse transmitida à economia mundia l. O Federal Reserve Bank agiu em coordenação com o Banco Central do Japão em diversas ocasiões para promover maior estabilidade nos mercados cambiais e para evitar que o iene subisse demais. Foram exatamente tais esforços que possibilitaram reverter a trajetória de valorização do iene e trazê-lo aos seus níveis atuais de cerca de Y 115-120 dólar. Mesmo a imprensa internacional, liberal até a medula, notoriamente ortodoxa em todas as suas suas apresentações, foi capaz de admitir na época o papel abertamente decisivo das intervenções coordenadas dos a bancos centrais dos EStados Unidos e do Japão para reverter a apreciação do iene.  Uma dessas admissões tbm pode ser encontrada no artigo de William Dawkins ''Dangerous Paradox of Japanese Power '' . Na medida em que os Estados Unidos demonstravam estar dispostos a intervir para reverter a trajetória de valorização do iene e trazê-lo aos seus níveis de então de cerca de Y 115-120 por dólar.  Para restringir a subida do iene, fazia-se sentir sobre o Japão uma pressão crescente para que ali se adotasse, por sua parte, medidas de respaldo a uma maior estabilidade de sua moeda. Primeiramente, foram feitas incursões na área da desregulação financeira ---- cujos antecedentes remontam à 1980, com as modificações à Lei de Controle Cambial e do Comércio Exterior, mas que ão havia sofrido qualquer alteração estrutural até as medidas recentes. No segundo semestre de 1995 , o Ministério das Finanças japonês (MOF) anunciou um expressivo número de medidas de desregulação objetivando estimular o s seus residentes a comprar ativos no exterior e, ao mesmo tempo , limitar a exigência e que empresas japonesas tenham que fechar  câmbio em iene para realizar transações com o exterior . O Ministério das Finanças relaxou , por exemplo , as normas que regulavam  o nível permitido de depósito em moeda estrangeira no exterior e começou a permitir que investidores locais pudessem montar arranjos cambiais com bacos fora do Japão , em vez de obrigá-los a operar por intermédio de subsidiárias no estrangeiro.  Em segundo lugar ,o Japão então intensificou seus esforços para firmar acordos de revenda e recompra de títulos públicos denominados em dólar (REPO) com diversas autoridades monetárias na Ásia --- Austrália, Hong-Kong, Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura e Tailândia ----- para ''aumentar a liquidez em bases BILATERAIS ''. Esses acordos implicaram em intervenções conjuntas por parte dos bancos centrais envolvidos para contrarestar oscilações mais bruscas do iene. Meu propósito  final será analisar aqui algumas lições gerais que podemos retirar dos movimentos relativos entre o iene e o dólar desde os anos 1970 .

K.M.

Relação entre a moeda americana e a moeda japonesa.

Amparado em sua condição como uma das mais estruturadas economias do planeta, em que se converteu em função de sua própria trajetória de desenvolvimento e expansão econômica, o Japão foi um dos últimos países a aceitar a proposta estratégica da globalização financeira preconizada por Washington . Nos próximos dias eu procurarei examinar  o comportamento da mais elusiva dentre as variáveis macro-econômicas, o CÂMBIO , desde a fase do ''desafio japonês '' até o momento subsequente ao do enquadramento do Japão . O iene como moeda já se achava ''enquadrado '' desde sempre, na medida em que jamais chegou a ter o empuxe necessário para libertar-se do dólar ---- o diferencial de juros japoneses e americanos, que espelha rigorosamente o movimento decidido nos Estados Unidos. A rigor, é a estratégia econômica nacional japonesa que veio a ser o objeto de tal enquadramento . Portanto, faço aqui uma alusão truncado à minha intenção de discutir pormenorisadamente  a relação entre a moeda americana e a moeda  japonesa no bojo de um movimento que chegou até nossos dias, e que foi um movimento em última análise político, de chamada à hierarquia dos japoneses pelos americanos.

K.M.

Continuo num minuto.

Aprendendo com os gansos.


O modelo dos gansos voadores certamente poderia ser apresentado de forma ainda mais geral do que a que fiz até agora. A hipóteses básica é a de que as manufaturas com menor densidade tecnológica vem sendo reproduzidas sequencialmente em países com menor grau de industrialização aproveitando espaços anteriormente ocupados pelos países mais desenvolvidos . A dinâmica deste movimento pode ser atribuída a : 1 - no caso do ganso líder : substituições de exportações decorrente da penetração em novos setores com maiores taxas de crescimento nos mercados mundiais e com maiores efeitos expansivos sobre a economia e as pressões do balanço de pagamentos ; aumento repentino e contagioso do protecionismo  nos mercados consumidores (Estados Unidos principalmente) ; e no caso do ganso retardatário : aproveitamento dos espaços abertos pelo ganso líder nos grandes mercados consumidores e introdução de técnicas anteriormente desenvolvidas por aquele. Uma vez exaurido os efeitos decorrentes da introdução, num país, de setores , tecnologias, ou , se quiser, uma vez adquirida maior maturidade industrial ---- menores efeitos expansivos internos, maiores pressões sobre a balança comercial  ---- o deslocamento tecnológico do ganso líder estimulando a introdução de novos setores e técnicas --- tanto mais rápida quanto for efetiva a política industrial de catching-up ---- abrindo espaço para o ganso subsequente internalizar as atividades de menor densidade tecnológica e repetir a mesma dinâmica. A macroeconomia expansiva observada na região apresentou desde os anos 1980 superávit comercial com os países da OCDE, e em especial com os EStados Unidos, viabilizando no Sudeste e no Sudoeste asiático uma estratégia de especialização e deslocamento sequencial de indústrias. O déficit comercial  intra-indústria dos países mais atrasados com o Japão foi parcialmente compensado por superávits no comércio intra-indústria  e inter-indústria com a OCDE . A disponibilidade de financiamento externo dos bancos e agências oficiais e o crescimento do IDE associado às exportações manufatureiras vieram até o presente  financiando o déficit em transações correntes sem abortar o crescimento econômico.

K.M.

A Ética Samurai no Japão Meiji



Gabriel Pinto Nunes

No final do século XIX, os movimentos conservadores que se proliferavam com o intuito de manter o poder político exaltavam o tradicionalismo dos camponeses como um comportamento necessário para barrar a modernização que destruía o velho sistema de subordinação. Entretanto, o Japão foi um exemplo de país que sofreu um processo de modernização econômico e político mantendo as relações sociais praticamente intocáveis. Foi um exemplo de país que conseguiu abolir o sistema de produção feudal adotando o capitalismo sem abandonar a estratificação social concebida durante os anos de domínio político dos samurais, conhecido como Período Tokugawa ou Edo (1603-1868).

“Teoricamente, era possível conceber uma ‘modernização’ que mantivesse a velha organização social (possivelmente com um pouco de invenção ponderada de tradições), mas fora o Japão, é difícil encontrar outro exemplo de sucesso na prática”. (Hobsbawm, 2008, p. 274)

Até 1852, o Japão utilizou uma política isolacionista (Sakoku), fechando seus portos a todos os povos, com exceção dos chineses e holandeses, com quem continuaram a manter laços comerciais por mais de duzentos anos (JANSEN, 2000). Tal isolamento do mundo fez com que o poder político do xogunato e a estrutura social se mantivessem por tanto tempo sem que sofresse nenhum tipo de ataque de movimentos políticos interessados na reestruturação social do país. No Japão, ao contrário da Europa, o comércio que originou o capitalismo como o conhecemos não teve elementos suficientes para surgir, o que justifica ofato de, às portas do século XX, este ser um dos poucos países do mundo no qual ainda resistia um sistema de produção similar ao feudal. Juntamente com a abertura dos portos e a entrada massiva de estrangeiros, chamados de oyatoi gaikokujin , para ensinar aos japoneses as novas técnicas ocidentais a serem utilizadas na nascente indústria, houve a propagação de missionários protestantes e ideias que não tiveram um desenvolvimento natural dentro do pensamento nipônico como ocorreu na Europa. Podemos afirmar que a produção acadêmica japonesa no início do século XX foi uma cópia daquilo que era feito na Europa, tanto que muito dos intelectuais que trocaram o confucionismo em favor das filosofias ocidentais as usavam sem muita preocupação, como senão houvesse problemas em utilizar argumentos de escolas antagônicas de pensamento. Isso não ocorria por desleixo ou incompreensão por parte dos japoneses, mas por haver uma ânsia em assimilar o máximo possível de informações e tentar aplicá-las ao mundo em que viviam. Somente com Nishida e a Escola de Kyoto houve uma verdadeira estruturação da pesquisa científica em filosofia no Japão, de maneira organizada baseada principalmente nos estudos de Heidegger. Até então, tínhamos o desenvolvimento de diversas doutrinas de pensamento sem que houvesse continuidade posteriormente. Neste período imediatamente anterior ao de Nishida existiram diversos intelectuais que tentaram utilizar as filosofias ocidentais como sustentação de pretensões governamentais, entre as quais podemos destacar a preocupação de unificação nacional em torno de uma identidade japonesa autêntica. Essa preocupação com a unificação se devia ao fato de o Japão sempre ter sido um arquipélago composto de diversos povos com particularidades culturais que os diferenciavam. A aparente unidade política era mantida por meio de tratados políticos e acordos firmados ao final de guerras, ajudados pela política isolacionista. Rapidamente, os japoneses aprenderam com os europeus a importância da unificação como instrumento de crescimento econômico e
político, principalmente se existiam interesses na ampliação da influência política na região ou na dominação militar de outros territórios. O nacionalismo que pairava sobre a Europa também havia lançado suas garras sobre o Japão, havendo todo um esforço político para o seu sucesso. Desta forma, o Período Meiji (1868-1912) ficou conhecido como a época histórica na qual os japoneses preocuparam-se em reescrever a própria história e reestruturar-se de forma a abarcar o novo nacionalismo baseado nos modelos europeus. Dos processos iniciados no Período Meiji com esse propósito nacionalista, podemos destacar: a elevação do xintoísmo ao patamar de religião oficial do Estado, a releitura do confucionismo para se readequar ao aparato estatal e social divulgado através da educação universalizada, a aplicação das ciências exatas ocidentais com o intuito de modernizar rapidamente o país e o sistema industrial e a extinção da classe dos samurais com a criação de uma imagem heroicizada deles com o intuito de desenvolver uma identidade nacional. Em certa medida, tal pretensão governamental justificava a postura dos primeiros intelectuais nipônicos em realizar uma cópia, mesmo que às vezes confusa, do que era desenvolvido no campo da filosofia na Europa. A famigerada Restauração Meiji (1866-1869),oficialmente, é entendida como a volta do poder político às mãos do Imperador após mais de duzentos anos de domínio político por parte do Xogum, enquanto que na prática foi a adaptação do Japão ao novo modelo econômico-político mundial que privilegiava a continuidade da classe política que já possuía poder político durante os últimos anos do Xogunato

II

A filosofia no Japão antes do Período Meiji era em sua maioria decorrente diretamente do confucionismo chinês. Diversos pensadores desenvolveram trabalhos intelectuais baseados nas vertentes do confucionismo chinês, do qual hodiernamente ainda há resquícios. Confúcio viveu entre 551 a 479 a.C., onde encontra-se a atual China, e dedicou parte de sua vida ao estudo e ensinamentos dos chamados clássicos, livros que continham a base do conhecimento intelectual da época. Aos olhos dos ocidentais, como Hegel, o confucionismo era uma filosofia moral (HEGEL, 2001, p. 182) por não possuir uma parte especulativa. Não podemosnos esquecer de que Hegel pertencia a uma tradição de pensamento focado no pensamento metódico e científico, sem grandes relações com o pensamento mitológico, enquanto que Confúcio, e boa parte dos pensadores do extremo leste asiático, desenvolveram seus sistemas de pensamento sem a necessidade dessa cisão.

It fell to the lot of Confucius (b.c.551 to B.C. 479), at the end of the Shudynasty, to elucidate and epitomize this great scheme of synthetic labour,worthy of study by every modern sociologist. He devotes himself to therealization of a religion of ethics, the consecration of Man to Man. To him,Humanity is God, the harmony of life his ultimate. Leaving the Indian soultosoar and mingle with its own infinitude of the sky; leaving empiric Europeto investigate the secrets of Earth and matter, and Christians and Semites to be wafted in mid-air through a Paradise of terrestrial dreams — leaving allthese, Confucianism must always continue to hold great minds by the spellof its broad intellectual generalizations, and its infinite compassion for thecommon people. (OKAKURA: 1905, p. 27)

Dentro do confucionismo surge uma concepção que será muito aproveitada durante o Período Meiji, segundo a qual o homem atingiria a sua consagração como divindade se seguisse uma vida harmoniosa baseada na ética. Nas mentes ocidentais essa ideia de homem superior remete imediatamente à obra de Nietzsche, o qual tem em Zaratustra a figura daquele que procura continuamente o homem superior. A presença da ética no pensamento confucionista nos revela uma preocupação com a vida em sociedade, ou seja, parte do princípio de que o homem é por excelência um homem social que se completa no convívio com o outro. Não muito diferente do proposto pelos pensadores da Grécia antiga, como Aristóteles, que entendia o homem como um animal político ( zoon politikon ). 

Contudo, a diferença entre o pensamento confucionista e o aristotélico se dá com o uso do mito, enquanto Confúcio enfatizava a conotação deífica que o homem poderia vir adquirir, mais sublime e menos terrestre, Aristóteles preferia o entendimento do homem como animal político, mais terrestre e menos sublime.

2

No Japão, podemos destacar duas correntes do confucionismo que se sobrepuseram as demais desde o Período Tokugawa e que influenciaram profundamente o pensamento ético no Período Meiji: (a) Chu Hsi ou Zhu Xi (1130-1200) a qual ficou conhecida no Japão como Sorai por ter sido difundida principalmente por  Ogyû Sorai (1666-1728) e a (b) Wang Yang Ming  (1472-1529) chamada de Ôyômei e difundida no arquipélago por  Motoori Norinaga
 (1730-1801).

It’s very attitude, that of inquiry, prevents it from crystallizing into anysingle solution of Confucianism. Some of its adherents, like Sorai, go as far as to maintain that Confucius was purely a political philosopher and not ateacher of ethics. Some, on the other hand, like Yamaga-Soko, to whom weowe the development of the Samurai Code on a Confucian basis, found inJapanese institutions the expression of the moral law of the Chinese sage.Yet however they differed individually in their conclusions, they united in being heretical toward the orthodox Tokugawa notions, and all were objectsof disapprobation to the authorities,—Yamaga-Soko, who commanded aconsiderable following, being banished from Yedo to the distant andinsignificant daimiate of Akho. Yet even during his confinement there his personality inspired the well-known Forty-seven Ronins to attempt their memorable feat of loyalty, remarkable not only as revealing a new ideal of samurai-hood, but eloquent in its silent protest against the Tokugawa regime.(OKAKURA: 1904, pp. 72-73)

A corrente confucionista Sorai defendia dois princípios básicos: o Qi como força vital e o Li como princípio racional. O desenvolvimento delas se daria a partir da ação do homemno mundo. Por exemplo, a bondade era entendida como inata aos homens e o culto à moral trazia clareza ao Qi . Uma atitude humana somente pode ser entendida como boa ou má por meio de um sistema ético. Como visto anteriormente, a ética no confucionismo era algo necessário para a existência do homem que apenas vive e existe em comunidade ou sociedade. Atitudes que resultassem em atos de bondade seriam benéficas ao homem, pois limparia a força vital ( Qi ) de qualquer impureza, aproximando o homem de atingir o seu ideal de homem superior. Nessa vertente era admitido que mesmo os que agissem imoralmente não poderiam ter suas atitudes julgadas como más, pois o princípio supremo regulador é bom, ou seja, por pior que fosse a atitude, o motivado de tudo residia no bem. Para que isso pudesse se concretizar, assumiam que o conhecimento e a ação eram componentes indivisíveis da atividade verdadeiramente inteligente do homem, sendo a ação mais importante. Porém, o conhecimento deveria vir em primeiro lugar na ordem natural das coisas porque a moral aos homens era inata.

Yamaga Soko (1622-1685) foi um filósofo e estrategista militar japonês que baseou todo o seu pensamento na corrente Sorai. Com o objetivo de possibilitar aos samurais que atingissem a condição de homem superior, acabou por ser o primeiro a ‘compilar’ o primeiro código de normas, ou sistema ético, para a classe dos guerreiros japoneses, que conhecemos hodierna como bushidô . Foi mestre de  Daidoji Yuzan (1639-1730), autor de uma obra sobre o bushidô dos samurais na qual encontramos a busca do equilíbrio entre o militar  e a cultura .Foi escrita em uma época na qual os guerreiros poderiam ter sumido por não serem mais necessários, visto que os conflitos haviam quase cessado completamente. Mas Yuzan faz uma abordagem na qual mostrava que a existência dos samurais não se resumia a fins bélicos.Afirma que em tempos de paz o cavaleiro deveria se dedicar ao estudo da caligrafia, aperfeiçoamento das artes bélicas entre outras atividades, abandonando a figura dos primeiros guerreiros japoneses das guerras civis, analfabetos e rudes. Dentro da sua obra, cria duas ordens com duas divisões cada: a primeira ordem se divide em oficiais e soldados e a segunda, em exército e assuntos de batalhas. Notamos haver preocupações marciais,ocupando-se da formação do corpo do exército para depois preocupar-se com a batalha. Yuzan ressalta serem essenciais três qualidades ao guerreiro: a lealdade, a boa conduta e o valor (YUZAN, 2004, p. 31). A obra se resume a um manual com regramento para a classe samurai, não podendo ser chamado de uma compilação ética ou moral. Há grande preocupação com a etiqueta seguida pelos samurais no cotidiano, ou seja, ênfase nas relações sociais e regras de etiqueta, com ausência da exposição de qualquer rito cerimonial específico ou explicação aprofundada dos conceitos usados. Essa característica estritamente prática de pensadores como Yuzan com a postura dos samurais é decorrente da interpretação do confucionismo Sorai no qual a ética seria o caminho para se atingir o homem superior. A ética assume um caráter muito específico de regramento da vida sem a necessidade de dar sentido às coisas ou de ser utilitarista.

The second school, which started at nearly the same time as the first, iscalled the School of Oyomei, from the Japanese pronunciation of Wangyangming, the name of its founder. This remarkable man was a greatgeneral as well as scholar who lived in China at the beginning of thesixteenth century, under the Ming dynasty. He never ceased to discourseeven during the brilliant campaigns in which he was victorious over therebels in Southern China. His philosophy was an advance on the Neo-Confucianism of Shiuki, whose doctrines, however, he accepted in the main.His principal contribution lay in his definition of knowledge. With him allknowledge was useless unless expressed in action. To know was to be.Virtue was real in so far only as it was manifested in deeds. The wholeuniverse was incessantly surging on to higher spheres of development,calling upon all to join in its glorious advance. To realize their teachings itwas necessary to live the life of the sages themselves, to consecrate one' whole energy to the service of mankind. Thus he brought Confucianismagain into its true domain, that of practical ethics. (OKAKURA: 1904, pp.74-75)

A vertente Ôyômei foi a que mais teve influência no Período Tokugawa tardio e no Período Meiji. Tal corrente de pensamento afirmava que o conhecimento era intuitivo, não racional e inato a todos os homens, ao contrário da corrente Sorai, que afirmava ser a bondade inata ao homem. Isso gera diferenças de interpretação, visto que a Ôyômei admitia uma leitura mais abrangente que a Sorai: o homem não tinha conhecimento apenas da bondade,mas de tudo que fosse pertencente ao campo da moral. Há o reforço do caráter virtuoso doshomens de que todos nasciam conhecendo a diferença entre o bem e o mal, afastando a ideia de que o agir virtuoso fosse algo adquirido pelo hábito. Também afirmavam que o conhecimento e a ação eram duas coisas distintas, mas que deveriam ser entendidas como algo único devido à condição de dependência entre ambas para que pudessem existir, uma consequência direta da condição humana de possuir conhecimento inato. Por tê-lo, o homem sempre seria agente da ação, eliminando a possibilidade de passividade humana. Aquele que não atua no meio social não teria conhecimento, mas como todos têm esse conhecimento desde o nascimento, deveriam agir, sendo impossível encontrar alguém que não agisse e detivesse conhecimento inato sobre o bem e o mal. Nesses termos, os samurais, tendo conhecimento moral, eram obrigados a exercerem atitudes corretas na sociedade, daí o argumento para criticar aqueles que agissem imoralmente ou que cometessem crimes. A moral se baseava na garantia incondicional de que todos sempre procurariam agir corretamente. 


III

Durante o Período Meiji, a criação e uso do sistema ético dos samurais no Japão adotou uma finalidade que ia além da sistematização de valores morais como regramento da vida cotidiana, foi também um meio de difusão da política nacionalista que ainda nessa época não apresentava as características fascistas que viria a ter durante o Período Taisho e Período Showa. O bushidô foi um termo cunhado para representar a ética dos samurais japoneses e podemos assumi-la como releitura de termos como shidô e kakun com a finalidade de auxiliar na criação de uma identidade nacional para a unificação de todos os povos do arquipélago nipônico. O processo de unificação nacionalista do Japão partia de uma imagem idealizada de herói, encontrada no samurai, a qual fornecia uma releitura confucionista dos códigos de condutas desses guerreiros como base da ética seguida pelas pessoas.Houve um processo pelo qual o bushidô deixou de ser apenas o conjunto de preceitos morais seguidos pelos guerreiros, formado por normas e instruções desenvolvidas segundo os interesses e valores dos clãs aos quais pertenciam, para tornar-se a ética do povo japonês independente da classe social que ocupasse. Essa releitura do bushidô fazia parte de um movimento conservador que não propunha mudanças sociais, visto que incentivava a hierarquia social proveniente do sistema feudal, nem fazia referências a qualquer aspecto político. A Restauração Meiji em si foi um movimento conservador tendo em vista que as mudanças no campo político beneficiaram grande parte da classe política existente, concentrando os esforços na substituição do sistema de produção econômico. Por causa da pluralidade de clãs e famílias que tinham samurais prestando serviços,fica difícil afirmarmos qual vertente do confucionismo predominava ao final do PeríodoTokugawa. Autores como Inoue Tetsujirô (1855-1944) adotaram como fundamentação ética o pensamento confucionista Ôyômei, baseado em Motoori Norinaga. Tetsuro Watsuji
 (1889-1960), como Inoue, era defensor dessa vertente e se contrapunha à interpretação de  Inazo Nitobe (1862-1933) sobre o bushidô e o acusava de fazer uso da vertente Sorai, além de inserir muito valores ocidentais e cristãos na sua versão da ética japonesa. A versão de Nitobefoi a primeira a chegar ao ocidente após a abertura dos portos por meio da obra
 Bushido – The Soul of Japan , publicada em 1899 nos Estados Unidos. As interpretações de Inoue e Watsuji chegaram à Europa posteriormente por publicações traduzidas. Uma das últimas versões do bushidô a ser difundida no mundo foi a tradução e comentários de
Yukio Mishima (1925-1970), a obra Hagakure de Yamamoto Tsunetomo, que podemos interpretar como uma reinterpretação ultranacionalista do bushidô de Inoue. Contudo, todos compartilham da mesma ideia de bushidô: como sendo um código de conduta seguido pelos samurais.

Bushido, then, is the code of moral principles which the knights wererequired or instructed to observe. It is not a written code; at best it consists of a few maxims handed down from mouth to mouth or coming from the pen of some well-known warrior or savant. More frequently it is a code unutteredand unwritten, possessing all the more the powerful sanction of veritabledeed, and of a law written on the fleshly tables of the heart. It was foundednot on the creation of one brain, however able, or on the life of a single personage, however renowned. It was an organic growth of decades andcenturies of military career. (NITOBE: 1972a, p. 25)

Devemos ter em mente que o termo como nos é apresentado, bushidô, é uma construção do Período Meiji, sendo difícil encontrarmos na literatura anterior a essa época noJapão referência explicitas ao termo. A forma mais conhecida era a de kakun  , entendida como preceitos familiares que deveriam ser seguidos por todos os que fizessem parte de determinado clã ou família. Podemos tomar como exemplo as artes marciais japonesas, agregadas como budô no mesmo período, as quais um praticante, ao tomar aulas com um instrutor, passava a fazer parte da família, ou seja, a organização por clã ainda era comum no Japão e tal concepção perdurou após o Meiji. A interpretação de Inoue sobre o termo bushidô com influência do confucionismo Ôyômei foi utilizada para reforçar o nacionalismo até 1903. Dessa data em diante passou a ter um tom mais agressivo e serviu de apoio ao movimento imperialista japonês. A ética dos samurais foi utilizada por Inoue para pregar a unicidade da cultura japonesa e a superioridade frente às demais, transformando-a em propaganda e incentivando a discussão sobre a ética marcial (BENESCH, 2011, p. 173). Segundo Benesch, a leitura do bushidô de Inoue deve seguir cinco pontos:

Inoue’s bushidō theories were marked by five primary elements: a closerelationship with the military as an educator and ideologist; ultranationalismand the emphasis on a unique Japanese spirit; pronounced anti-foreignismframed in the rhetoric of Japanese superiority; aggressive intolerance of other views as a self-appointed defender of “orthodoxy”; and the exaltationof Yamaga Sok  ō as one of the most important thinkers in Japanese history.(BENESCH: 2011, 177)

A postura de Inoue estava mais próxima das pretensões políticas japonesas da época,diferentemente da versão de Nitobe que propunha a cooperação internacional entre os países


O apoio ao militarismo no Japão era explícito nas obras mais tardias, pois entendia que esse seria o melhor caminho para que o país pudesse buscar novas fontes de energia, tendo em vista que o arquipélago não possui recursos naturais em abundância se comparado aos países vizinhos e continentais. Ele também apoiou o surgimento do ultranacionalismo baseado em uma concepção pura do ser japonês, excluindo qualquer interferência estrangeira, principalmente o cristianismo, que julgava incompatível com a forma de pensar autêntica dos japoneses. Tudo isso ajudava a alimentar um forte xenofobismo, fazendo com que sua interpretação do bushidô se aproximasse do fascismo. Como apontado por Benesch (2011), a postura política de Inoue sempre foi concordante com os objetivos governamentais,exemplificado pela sua postura contrária ao suicídio em meados dos anos 1903, mas até ofinal da década de 1920 mudou completamente, entendendo que o suicídio quando praticado por militares ou civis seriam sinônimos de austeridade e amor quando praticados em benefício da pátria.Vemos o uso instrumental da concepção de ética para Inoue, cujo foco principal é a propaganda nacionalista xenófoba. Nitobe, por sua vez, fez um discurso conciliador, com o intuito de aproximar os países de cultura ocidental com o Japão. Em seus discursos, privilegiava a cooperação internacional e não a imposição de vontade de uma ou outra nação.Enquanto representante do Japão na Liga das Nações, de 1920 até 1926, defendeu seus argumentos sem contar com total apoio do governo japonês, sendo esse um dos principais motivos para o seu desligamento desse cargo. Em textos posteriores, afirmava que o Japão deveria evitar o militarismo e o comunismo, pois tanto um como outro levariam à ruina do país. Entendia que para o Japão se tornar uma potência econômica era necessário estabelecer alianças políticas com as principais potências econômicas mundiais, além de incorporar algumas pequenas mudanças sociais e políticas para facilitar a aceitação do Japão. Notamos que Inoue e Nitobe defendiam posições inconciliáveis, porém, compartilhavam o bushidô como sistema ético.

A versão do bushidô de Nitobe se tornou mais difundida no ocidente, e um dos principais pontos que chamam atenção na obra é a presença da imagem idealizada do samurai como um herói nacional que deveria servir de modelo de identidade nacional a todos os japoneses visando à unificação de todos os povos do arquipélago. Nesse aspecto, temos a aproximação de sua obra com o idealismo romântico de Carlyle, tendo em vista que esse processo de identificação do samurai como um ser iluminado, um homem superior que tem como objetivo atingir a plenitude de caráter ao mesmo tempo em que ilumina todas as boas almas, é comum ao movimento romântico alemão.Outro aspecto da obra de Nitobe são os flertes com a obra Reflexões sobre a Revolução em França de Edmund Burke por haver a defesa do continuísmo da classe aristocrática japonesa por meio da hereditariedade. Temos a defesa da propriedade privada e que por meio da desigualdade entre os homens causada pela existência de uma estrutura social hierarquizada seria o meio de garantir a continuidade da propriedade.

“O poder de perpetuar nossa propriedade em nossas famílias é um de seuselementos mais valiosos e interessantes, que tende, sobretudo, à perpetuaçãoda própria sociedade.” (BURKE: 1982, 83)

Contudo, a ética dos samurais pela visão de Nitobe não seria apenas a defesa de um historicismo conservador, sendo a sociedade algo imutável e cristalizado no tempo. Diferentemente de Inoue, nessa abordagem do bushidô encontramos a influência do evolucionismo social de Herbert Spencer, que atuará de duas maneiras dentro da obra: primeira, as virtudes cultivadas pelos samurais deveriam ser entendidas como indício do
contínuo processo de evolução social inclusive dentro da sociedade industrializada e,segunda, o caráter conservador era fruto direto desse processo de evolução, afastando qualquer interpretação de que a ética como proposta pelo autor poderia assumir aspectos negativos.Assim, podemos resumir que o bushidô de Nitobe propôs uma ideologia construída artificialmente com traços de historicismo conservador e nacionalismo romântico, utilizada para fomentar a criação de uma identidade nacional em todo o arquipélago com o intuito de unificá-lo, surgindo uma nação forte, sem se debruçar aos apelos do fascismo ou do imperialismo. Tanto o bushidô de Nitobe quanto o de Inoue ou de seus contemporâneos nunca tiveram um uso real, ou seja, nunca foram utilizados pelos samurais japoneses durante a era feudal

IV

Vemos que a “ética samurai” desenvolvida no Japão durante o Período Meiji foi uma construção intelectual tendo como base o confucionismo. Dentro do contexto histórico em que surgiu, teve dois papéis: dar regramento à vida dos cidadãos e ser um instrumento para a criação da identidade nacional. Ambos os papéis contribuíram com a política nacionalista desenvolvida pelo governo japonês.A versão do bushidô de Nitobe foi voltada exclusivamente ao público ocidental. As interpolações cristãs e referências ocidentais facilitaram o processo de divulgação dos valores japoneses, favorecendo indiretamente o estabelecimento do contato entre Japão e os países ocidentais, que culminaria com acordos econômicos e políticos. Também foi responsável pela construção idealizada do samurai e do cidadão japonês e ainda tem influência na versão hodierna do indivíduo japonês.Inoue, ao contrário de Nitobe, estava mais preocupado com questões ligadas à política japonesa. Por isso, podemos afirmar que a sua leitura da “ética samurai” expressada pelo bushidô tinha como objetivo principal responder aos anseios da política militarista eimperialista japonesa. No fim da vida, seu discurso ajudou a cunhar o pensamentoultraconservador no Japão, algo que somente findou com a morte de Yukio Mishima.Comparado com Nitobe, Inoue fez uma construção mais artificial e frágil, sendo possívelnotarmos volatilidade dos conceitos usados ao longo de toda sua obra devido às drásticas mudanças de postura referente a assuntos complexos como o suicídio, defendido nos últimostextos como expressão da grandiosidade de caráter e do espírito guerreiro japonês.

È qui evidente il tentativo di instaurare un dibattito interculturale fra Orientee Occidente sulla base dell’ammissione dell’inferiorità della culturagiapponese nei confronti di quella europea, in pieno acordo con la volontà diconfronto che anima in parte ancora il tardo período Meiji. Il bushidô, le cuivirtù sono tutte di carattere “sociale” è destinato a scomparire in un’epoca incui si è spostato l’accento sul valore dell’individuo, e si sono introdotte lefilosofie che su di esso si basano (principalmente l’utilitarismo e ilmaterialismo empirista di stampo inglese) con le quali soltanto ilcristianesimo, con il suo codice morale “individualistico”, può convivere. Laconvergenza fra gli ideali del bushidô e quelli del cristianesimo è possibile perché esiste una sostanziale “identià moralle della specie umana, nonostantei tentative costantemente fatti per rendere più grande possibile la distinzionefra cristiani e pagani”. Il modo in cui Nitobe intende affrontare il problemadel dibattito interculturale può essere meglio chiarito tramite il ricorso a dueesempi di comparazione fra i costumi giapponesi e quelli occidentali.(MONCERI: 2000, 51)

Nessas versões do confucionismo de um ponto de vista marcial japonês do século XX,temos a construção de uma identidade nacional voltada à unificação dos povos que habitavamo arquipélago nipônico. O samurai é reinterpretado como o herói nacional, aquele que serviráde modelo às gerações futuras, guiando-os em um caminho de rigor moral rumo ao estadomais elevado da condição humana e da vida em sociedade.


Referências Bibliográficas

BENESCH, Oleg. Bushido:
The Creation Of A Martial Ethic In Late Meiji Japan
. Tese dedoutorado. Vancouver: Universidade da Columbia Britânica, 2011.BURKE, Edmund.
 Reflexões sobre a Revolução em França
. Brasília: Editora Universidade deBrasília, 1982.CARLYLE, Thomas.
Os Heróis
. Lisboa: Guimarães Editores, 2002.CONFÚCIO.
Os Analectos
. São Paulo: Martins Fontes, 2000.DAWSON, Miles Menander.
The Ethics of Confucius
. Nova Iorque: Putnam’s Sons, 1915

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich.
 Introdução às Lições sobre História da Filosofia
. Porto:Porto Editora, 2001.HOBSBAWM, Eric & RANGER, Terence.
 A Invenção das Tradições
. São Paulo: Paz e Terra,2008.JANSEN, Marius Berthus.
The Making of Modern Japan
. Cambridge: Harvard UniversityPress, 2000.MISHIMA, Yukio.
O Hagakure – A Ética dos Samurais e o Japão Moderno.
Rio de Janeiro:Rocco, 1987.MONCERI, Flavia.
 Il Problema dell’unicità Giapponese – Nitobe Inazô e Okakura Kakuzô
.Pisa: Edizioni Ets, 2000.MOORE, Charles A (Org.).
 Filosofia: Oriente e Ocidente
.
São Paulo: Editora Cultrix: Editorada Universidade de São Paulo, 1978. NAVARRO, Maria Teresa Rodríguez. MUÑOZ, Rafael Serrano. “La influencia del Bushidôen La Constituición Japonesa de 1889 y en El Edicto Imperial de La Educación de 1890.” In:
 Nuevas Perspectivas de Investigación sobre Asia Pacifico
, Granada: Editorial Universidad deGranada, n. 2, 2008, pp. 239-253. NITOBE, Inazo.
The Works of Inazo Nitobe
. Volume 1 (Bushido: The Soul of Japan, Thoughtsand Essays). Tóquio, University of Tokyo Press, 1972a. _____.
The Works of Inazo Nitobe
. Volume 2 (The Japanese Nation, Intercourse Between TheUnited States and Japan). Tóquio, University of Tokyo Press, 1972b. NUKARIYA, Kaiten.
 A Religião dos Samurais
. São Paulo: Tahyu, 2006.OKAKURA, Kakuzo.
The Ideals Of The East With Special Reference Of The Art Of Japan.
 Londres: Ballantyne, Hanson & Co., 1905. _____.
The Awakening of Japan
. Nova Iorque: The Century Co., 1904.YUZAN, Daidoji.
 Bushidô – O Código do Samurai.
São Paulo: Madras, 2004
Postado por Matheus Dulci às 19:4

sábado, 29 de abril de 2017

Investimento induzido por exportações e re-industrialização.

Em primeiro lugar as exportações como máquina de crescimento possuem diferentes capacidades de indução segundo o tamanho relativo do país. Com efeito , dinâmicas do que se poderia denominar industrial super traders and financial supermarket, como as cidades de Hong-Kong e Cingapura não sãoda mesma natureza das observadas em grandes países. Nstes últimos, a articulação dos investimentos com as exportações têm caracterizado uma via comum de industrialização : ontem no Japão e na Coréia , hoje na China e nos demais países do ASEAN. Em segundo lugar , e, em consequência do primeiro aspecto , a expansão acentuada do comércio intra-indústria e intra-firma vem redefinindo algumas questões centrais para as indústrializações periféricas.  A localização de linhas de montagem e de linhas de produção com alto conteúdo de importações em países de maior atraso relativo vem deslocando rapidamente suas pautas de exportações. . Assim, examinando exclusivamente o comércio de bens, a diversificação da pauta de exportações destes países pode induzir a análises apressadas . Considere-se, por exemplo, um circuito impresso montado na Malásia e testado  e re-exportado por Cingapura . Um mesmo bem aparece em momentos distintos na pauta  de exportações da Malásia e de Cingapura . A diferença é a agregação de valor na indústria do primeiro país e nos serviços do segundo. O fato de se produzir circuito impresso no país não muda sua posição subordinada na divisão  internacional do trabalho . É o investimento induzido por estas exportações ao lado do investimento autônomo, visando a um ulterior deslocamento das exportações que permite, de fato , elevar o grau de industrialização.

K.M.

DIFERENCIAL DE CUSTOS DE PRODUÇÃO

A partir de 1985, a variação básica dos custos produtivos nas economias do sudeste asiático  esteve determinada pela taxa de câmbio e , para as mercadorias de grande penetração no mercado americano , pela mudança no regime de preferência adotado por este país . Em relação aos custos de produção deve-se considerar que em setores onde predomina a padronização  ---- como classicamente na têxtil  e modernamente nos componentes rígidos  da indústria de computadores e equipamentos eletrônicos ----- a concorrência em custos tornou-se crescente. O  ingresso no mercado internacional de novos produtores com custos de produção e preços mais baixos nos mercados consumidores exerce um efeito declinante sobre os preços internacionais destes bens.  Nestes casos , não apenas  os custos salariais baixos importam , são decisivas as economias de escala na produção e comercialização (transportes e canais de distribuição) e, como é evidente no caso chinês , os incentivos gerais para a localização . . É necessário notar que os custos salariais baixos não significam rendas salariais baixas , a  taxa de câmbio interna é importante para esta diferenciação.  Dinamicamente , a introdução de setores - técnicas voltados a mercados amplos nos países retardatários levam a um deslocamento da produtividade dos novos setores exportadores visa vis ao conjunto da economia. O elevado nível de produtividade em relação ao conjunto a economia torna os custos salariais nos setores exportadores muito baixos. A importância destes custos como atrator de investimentos requer, porém , outras análises, mas o caso da China ilustra bem o  o ponto . Por razões estratégicas e políticas, a maior parcela foi para Shenzen, uma das mais dinâmicas Zonas Econômicas Especiais .  Este mecanismo conduziu a um estratégia de especialização por parte da grande  corporação de forma a manter e a expandir pelo progresso técnico sua participação no mercado internacional e, na outra,   a um deslocamento de produtos e linhas de produção tanto por razoes de custos quanto por razões de mercado. AS ANÁLISES CENTRADAS NO DIFERENCIAL DE CUSTOS DE PRODUÇÃO SÃO EXATAMENTE AS QUE TEM EM VISTA MODELOS DE CRESCIMENTO BASEADOS NAS  EXPORTAÇÕES, OU QUE BUSCAM AUMENTÁ-LAS. 

K.M.

sexta-feira, 28 de abril de 2017

O GANSO LÍDER !


Para D. Felix , numa formulação que transcende os anos 1980  procurando situar-se num marco mais geral da industrialização asiática , a elevação dos salários no Japão ----o GANSO LÍDER ---- comprimiu os lucros em suas indústrias intensivas em trabalho pouco qualificado. Estas se moveram para o próximo ganso, Coréia e Formosa , inicialmente estabelecendo investimentos estrangeiros diretos e posteriormente fluxos de comércio intra-indústria. O processo se repetiu com o Japão se expandindo para uma nova atividade tecnológicamente mais sofisticada deixando as anteriores com Coréia e Taiwan onde o desenvolvimento industrial e as pressões salariais induziam investimentos diretos estrangeiro e relocalizações nos países da ASEAN-4.

K.M.

Staple industrial asiático.

Anteriormente o Japão , depois Coréia, Cingapura, Hong-Kong e Formosa, o que chamavam de ASEAN-4 , mais a China, afirmaram-se como grande exportadores de manufaturas baratas , ou industrial staples , para os grandes mercados dos Estados Unidos e Europa . Esta inserção internacional dos países do sudeste asiático tem se revelado permanente , a despeito da mudança estrutural  e sequencial  de cada país em direção a manufaturas de maior densidade tecnológica. Para alguns historiadores como Ikeda, o desenvolvimento asiático em suas fases iniciais sempre baseou-se na exportação do que denomina de ''asian type modern merchandise '', isto é , de bens de consumo de semelhantes mas significativamente mais baratos do que os ocidentais. A principal analogia com as commodities agrícolas ou industriais que caracterizam os setores exportadores típicos da América Latina e da África ,  é que tbm o staple industrial possui alta concorrência em preço , baixa diversificação de produto , preço declinante no longo prazo determinado  pelo produtor marginal . Os exemplos modestos destes staples eram os ''semicondutores, ou peças de vestuário , pen-drives ,dispositivos de armazenamento de dados e componentes  físicos da indústria eletrônica. O principal interesse dos EStados Unidos nas exportações asiáticas foi historicamente o acesso a um suprimento barato de manufaturas intensivas em mão-de-obra. E aqui consideramos a importância de uma oferta barata de manufaturas para a manutenção de uma baixa inflação em dólar. Com efeito, não deixa de ser surpreendente o fato de que a indústria de confecções só foi superada pela indústria de computadores como ramo mais dinâmico nas importações  da OCDE. Tanto numa indústria quanto na outra, a participação dos países asiáticos foi decisiva. 

K.M.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Magnata chinês é vinculado a pilha misteriosa de alumínio no México

Magnata chinês é vinculado a pilha misteriosa de alumínio no México
Por Marcelo Villela, setembro 26th, 2016, 0:39 - LINK PERMANENTE
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Dois anos atrás, um executivo do setor de alumínio na Califórnia contratou um piloto para sobrevoar a cidade mexicana de San José Iturbide e tirar fotos de uma fábrica remota no deserto. Ele fez uma descoberta surpreendente. Quase um milhão de toneladas de alumínio guardadas em uma fortaleza cercada por arame farpado. O estoque, avaliado em uns US$ 2 bilhões e equivalente a cerca de 6% de todo o alumínio estocado no mundo — suficiente para produzir 77 bilhões de latas de cerveja —, rapidamente virou uma obsessão para a indústria de alumínio americana.

Agora, a descoberta virou uma nova fonte de tensão nas relações comerciais entre Estados Unidos e China. Executivos americanos dizem que o alumínio misterioso era parte de um esquema de um dos homens mais ricos da China para burlar as regras do comércio global.

Jeff Henderson, diretor de operações do Conselho de Extrusores de Alumínio dos EUA, um grupo do setor, diz estar convencido de que a China Zhongwang Holdings Ltd., gigante chinesa de alumínio controlada pelo bilionário Liu Zhongtian, tentou evadir tarifas americanas ao enviar alumínio aos EUA através do México para disfarçar suas origens.

Liu, um membro do Partido Comunista chinês, nega a acusação. “Isso não tem nada a ver comigo”, disse ele durante uma entrevista dada ao The Wall Street Journal em junho numa fábrica de sua companhia em Liaoning, na China. Ele disse que nem saberia estabelecer um negócio no México, brincando que, “nesse tipo de lugar, há um monte de assassinos com armas”.

Vários documentos examinados pelo WSJ, juntamente com entrevistas de pessoas que fizeram negócios com Liu, suscitam dúvidas sobre seu relato. Eles mostram que toneladas de alumínio foram desviadas para o México a partir da China por meio de uma rede de empresas controladas por parentes ou outras pessoas ligadas a Liu.

O Departamento de Comércio dos EUA informa que está investigando a origem real do metal mexicano, em resposta a uma série de queixas comerciais feitas pela indústria de alumínio dos EUA contra a China.

O boom da produção industrial chinesa tem reordenado drasticamente o mercado global de alumínio. Alimentada pelo acesso a energia elétrica barata e isenções de impostos, a produção de alumínio da China dobrou entre 2010 e 2015. Com a desaceleração da demanda local, houve uma alta nas exportações para os EUA. Em 2015, o país importou 40% do alumínio que consumiu, comparado com 14% em 2010. Até o fim deste ano, só cinco fundições de alumínio estarão operando nos EUA, ante 23 em 2000.

A Alcoa Inc., maior fabricante de alumínio dos EUA, está se dividindo em duas, separando suas lucrativas unidades de fabricação de peças das problemáticas operações de alumínio. No ano passado, o líder executivo da Alcoa, Klaus Kleinfeld, disse que exportações ilegítimas da China foram “o principal causador” da queda dos preços do alumínio.

A ascensão de Liu como magnata do alumínio teve início em 1993, quando ele começou a transformar sua empresa de um pequeno participante do setor na China num dos maiores produtores do mundo. O principal negócio da China Zhongwang é a produção de “extrusões” de alumínio: tubos, vergalhões e chapas usados em produtos acabados, como geladeiras e automóveis. Em maio de 2009, Liu abriu o capital da empresa na bolsa de Hong Kong, mantendo uma fatia de 74% e captando US$ 1,26 bilhão numa das maiores ofertas públicas iniciais de ações no ano.

Em 2009, as exportações de extrusões de alumínio da China aos EUA mais do que dobraram ante 2008, para 192 mil toneladas. Os preços das extrusões importadas caíram 30% nos EUA em relação ao ano anterior, segundo a Global Trade Information Services (GTIS), firma que monitora o comércio mundial.

A explosão das exportações levou o Departamento de Comércio a concluir que várias companhias, incluindo afiliadas da China Zhongwang, estavam vendendo alumínio a preços injustos, ao mesmo tempo em que recebiam subsídios em casa. Em 2010, o órgão impôs tarifas punitivas sobre certas importações, como as feitas pelas “empresas do Grupo Zhongwang”.

As exportações da China Zhongwang cessaram e seu lucro em 2010 caiu 26% em relação ao ano anterior. Ela nunca respondeu a perguntas do governo americano sobre suas práticas comerciais, informou o Departamento de Comércio. Ela também não respondeu aos vários pedidos de comentário para esta matéria.

Por volta da mesma época, um empresário jovem e ambicioso, Po-Chi “Eric” Shen, de Cingapura, começou a comprar imóveis no México. Ele se estabeleceu em um terreno perto de San José Iturbide, a quase 260 quilômetros da Cidade do México. Lá, uma firma que Shen ajudou a criar, a Aluminicaste Fundición de México, elaborou planos de construir uma fábrica de US$ 200 milhões para fundir alumínio em metal bruto.

Shen tinha ligações com o clã Liu. Ele era amigo do filho de Liu, Liu Zuopeng. A mulher de Liu se tornou membro do conselho de uma de suas empresas, a Scuderia Development, segundo documentos públicos. Outra empresa de Shen, a Scuderia Capital, emprestou US$ 200 milhões à China Zhongwang em 2008, de acordo com um prospecto da China Zhongwang.

No México, Shen estava implementando um plano audacioso, dizem pessoas a par do assunto. Uma rede de empresas comerciais poderia encaminhar milhares de toneladas de alumínio da China para o México, onde uma fábrica o fundiria para envio aos EUA , evitando restrições comerciais e tirando proveito de benefícios do Nafta, o Tratado Norte-americano de Livre Comércio.

Em uma entrevista, Liu disse que não tinha envolvimento com a Aluminicaste e não ajudou Shen a financiar a fábrica.

Shen, em várias entrevistas ao WSJ, descreveu extensos laços comerciais com Liu. “Liu e eu tínhamos uma relação comercial muito complicada que não era de empregador nem de empregado, investidor ou investido”, disse.

No papel, a era das exportações tinha acabado para a China Zhongwang. Em seu relatório de 2011, a empresa informou que 96% da receita vieram de vendas dentro da China, ante 56% em 2010.

Na verdade, negociadoras chinesas que compravam o alumínio da empresa revendiam boa parte do produto para uma trading de Cingapura chamada GT88 Capital, segundo registros das transações e pessoas a par do assunto. O proprietário da GT88 era a Aluminicaste, de Shen.

Em 2011 e 2012, as importações de extrusões de alumínio do México dispararam. A maior parte do metal era entregue pela trading de Shen em Cingapura para a empresa de logística da Aluminicaste, segundo registros das exportações monitorados pela Panjiva Inc., firma de dados de comércio de Nova York.

Rumores sobre a empresa e o estoque gigantesco passaram a circular entre os produtores nos EUA. “Ninguém de fato sabia o que acontecia”, diz o executivo que encomendou as fotos aéreas da fábrica, Mike Rapport, que dirige uma firma de extrusão de alumínio na Califórnia.

Em 2013, a Aluminicaste foi transferida para o filho de Liu, que se tornou seu diretor-presidente, mostram documentos corporativos no México.

Liu diz que não fez parte de nada disso. “Neste assunto, eu não o ajudei”, disse em uma entrevista. O jovem Liu não respondeu a pedidos de comentários.

Shen abriu um escritório luxuoso em Dallas. Ele comprou casas caras, carros raros e um jato Gulfstream de US$ 10 milhões, segundo registros de um tribunal de Dallas. Ele também comprou uma Ferrari 1963, avaliada em US$ 32 milhões, e US$ 70 milhões em diamantes raros. Muitas compras foram para uso comercial ou investimentos, segundo Shen.

Mas ainda havia uma peça faltando. Pessoas a par do assunto dizem que a Aluminicaste precisava de um comprador nos EUA para refundir seu produto e prepará-lo para a venda no país. Para resolver o problema, Shen começou a preparar o terreno para uma fábrica de US$ 1,5 bilhão em Barstow, na Califórnia.

Shen disse a autoridades da cidade que tinha apoio do bilionário fundador da China Zhongwang, Liu, e que tinha acabado de construir uma grande fábrica de alumínio no México, diz Oliver Chi, na época administrador adjunto de Barstow.

No fim de 2013, Shen convocou uma reunião entre as autoridades locais e Liu em Irvine, Califórnia, diz Chi. Liu disse ter reservas sobre o projeto porque as empresas chinesas recebem assistência financeira substancial do governo, o que ele duvidava que ocorreria nos EUA, diz Chi, que participou da reunião.

Numa entrevista, Liu disse que participou da reunião para discutir “questões ambientais, não para discutir investimentos”.

Enquanto isso, contratempos se acumulavam. Caminhões e metais foram roubados da fábrica no México, atrasando entregas, dizem ex-empregados da Aluminicaste. A empresa não conseguiu obter os benefícios do Nafta, uma vez que as autoridades americanas concluíram que o metal vinha da China.

Diante dos crescentes problemas financeiros da Aluminicaste, parceiros de Liu acusaram Shen de má gestão dos fundos da firma, dizem pessoas a par das alegações e documentos judiciais.

Eles se mobilizaram para apreender os bens de Shen. Gestores da empresa que era dona do edifício do escritório em Dallas, a DFW Maple Leaf Partners, transferiram os ativos para a mulher de Liu, mostram documentos corporativos.

Shen nega qualquer irregularidade. Seu advogado, Dean Kajioka, da Kajioka & Associates, diz que Shen concordou em entregar seus bens depois que ele foi “ameaçado fisicamente” por pessoas ligadas a Liu. Um porta-voz da China Zhongwang disse que Liu não quis comentar sobre a alegação.

Para Henderson, provar que a China Zhongwang e Liu estavam por trás do alumínio mexicano virou uma obsessão. Em outubro de 2015, seu grupo comercial entrou com uma ação de 600 páginas no Departamento de Comércio, alegando que Liu está usando firmas afiliadas para burlar regras antidumping dos EUA.

Apesar dos contratempos, Liu ainda pensa grande. Em agosto, uma empresa controlada por ele e afiliada à China Zhongwang fechou a compra da produtora de alumínio americana Aleris Corp. por US$ 1,1 bilhão, o que seria o preço mais alto já pago por uma firma chinesa por uma empresa de metais americana.

Hoje, a Aluminicaste está sob nova gestão e o filho de Liu não é listado como dono. Charles Pok, um advogado da Califórnia que diz que agora ajuda a administrar a empresa, nega qualquer ligação entre a fábrica mexicana, a China Zhongwang e Liu, seu proprietário.

Mas Liu disse, em uma entrevista, que Pok trabalha para ele pelo menos desde 2004. Mais tarde, Pok admitiu que Liu é seu cliente, mas que não podia discutir o assunto devido à relação entre advogado e cliente.

Pok também assumiu uma série de funções que antes eram de Shen. Em janeiro de 2015, ele foi nomeado presidente da Eighty Eight Investments AG, holding suíça da GT88, a trading de Cingapura que exportava alumínio para o México.

Já a pilha gigantesca de alumínio diminuiu de tamanho, segundo autoridades da cidade, vizinhos e ex-empregados da Aluminicaste. Agora, há planos de enviar o metal para uma fábrica no Vietnã controlada pela Global Vietnam Aluminum Co., segundo pessoas a par do assunto. Um diretor da Vietnam Global, Jacky Cheung, é o novo presidente da Aluminicaste. Cheung não quis comentar.

O Vietnã já viu um salto nas importações de alumínio da China. Segundo a GTIS, o envio de extrusões da China ao Vietnã subiu 1.000% em 2015, para US$ 1,9 bilhão. Henderson prevê que muito desse alumínio acabará nos EUA.

Fonte: WSJ

quarta-feira, 26 de abril de 2017

OS GANSOS JÁ ESTAVAM VOANDO...

O crescimento explosivo das exportações japonesas nos anos 1960 para o rico mercado norte-americano, bem como seu superávit comercial, foi um ingrediente crucial do grande salto do Japão nos processos de acumulação  de capital em escala mundial . No entanto , não se deveu de maneira alguma a uma agressiva postura neomercantilista japonesa. Deveu-se antes à crescente necessidade do governo norte-americano de baratear suprimentos essenciais para seus objetivos de poder tanto internamente quanto no exterior .  Para alguns estudiosos , a novidade dos anos 1980 é que o convite se interrompeu  inicialmente para o Japão (ver : ''O desenvolvimento à convite '' ) e, posteriormente para o 4 ''Tigres'' ---- mas neste momento, porém , os GANSOS JÁ ESTAVAM VOANDO.  . O convite começa a mudar na metade  final para os anos 1970. ''O governo norte-americano parou de torcer o braço de seus parceiros europeus e clientes do Leste Asiático para que eles abrissem espaço à expansão capitalista do Japão . Em vez disso, começou  a torcer o braço do governo japonês para que revalorizasse o iene e abrisse a economia japonesa ao capital e ao comércio estrangeiros '' (Akyus) . Na verdade, o governo norte-americano voltou para fechar a porta da ''estrebaria''  , mas O CAVALO JÁ HAVIA DISPARADO. 

K.M.

MANIFESTO FUTURISTA (F.T. Marinetti)


Escrito por Filippo Tommaso Marinetti e publicado no jornal francês "Le Figaro", em Fevereiro de 1909, o Manifesto Futurista inaugurou um dos mais importantes movimentos artísticos do século XX. Tendo por base os desenvolvimentos tecnológicos de finais do século XIX, a pintura futurista apostava muitas vezes na sobreposição de imagens, imprimindo dinamismo à cena representada. As figuras ameçavam escapar do seu contorno, exaltava-se a velocidade e a força numa tentativa de representar o movimento e, com isso, inaugurava-se uma nova crença estética no seio das artes.

A primeira grande exposição de pintura futurista teve lugar em Milão, a 30 de Abril de 1911. Daí a três anos, uma grande parcela dos artistas que aderiram ao movimento tornaram-se críticos uns dos outros e alvos da pressão exercida pelo próprio Marinetti. Com a entrada de Itália na I Guerra Mundial, quando declarou guerra à Áustria em Maio de 1915, a maior parte das actividades artísticas sofreu um interregno. Após a Guerra, quando o grupo futurista se reuniu à volta de Marinetti, o movimento e as ideias já não reflectiam a forma de pensar de outrora e o novo futurismo acabaria por ficar ligado ao Fascismo. Contudo, as ideias inovadoras de um Boccioni, Giacomo Balla ou Duchamp (sim, esse mesmo, com o "Nu Descendo a Escada"...) seriam aproveitadas para desnvolver alguns dos movimentos artísticos que foram surgindo ao longo do passado século. Ficam as obras e o Manifesto...


"Dinamismo di un cane al quinzaglio" (1912). Giacomo Balla.

Manifesto Futurista

"Então, com o vulto coberto pela boa lama das fábricas - empaste de escórias metálicas, de suores inúteis, de fuligens celestes -, contundidos e enfaixados os braços, mas impávidos, ditamos nossas primeiras vontades a todos os homens vivos da terra:

1. Queremos cantar o amor do perigo, o hábito da energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia e a rebelião serão elementos essenciais da nossa poesia.
3. Até hoje a literatura tem exaltado a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono. Queremos exaltar o movimento agressivo, a insónia febril, a velocidade, o salto mortal, a bofetada e o murro.
4. Afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um carro de corrida adornado de grossos tubos semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais belo que a Vitória de Samotrácia.
5. Queremos celebrar o homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada a toda velocidade no circuito de sua própria órbita.
6. O poeta deve prodigalizar-se com ardor, fausto e munificência, a fim de aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.
7. Já não há beleza senão na luta. Nenhuma obra que não tenha um carácter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças ignotas para obrigá-las a prostrar-se ante o homem.
8. Estamos no promontório extremo dos séculos!... Por que haveremos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Vivemos já o absoluto, pois criamos a eterna velocidade omnipresente.
9. Queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo da mulher.
10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de todo o tipo, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.
11. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos a maré multicor e polifônica das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor nocturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas eléctricas: as estações insaciáveis, devoradoras de serpentes fumegantes: as fábricas suspensas das nuvens pelos contorcidos fios de suas fumaças; as pontes semelhantes a ginastas gigantes que transpõem as fumaças, cintilantes ao sol com um fulgor de facas; os navios a vapor aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de amplo peito que se empertigam sobre os trilhos como enormes cavalos de aço refreados por tubos e o voo deslizante dos aviões, cujas hélices se agitam ao vento como bandeiras e parecem aplaudir como uma multidão entusiasta.

É da Itália que lançamos ao mundo este manifesto de violência arrebatadora e incendiária com o qual fundamos o nosso Futurismo, porque queremos libertar este país de sua fétida gangrena de professores, arqueólogos, cicerones e antiquários.

Há muito tempo que a Itália vem sendo um mercado de belchiores. Queremos libertá-la dos incontáveis museus que a cobrem de cemitérios inumeráveis.

Museus: cemitérios!... Idênticos, realmente, pela sinistra promiscuidade de tantos corpos que não se conhecem. Museus: dormitórios públicos onde se repousa sempre ao lado de seres odiados ou desconhecidos! Museus: absurdos dos matadouros dos pintores e escultores que se trucidam ferozmente a golpes de cores e linhas ao longo de suas paredes!

Que os visitemos em peregrinação uma vez por ano, como se visita o cemitério dos mortos, tudo bem. Que uma vez por ano se desponte uma coroa de flores diante da Gioconda, vá lá. Mas não admitimos passear diariamente pelos museus, nossas tristezas, nossa frágil coragem, nossa mórbida inquietude. Por que devemos nos envenenar? Por que devemos apodrecer?

E que se pode ver num velho quadro, senão a fatigante contorção do artista que se empenhou em infringir as insuperáveis barreiras erguidas contra o desejo de exprimir inteiramente o seu sonho?... Admirar um quadro antigo equivalente a verter a nossa sensibilidade numa urna funerária, em vez de projectá-la para longe, em violentos arremessos de criação e de acção.

Quereis, pois, desperdiçar todas as vossas melhores forças nessa eterna e inútil admiração do passado, da qual saís fatalmente exaustos, diminuídos e espezinhados?

Em verdade eu vos digo que a frequentação quotidiana dos museus, das bibliotecas e das academias (cemitérios de esforços vãos, calvários de sonhos crucificados, registros de lances truncados!...) é, para os artistas, tão ruinosa quanto a tutela prolongada dos pais para certos jovens embriagados, vá lá: o admirável passado é talvez um bálsamo para tantos os seus males, já que para eles o futuro está barrado... Mas nós não queremos saber dele, do passado, nós, jovens e fortes futuristas!

Bem-vindos, pois, os alegres incendiários com os seus dedos carbonizados! Ei-los!... Aqui!... Ponham fogo nas estantes das bibliotecas!... Desviem o curso dos canais para inundar os museus!... Oh, a alegria de ver flutuar à deriva, rasgadas e descoradas sobre as águas, as velhas telas gloriosas!... Empunhem as picaretas, os machados, os martelos e destruam sem piedade as cidades veneradas!

Os mais velhos dentre nós têm 30 anos: resta-nos assim, pelo menos um decénio mais jovens e válidos que nós deitarão no cesto de papéis, como manuscritos inúteis. - Pois é isso que queremos!

Nossos sucessores virão de longe contra nós, de toda parte, dançando à cadência alada dos seus primeiros cantos, estendendo os dedos aduncos de predadores e farejando caninamente, às portas das academias, o bom cheiro das nossas mentes em putrefacção, já prometidas às catacumbas das bibliotecas.

Mas nós não estaremos lá... Por fim eles nos encontrarão - uma noite de inverno - em campo aberto, sob um triste telheiro tamborilado por monótona chuva, e nos verão agachados junto aos nossos aviões trepidantes, aquecendo as mãos ao fogo mesquinho proporcionado pelos nossos livros de hoje, flamejando sob o voo das nossas imagens.

Eles se amotinarão à nossa volta, ofegantes de angústia e despeito, e todos, exasperados pela nossa soberba, inestancável audácia, se precipitarão para matar-nos, impelidos por um ódio tanto mais mais implacável quanto os seus corações estiverem ébrios de amor e admiração por nós.

A forte e sã injustiça explodirá radiosa em seus olhos - A arte, de facto, não pode ser senão violência, crueldade e injustiça.

Os mais velhos dentre nós têm 30 anos: no entanto, temos já esbanjado tesouros, mil tesouros de força, de amor, de audácia, de astúcia e de vontade rude, precipitadamente, delirantemente, sem calcular, sem jamais hesitar, sem jamais repousar, até perder o fôlego... Olhai para nós! Ainda não estamos exaustos! Os nossos corações não sentem nenhuma fadiga, porque estão nutridos de fogo, de ódio e de velocidade!... Estais admirados? É lógico, pois não vos recordais sequer de ter vivido! Erectos sobre o pináculo do mundo, mais uma vez lançamos o nosso desafio às estrelas!

Vós nos opondes objecções?... Basta! Basta! Já as conhecemos... Já entendemos!... Nossa bela e hipócrita inteligência nos afirma que somos o resultado e o prolongamento dos nossos ancestrais. - Talvez!... Seja!... Mas que importa? Não queremos entender!... Ai de quem nos repetir essas palavras infames!...

Cabeça erguida!...

Erectos sobre o pináculo do mundo, mais uma vez lançamos o nosso desafio às estrelas."

ORGASMO DA VIDA UNIVERSAL ''




Conserva-se até hoje uma fotografia tomada por acaso ,cuja cópia não tenho aqui comigo, que mostra Adolf Hitler a 2 de agosto de 1914, em meio à uma multidão regozijante na praça do Odeon, Em MUNIQUE, quando da declaração da guerra. Nela se reconhece nitidamente seu seu rosto, a boca entre-aberta, o olhar ardente , que percebia por fim um objetivo  e entrevia um considerável futuro pessoal. Porque aquele dia o libertara afinal de todas as hesitações, da perplexidade e do niilismo de sua existência e da existência alemã de forma geral , até aquele momento . ''Para mim '' , lembraria ele mais tarde '' aquelas horas foram como uma libertação das penosas impressões políticas da minha juventude. Não sinto nenhum vergonha de dizer hoje que, impulsionado por um entusiasmo transbordante, caí de joelhos e agradeci de todo coração aos Céus '' (A. Hitler) . Esse era um sentimento de gratidão que impregnava praticamente toda aquela época e se pode dizer que sob o fascínio marcial miraculoso daqueles dias de agosto de de 1914 os corações batiam em uníssono como raras vezes ocorrera até ali . '' O dia em que a guerra deflagrou-se e varreu a paz foi um instante sagrado  de beleza '' (A. Hitler) e consumou as aspirações morais de toda uma nação. DE acordo com a tendência ao esteticismo da época,  via-se na guerra um meio de escapar à pobreza da vida normal dos povos ---- um fenômeno de completa purificação; ela representava a esperança de liberdade definitiva da mediocridade geopolítica ocidental , do cansaço de viver das grandes potências econômicas e era celebrada loucamente nos cantos sacros, e encaravam-na como o ''ORGASMO DA VIDA UNIVERSAL '' que cria e fecunda o caos de onde sairá um mundo novo.

K.M.

BASTA AGORA ESCOLHER QUAL....


QUE EU PRECISAREI DE ASILO POLÍTICO MAIS OU MENOS PARA AGORA, JÁ É UMA REALIDADE DE PEDRA. BASTA AGORA ESCOLHER QUAL....

K.M.

terça-feira, 25 de abril de 2017

OS GANSOS VOADORES

A estratégia de deslocamento dos investimentos japoneses descritas nos relatórios do WIR, do Nomura Research Institute e nas análises históricas de alguns estudiosos de destaque quase único, , ou macroeconômicas como as de Akyus , apontam na direção de uma dinâmica de desenvolvimento regional liderada pelo Japão emque os diferentes países deslocam-se em formação como os gansos voadores . Rowthorn oferece uma ótimaanálise crítica desse paradigma em ''East Asian Development: The Fly Geese Paradigm Reconsidered '' . O paradigma dos gansos voadores foi desenvolvido primeiramente por Akamatsu em 1932 e aplicava-se ao Japão em seu processo de ''catching - up '' Nessa formulação, as exportações do país líder inicialmente exerciam um efeito negativo sobre a indústria no país retardatário, posteriormente, com a cópia da técnica e com a ajuda do governo, desenvolvia em melhores condições produtos competitivos. Rowthorn  sublinha que as versões mais recentes do paradigma alteraram esta descrição de duas formas. Kojima , em 1973  e 1985 , enfatiza a função  de transferência de tecnologia ligada ao IDE e o papel positivo  em colaboração dos governos. A reciclagem das vantagens comparativas feitas pelas empresas transnacionais. A formulação atual deste paradigma deve  no mínimo supor  a existência de um desenvolvimento hierarquizado , mas concatenado , entre países com distintos graus de desenvolvimento através de efeitos positivos e realimentados do comércio e do investimento direto .  A sinergia apontada pelo ganso líder e os gansos subsequentes dificilmente seria compatível com déficits comerciais vultuosos como os registrados na segunda metade dos anos 1990. Como destaca Rowthorn, o paradigma  dos gansos voadores, como usualmente formulado, supõe que o ganso líder absorva as exportações intensivas em mão -de-obra dos países retardatários durante os estágios iniciais de seu desenvolvimento e, posteriormente, das exportações de manufaturas com maior conteúdo tecnológico. Dificilmente, naquele contexto , os dados relativos ao comércio do Japão com os países da ASEAN-4 sustentariam uma posição de mercado para manufaturas de baixo valor agregado, do mesmo modo, no caso dos Tigre Asiáticos, o Japão chegou a se tornar exatamente um mercado importante para bens industriais de maior conteúdo tecnológico. Ainda que a expansão do comércio internacional intra-firma apontasse numa direção numa direção compatível com o modelo dos gansos  voadores liderada pelos IDEs japoneses, não é possível derivar o amplo desenvolvimento do Sudeste Asiático desta dinâmica. Baseado nestes fatos, Rowthorn questionou a função do Japão como líder dos gansos voadores asiáticos. Estes mesmos dados apoiaram, porém , uma dinâmica de indução do desenvolvimento  a partir dos 4 Tigres Asiáticos para a ASEAN-4 .  Considerando a questão do protecionismo japonês numa perspectiva histórica, intérpretes dos desenvolvimento econômico asiático como Bagchi consideram que a influência positiva do Japão sobre o modelo para a ação estatal do que como mercado ou fonte de financiamento para o desenvolvimento econômico. Os mercados para a maioria dos países do Leste Asiático sempre estiveram nos Estados Unidos e na Europa Ocidental.

K.M.

CHU EN-LAI


''  Nossas políticas são bem definidas. Somos todos contrários às grandes potências, ao poder político e à dominação.  Não nos tornaremos uma grande potência em hipótese alguma. ''

''A China é um país pobre; mas nossa prioridade tem sido alimentar o povo, e isso nós temos conseguido ''


CHU EN-LAI


He he...

''Ele é o único comunista decente que já encontrei na vida,  se é que isso existe''


CHANG KAI-CHEK


Revolucionário , organizador, comandante, diplomata e político, Chu En-Lai  foi descrito pelo escritor norte-americano Theodore White como ''um homem brilhante e cruel como nenhum outro já produzido pelo movimento comunista neste século. Ele podia agir com absoluta ousadia, ou delicadamente, risonho e agregador, ou como um gato perseguindo um rato, convicto como um homem que idealizou seu caminho através de um único meio de ação ---- uma das peças fundamentais da Revolução Chinesa e, após a proclamação da República Popular , tornou-se seu Primeiro-Ministro.


(.)


Em 1944 , seguindo as determinações do Presidente norte - americano Franklin D. Roosevelt, uma missão militar se estabeleceu em Yenan  , cidade onde Chu passava a maior parte do tempo.  Os Estados Unidos estavam em guerra contra o Japão desde dezembro de 1941, quando os japoneses atacaram Pearl Harbor, no Havaí. A entrada na Segunda Guerra Mundial se fez por meio de uma aliança com a União Soviética (em guerra  contra a Alemanha desde junho desse ano ), a França e a Inglaterra (ambas em guerra contra a Alemanha desde 1939 ). Os norte-americanos esperavam persuadir os comunistas e os nacionalistas chineses a deixarem de combater entre si e a se concentrarem na luta contra os japoneses.  Mas o desejo norte-americano de uma China Unida ( quanta ironia!) não foi realizado. Apesar de os norte-americanos terem nomeado Chang  Kai-Chek comandante-chefe da Operação de Guerra da China-Birmânia-Índia (CBI) em janeiro de 1942 e de terem fornecido milhões de dólares em ajuda econômica e militar, Chang preferia deixar que os norte-americanos se encarregassem sozinhos de combaterem os japoneses (risos) . Por sua vez,  ele simplesmente redobrava esforços na luta contra os comunistas. Como o volume da ajuda norte-americana para aChina era canalizada aos nacionalistas, os comunistas pouco recebiam.   Isso frustrou profundamente alguns de seus líderes , especialmente depois que ficou claro que os exércitos comunistas eram mais eficientes na luta contra os japoneses do que as forças de CHang .  Antes de 1944, quando alguns dos piores abusos das forças  nacionalistas começaram a ser corrigidos, seus próprios soldados eram  ''amarrados uns aos outros para evitar que fugissem '', de acordo com relatos o historiador norte-americano Edmund O. Clubb, em seu livro China Século XX, Clubb tbm era explica que muitos soldados nacionalistas ''morriam antes mesmo de chegarem `às unidades as quais estavam designados . Milhares de outros morriam por falta de cuidados médicos básicos e mesmo por falta de alimentação, negligenciada por superiores corruptos. Como consequência, o comando militar estava enfraquecido e a moral das tropas  se encontrava em situação ainda pior. Os exércitos nacionalistas mantinham-se em cerradas  posições defensivas , estocando suas novas armas norte-americanas para um eventual uso contra os comunistas. De 1941 à 1944, a guerra da China contra o Japão mergulhou  num grande suspense, sem nenhuma manifestação do  governo em Chungking, mas , em compensação , um forte cordão militar cercou a base comunista  chinesa no noroeste da China ''.  A incapacidade de Chang de levar adiante a guerra contra os japoneses  irritou profundamente um norte-americano em particular: o General Joseph W. Stilwell. Como Comandante dos Estados Unidos para a Operação de Guerra CBI e chefe do Estado-Maior de Chanf, Stillwell fizera diversas e seríssimas advertências para que aumentassem imediatamente a eficiência das forças nacionalista. Porém,  já que isso implicaria mudanças na estrutura do comando, Chang e muitos deles, inclusive o próprio Chang e muitos deles, estavam usufruindo do dinheiro recebido dos Estados Unidos em benefício próprio. A corrupção e a brutalidade dos nacionalistas provocaram a fúria sanguinária contra aquelas pessoas que os norte-americanos protegiam. Quando  os japoneses tomaram a província de  Hunan em 1944, milhares de civis chineses receberam se rebelaram, ajudando os japoneses a massacrar as tropas nacionalistas.  No início de 1945, Chu sugeriu que se realizasse um encontro ntre Mao e Roosevelt ,mas não se obteve resposta. Roosevelt morreu em abril e foi sucedido pelo Vice-Presidente Harry Truman . O conflito que envolveu quase todo o mundo ocidental e oriental e ficou conhecido como Segunda Guerra Mundial terminou em agosto,  quando os norte-americanos lançaram duas bombas atômicas sobre o Japão. Após a rendição dos japoneses, Chu acompanhou Mao a Chungking, onde se realizaria uma conferência entre comunistas e nacionalistas. Os nacionalistas garantiam a segurança de Mao, mas ainda assim Chu comia todas as suas refeições com medo de estarem envenenadas. Nas negociações, observadores sentiram Chu mais conciliador, ao passo que Mao assumiu um tom inflexível .  Para ele, estava claro que os norte-americanos continuariam a ajudar CHang. Mao logo retornou a Yenan , deixando para Chu a tarefa de elaborar os detalhes do acordo. Durante um encontro com o Coronel David Barrett , membro da missão em Yenan , Mao, profundamente irritado com a atitude norte-americana em favor de Chang, declarou : 


------ APÓIEM CHANG O QUANTO QUISEREM, MAS LEMBREM-SE DE UMA COISA: A CHINA PERTENCE AO POVO CHINÊS. TÃO CERTO QUANTO DIZER QUE O INFERNO NÃOÉ DE CHANG-KAI-CHEK . A CHINA PERTENCE AO POVO CHINÊS E ESTÁ CHEGANDO O DIA EM QUE VOCÊS NÃO PODERÃO MAIS APOIA-LO.


K.M.