domingo, 9 de abril de 2017

'VERSÃO DOURADA DO OCIDENTE '' .

É precisamente a interpenetração entre ética e mundo, ou seja, a interpenetração entre as esferas éticas e mundanas formando um cultura unitária, que singulariza a cultura norte-americana, e que permitiu , ao longo do tempo , sua excepcionalidade histórica. Uma excepcionalidade que se baseia numa história na qual inexistiram formas tradicionais e não democráticas de dominação e que permitiu a constante reinterpretação inclusiva e universalista do racionalismo ocidental . Que o desenvolvimento norte-americano seja excepcional , não existe dúvida. Também indubitável é que esse desenvolvimento, precisamente pelas razões que apontamos há pouco , seja tido como a ''VERSÃO DOURADA DO OCIDENTE ''. O que muitos estudiosos não perceberam, no entanto, é que o desenvolvimento norte-americano é, essencialmente, seletivo ---- ele atualiza também apenas  dimensões do racionalismo ocidental.

K.M.

7 comentários:

  1. Considerando o adiantado da hora, ainda cabe uma última distinção complementar importante no tocante ao que significa ou significou civilização entre os grandes da Europa. Na verdade, entre a Inglaterra e a França, de um lado, e a Alemanha, do outro. conceitos de civilização diferentes. Tanto a Inglaterra quanto a França lograram cedo a unificação políticas de seus territórios, processo no qual a civilização serviu, primeiro para grupos particulares, e depois para a nação como um todo, como legitimação do próprio poder e autoconsciência. A Alemanha, ao contrário, país de unificação e desenvolvimento tardios , sempre teve de se perguntar : ---- O QUE FAZ OU QUAL É A NOSSA SINGULARIDADE ????

    k.m.

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  2. Para o grande sociólogo Norbert Elias, a chave para a compreensão das distinções no seio mesmo da cultura ocidental, como aquelas entre a França e a Alemanha, tem a ver com a dinâmica da luta de classes pela hegemonia ideológica (e não pelo controle dos meios de produção como em Marx ) dentro dos respectivos espaços nacionais.

    K.M.

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  3. Na França, assim como na Inglaterra, a função de definir o que deveria ser percebido como especificamente francês coube à aristocracia cortesã . Esta classe logrou até mesmo expandir seu pres´tigio para além das fronteiras nacionais influenciando todos os países importantes da Europa. Dentre esses incluindo a própria Alemanha, cuja aristocracia não só falava francês como, de resto , possuía o gosto e a visão de mundo da aristocracia francesa. NaAlemanha a tarefa de definir o que é ''especificamente alemão '' coube a uma classe média, um estrato de pessoas cultivadas. Esse estrato definiu-se ,até mesmo , ''reativamente'', v ou seja, por oposição ao ideário, então já supranacional, francês .

    K.M.

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  4. É muito mais fácil compreender a partir de tudo isso a tradição alemã da dominância da filosofia nas mais diversas esferas sociais e a influência da figura dos pensadores e poetas como fonte de orgulho nacional. A palavra alemã KULTUR, a equivalente nacional da palavra francesa CIVILIZATION , possui nesse sentido um significado antes de tudo antitético em relação a essa última.

    K.M.

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  5. Mas na Alemanha essa palavra CIVILIZAÇÃO sempre denotou um sentido negativo de ''exterioridade '', de algo enganoso e superficial , uma mera cortesia , a qual deve ser contraposta com o sentido das virtudes ''verdadeiras ''

    K.M.

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  6. Coube à uma classe-média de servidores artísticos e intelectuais dos príncipes a tarefa de definir os traços peculiares do ''alemão ''. É a partir dessa influência que conceitos como BILDUNG (formação ) e KULTUR ( cultura ) adquirem seu sentido peculiarmente germânico .Esses indícios mostram que os elementos burgueses adquirem ''autoconsciencia '' e alguma influência cultural , sem lograr adquirir poder nem sequer ameaçar a estrutura do Estado Absolutista, sendo obrigados a desempenhar um papel marginal na política. Esse estrato social intelectualmente privilegiado podia pensar e escrever livremente, mas não podia ''agir'' livremente. E essa circunstância de certo modo condicionará, de forma importante , o destino da Alemanha nos ´seculos seguintes. A situação desse estrato para o sociólogo Norbert Elias era muito específica : era uma elite em relação ao povo , ao passo que era gente ''vinda de baixo '' para a aristocracia.

    K.M.

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  7. Tbm na França temos , na mesma época , uma riqueza extraordinária de personagens importantes. A diferença principal é que as grandes figuras das letras e do pensamento francês foram mais facilmente acolhidas nos estratos superiores da sociedade da época. Na Alemanha, o caminho ''para cima '' da intelligentsia foi bloqueado, em parte , pela própria pobreza da sociedade cortesã alemã da época, o que inibia suas potencialidades ''receptivas '' ou cooptativas . Na França, a qual relativamente cedo se expande para fora e precisa assimilar ou colonizar outros extratos sociais e outros países no seu esforço de arregimentação, o orgulho aristocrático permanece, mantendo, em razão de sua riqueza relativa, várias portas abertas ao caminho de ascensão social dos estratos artísticos e intelectuais.

    K.M.

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