domingo, 30 de abril de 2017

Coordenação entre o Fed e o Banco Central do Japão.


Durante a vigência do sistema de taxas de câmbio  de Bretton Woods, estabelecido logo após a Segunda Guerra Mundial , exportadores, importadores, investidores e órgãos governamentais, tanto japoneses quanto americanos , foram forçados a formular políticas e estratégias baseados numa paridade fixa  de Y 360 por dólar . Entretanto, desde o começo da ruptura do sistema de Breton Woods em 1971 , quando o então presidente americano Richard Nixon pôs termo ao compromisso dos Estados Unidos de converter dólares em ouro , o iene sofreu uma apreciação da ordem de 400% frente à moeda americana. Esse período foi marcado por momentos de significativa volatilidade das taxas de câmbio: ao longo dos últimos vinte e cinco anos , o iene sofreu elevações agudas em quatro momentos diferentes  e atravessou quatro períodos de acentuada depreciação. Como resultado, mais instituições japoneses sofreram sofreram perdas substanciais. Analistas estimam que o montante de receitas cambiais japonesas perdidas devido aos fortes aumentos frente ao dólar desde 1971 , situa-se entre U$ 400 e U$ 720. Em um antigo artigo da Business Week intitulado '' The Superyen Could Soon Fall Back to Earth, de 1995, William Glasgall cita a Merryll Lynch and Co. , como tendo ''estimado que os investidores japoneses '' já acumulavam '' U$ 400 bilhões em perdas cambiais não -realizadas. Apesar das perdas incorridas em cada subida subsequente do iene em relação ao dólar, até os anos noventa a economia japonesa parecia adaptar-se com razoável eficácia às mudanças no cenário internacional. DE fato, o repasse dos ônus do iene valorizado para os consumidores domésticos, na forma de preço mais elevados, e a transferência de partes consideráveis e suas instalações produtivas para o exterior, tornaram-se práticas comuns para as firmas japonesas,  O Japão passou por recessões causadas pelas elevações anteriores do iene, mas estas foram sempre de curta duração e vieram seguidas de períodos marcados por taxas de crescimento econômico respeitáveis. Entretanto, a significativa desaceleração japonesas no início dos anos 1990 (em 1993 o PIB cresceu apenas 0,1 %) e a incerteza quanto à capacidade do Japão para consolidar um padrão de crescimento sustentável a médio prazo com base na demanda do setor privado, criaram sérias preocupações acerca da apreciação do iene ---- ou endaka, como é comumente chamada em japonês. Em função das diminutas taxas de crescimento do Japão nesta década, vem sendo cada vez mais difícil recorrer ao consumidor doméstico para que absorva eventuais aumentos no valor do iene. Além do que, é possível que o ritmo veloz em que as firmas japonesas passaram a deslocar sua  produção manufatureira para o exterior tenha resultado numa exacerbação do problema do desemprego no país. Além disso , a instabilidade de muitas firmas japonesas, no início da década de 1990, incluindo os bancos do país,  aparentemente impediram que aquelas mantivessem os níveis de inversão nos mercados financeiros americanos que alcançaram nos anos 1980. O fato de que as firmas japonesas tenham sido forçadas a se desfazer de títulos e ações americanos gerou pressões altistas ulteriores sobre o iene em relação ao dólar. E a questão ganhou ainda maior significação diante do ritmo acelerado  da integração entre as economias do Japão e de seus vizinhos asiáticos, que os tornou crescentemente vulneráveis a eventuais oscilações altistas do iene. Mesmo para além da esfera de influência imediata do Japão , a estreita inter-dependência dos mercados financeiros em âmbito mundial fez da apreciação do iene uma das causas diretas da crise do peso mexicano de dezembro de 1984, com um impacto bastante negativo em toda a América Latina.Neste contexto , apesar de haver adotado um discurso público destinado à ''empurrar'' o iene durante os primeiros estágios da administração Clinton (o chamado ''talking up ), o governo americano começou a dar sinais de estar preocupado com uma possível valorização excessiva do iene . Em 1995 e 1996 os policy-makers americanos claramente envidaram esforços consideráveis para evitar a apatia econômica japonesa fosse transmitida à economia mundia l. O Federal Reserve Bank agiu em coordenação com o Banco Central do Japão em diversas ocasiões para promover maior estabilidade nos mercados cambiais e para evitar que o iene subisse demais. Foram exatamente tais esforços que possibilitaram reverter a trajetória de valorização do iene e trazê-lo aos seus níveis atuais de cerca de Y 115-120 dólar. Mesmo a imprensa internacional, liberal até a medula, notoriamente ortodoxa em todas as suas suas apresentações, foi capaz de admitir na época o papel abertamente decisivo das intervenções coordenadas dos a bancos centrais dos EStados Unidos e do Japão para reverter a apreciação do iene.  Uma dessas admissões tbm pode ser encontrada no artigo de William Dawkins ''Dangerous Paradox of Japanese Power '' . Na medida em que os Estados Unidos demonstravam estar dispostos a intervir para reverter a trajetória de valorização do iene e trazê-lo aos seus níveis de então de cerca de Y 115-120 por dólar.  Para restringir a subida do iene, fazia-se sentir sobre o Japão uma pressão crescente para que ali se adotasse, por sua parte, medidas de respaldo a uma maior estabilidade de sua moeda. Primeiramente, foram feitas incursões na área da desregulação financeira ---- cujos antecedentes remontam à 1980, com as modificações à Lei de Controle Cambial e do Comércio Exterior, mas que ão havia sofrido qualquer alteração estrutural até as medidas recentes. No segundo semestre de 1995 , o Ministério das Finanças japonês (MOF) anunciou um expressivo número de medidas de desregulação objetivando estimular o s seus residentes a comprar ativos no exterior e, ao mesmo tempo , limitar a exigência e que empresas japonesas tenham que fechar  câmbio em iene para realizar transações com o exterior . O Ministério das Finanças relaxou , por exemplo , as normas que regulavam  o nível permitido de depósito em moeda estrangeira no exterior e começou a permitir que investidores locais pudessem montar arranjos cambiais com bacos fora do Japão , em vez de obrigá-los a operar por intermédio de subsidiárias no estrangeiro.  Em segundo lugar ,o Japão então intensificou seus esforços para firmar acordos de revenda e recompra de títulos públicos denominados em dólar (REPO) com diversas autoridades monetárias na Ásia --- Austrália, Hong-Kong, Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura e Tailândia ----- para ''aumentar a liquidez em bases BILATERAIS ''. Esses acordos implicaram em intervenções conjuntas por parte dos bancos centrais envolvidos para contrarestar oscilações mais bruscas do iene. Meu propósito  final será analisar aqui algumas lições gerais que podemos retirar dos movimentos relativos entre o iene e o dólar desde os anos 1970 .

K.M.

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