terça-feira, 11 de abril de 2017

Racionalidade do mercado.



Existe entre os principais autores da teoria social contemporânea um consenso sobre a capacidade do sistema econômico de gerar ''racionalidade'' .Dependendo do autor ,a geração de racionalidade pelo sistema econômico se dá por diferentes razões : Antony Giddens atribui a capacidade do mercado de gerar racionalidade `''coordenação mecanizada da força de trabalho '' e ao ''insulamento entre as formas política e econômica '' (Giddens ) .O autor denomina essa forma de coordenação da ação de alocativa e a caracteriza ''pelo distanciamento entre tempo e espaço ''. Já Luhmann entende a economia enquanto um subsistema de redução da complexidade caracterizado ''pela possibilidade de adiar uma decisão sobre a satisfação de uma necessidade oferecendo a garantia de que essa vai ser satisfeita e utilizando o tempo, desse modo , adquirido '' (Luhmann ). Habermas aborda o processo histórico através do qual a emergência do sistema econômico capitalista cria uma ruptura no nível da diferenciação sistêmica através da emergência de um novo mecanismo, o dinheiro como meio de controle . ‘’Com a institucionalização legal do meio monetário, a ação orientada para o sucesso e guiada pelas considerações egoístas do cálculo da utilidade perde a sua conexão com a ação orientada para o entendimento mútuo ‘’ (Habermas ) . Coleman analisa o mesmo processo. Para ele ‘’o intercâmbio ocorre, frequentemente , no contexto de um sistema de trocas no qual existe competição por recursos escassos ‘’ (Coleman). Os atores adotam então um único princípio de ação visando a maximização de seus interesses. A aplicação do princípio da maximização no interior dos sistemas sociais conduz ‘’ao intercâmbio do direito sobre recursos, intercâmbio este que gera a otimização ‘’. A análise dos elementos principais do surgimento da forma de racionalidade característica da economia de mercado aponta na direção de um grande consenso e de um grande ponto de discordância. O consenso diz respeito ao fato de que a economia de mercado desvincula uma forma de ação , a ação econômica, de quaisquer tipos de considerações extra-econômicas , ou para usar a terminologia de Luhmann , cria uma forma de comunicação excessivamente ‘’indiferente às circunstâncias, aos detalhes ou às relações ‘’ ‘’. O que de modo algum constitui objeto de consenso são as consequências de tal fato . De um lado, temos uma posição utilizada por Adam Smith e sustentada com algumas variações por todas as versões da teoria da escolha racional que reduz todas as formas de dominação a relações pessoais interativas e identifica todas as formas de liberdade com a capacidade do indivíduo de tomar decisões individuais de acordo com suas preferências. Coleman expressa muito bem tal posição ao afirmar que ‘’se os indivíduos detivessem o o controle sobre todos os recursos que os interessam , a ação social não constituiria um problema ‘’. O que torna a ação social problemática é o fato dos ‘’atores não deterem o controle completo das atividades capazes de satisfazerem seus interesses . Eles encontram algumas atividades ou recursos sob o controle de outros atores. Desse modo, , o problema da racionalidade e da liberdade se colocam inequivocamente enquanto busca da satisfação dos interesses individuais identifica com a maximização do esforço individual de alcançar tais interesses . De outro lado, autores como Habermas e Giddens defendem que a racionalidade não pode srer simplesmente identificada com a extensão da impessoalidade a todos os setores da vida social. Esses autores diferenciam a forma de reprodução interativa da ação social do ‘’distanciamento espaço-temporal ‘’ para utilizar a expressão de Giddens ou da racionalidade sistêmica para usar a expressão de Habermas. Em ambos os casos, Habermas e Giddens diferenciam duas formas de racionalização distinguindo entre impessoalidade  e interação. É portanto em referência a um mesmo fenômeno , o surgimento de relações impessoais associadas à constituição da economia de mercado que surge a possibilidade de se entender o problema  da existência ou não de uma só forma de racionalidade.
K.M.

5 comentários:

  1. O conceito monológico de racionalidade tem seu fundamento na idéia do MERCADO enquanto paradigma da liberdade individual . E é particularmente interessante notar algumas variações na discussão do conceito entre as teorias da modernidade que supõem a existência de duas formas de racionalidade e as teorias da escolha racional com sua concepção monológica de racionalidade : no efeito que as dissoluções das formas coletivas de produção de entendimento irá produzir na política moderna.

    K.M.

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  2. O problema da política moderna coloca-se em termos inversos aos supostos por Hechter e as teorias da escolha racional. Não se trata de saber se algum indivíduo poderia argumentar que a operação do mercado o afetou de forma diferente dos demais indivíduos. Trata-se antes de supor junto com Weber e outros que é precisamente porque o mercado não leva em conta particularidades individuais, ou de comunidades, que ele é capaz de se constituir como um paradigma único de sociabilidade e entendimento.

    K.M.

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  3. É nessa linha tbm que se coloca alguns outros teóricos da escolha racional : ''Seria o impacto do mercado sobre a sociabilidade e as formas de entendimento modernas decorrência do próprio mecanismo operativo do mercado ou das disjunções de um ponto de partida inicial injusto cuja coerção não seria, todavia, incompatível com o principio organizador do mercado. OBJETIFICAÇÃO. LIBERDADE DE ESCOLHA. RACIONALIDADE.

    K.M.

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  4. Politicidade do mercado. Objetificação da racionalidade. Ora, uma vez desfeito o equívoco acerca da possibilidade de reconstituição da sociedade a partir do ponto de partida doindivíduo isolado, trata-se de saber de que modo a negação das metáforas do ''isolamento geográfico'' e da ''associabilidade ''recoloca o problema da relação entre Mercado, politica e racionalidade.

    K.M.

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  5. As teorias da escolha racional descartam a dimensão da falsa liberdade do indivíduo-produtor com o argumento de que as noções de força e de livre escolha seriam incompatíveis.

    K.M.

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