Foi provavelmente durante uma daquelas suas disputadas aulas universitárias na década de 1960 que Herbert Marcuse apontou pela primeira vez o FIM DA UTOPIA em referência à ultrapassagem de todas as imagens utópicas pelo desenvolvimento técnico das forças produtivas. O trato da utopia realmente foi marcado nesses dois lados por uma espécie de ''proibição de imagens utópicas'' , ou de sua transdução publicitária reificante... Mas as utopias sempre tiveram historicamente uma função prática importante no progresso humano , na medida em que adentraram nos movimentos sociais como orientações muitas vezes pragmáticas. Foi com uma brilhante visão utópica, por exemplo, que Ernest Bloch empregava a fórmula do ''andar ereto ''. A sociedade , a política e a economia devem ser apresentados de tal como que todos pareçam ''andar eretos ', mesmo os mais fatigados e aflitos, ou os mais voláteis. Nesse contexto, o emprego utópico de uma imagem costuma servir para introduzir um conceito preciso : o da DIGNIDADE HUMANA. Como sabemos, dignidade foi um conceito medieval, feudal. Alguém era DIGNO quando possuía um status na ordem hierárquica e podia desempenhá-lo com o ''comportamento correto '' ----- nesse sentido medieval , o papa tem dignidade, por exemplo . Com essa métrica, o SHOW BUSINESS de um adestrador de massas de turistas poderia ser designado talvez de INDIGNO ; mas em contraposição a isso , a dignidade humana foi concebida de maneira mais abstrata no direito natural racional , na filosofia moderna em geral.. Todo indivíduo deve ser incólume em sua autonomia, protegido em sua integridade física e psíquica. Esse conceito universalista da metáfora do ''andar ereto '' é obtido por meio de um ''aguçamento conceitual '' ----- e esse é um ótimo exemplo da função crítica das imagens promissoras em contextos teóricos. Foi promissor que a dignidade humana fosse transposta do mundo feudal , onde apenas os representantes estavam ''eretos'', para o mundo burguês e para o social-democrata e socialista , que tbm prometiam erguer os aflitos e fatigados. Ernest Bloch costumava dizer que a UTOPIA sempre tinha uma ''imprensa fraca''. Hoje, pelo contrário, a imprensa é forte, e nos confronta com um uso realmente inflacionado da palavra em múltiplas direções... Nada se tornou conceitualmente saudável , mas aparentemente veio ao encontro de uma nova sensibilidade ---- uma sensibilidade justamente para aquilo que venho chamando de ''ressecamento das tradições comunicativas e ligadas ao mundo da vida'' . Como a a pretensão utópica é expressa capciosamente ! A UTOPIA passou concretamente a ser considerada uma espécie de ''direito privado ' para projetar mundos desiderativos que se referem a nada menos do que um TODO DESIMPEDIDO . É sem dúvida algo que se afastado meu ideal crítico, que por esta mesma razão é tbm auto-crítico, do PENSAMENTO UTÓPICO.
K.M.
Em determinados momentos históricos, nos quais reconhecemos realmente um movimento social, no qual reconhecemos reivindicações ou lutas políticas ou geopolíticas , vemos perfeitamente bem que ninguém lutar POR ABSTRAÇÕES --- apesar dos tres grandes objetivos inalienáveis da REvolução Francesa.Ninguém luta por abstrações, mas''com imagens''.
ResponderExcluirK.M.
Logos, bandeiras, títulos, nomes próprios, fotos, símbolos e imagens , o discurso retórico, o discurso alegórico, o discurso utopicamente inspirado, , o discurso em que osobjetivos concretos são colocados diante dos olhos, estes são certamente os elementos necessários dos movimentos que em geral causam algo na história. Tudo o mais é antes de tudo pura assimilação ou simples paralisia.
ResponderExcluirK.M.
O pensamento conceitual da linguagem teórica tbm nãoé autônomo em relação aos elementos imagéticos, metafóricos ou mesmo míticos. Não existe, nem nunca existiu ,algo como uma linguagem conceitual exclusiva para ''uso científico'. Essa é a maior lorota da história do pensamento humano e está por trás de toda a decadência moderna da educação e da sociedade. O Ocidente de fato buscou transformar esse ''mito '' no cerne de seu discurso científico, mas nos pontos mais altos da reflexão crítica independente tal imagem foi ''conceitualmente domada'' desde o início, por pensadores como Nietszche e Heidegger.
ResponderExcluirK.M.
Um filósofo essencialmente utópico, por sua vez, como Ernest Bloch pôde vir a se tornar ''plausível '' por muito tempo graças à sua necessidade de ir para lá e para cá, entre a linguagem teórica na qual queria proceder de maneira rigorosamente discursiva, simplesmente por que desejava-se solucionar problemas , e a recepção de uma linguagem imagética,forte no cotidiano ,em todo caso enraizada nas experiências cotidianas.
ResponderExcluirK.M
Utopias são na verdade formas de vida imaginadas, logo, são projetos de totalidade. É isso que torna-se difícil trazer para dentro da teoria. Não existe utopia teoricamente fundamentada. Ali onde se prjetam totalidades, formas de vida inteiras, histórias de vida inteiras em sua concreção ,e sugere-se que elas podem ser politicamente realizadas sem mediação, ocorrem facilmente consequências para as quais sabiamente sempre apontaram nossos amigos NEOCONSERVADORES ...
ResponderExcluirKM
PARA CONCLUIR, basta lembrar que essa sempre foi uma razões para que no socialismo tenha-se exercido certa abstinência em relação à imaginação de formas de vida concretas. DEver-se-ia falar de socialismo, a partir de certo ponto e apenas no sentido de que, em uma determinada situação histórica ''se buscaria indicar as condições necessárias que devem ser preenchidas PARA QUE possam surgir formas de vida emancipadas, sejam quais forem.
ResponderExcluirK.M.