A medida que esses instrumentos mais tradicionais de poder foram sendo dispostos na proteção e reorganização do mundo livre, as organizações de Bretton Woods (o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial ) e a ONU tornaram-se instrumentos suplementares, administrados pelo governo dos Estados Unidos no exercício de suas funções hegemônicas mundiais ; na impossibilidade de serem usadas dessa maneira, essas instituições foram impedidas de exercerem suas próprias funções. Durante todo o período das décadas de 1950 e 1960 , o FMI e o Banco Mundial desempenharam um papel pequeno ou nulo na regulamentação do dinheiro mundial, ,comparados e relacionados com um seleto conjunto de bancos centrais nacionais, liderados pelo Sistema da Reserva Federal dos Estados Unidos. Somente com a crise da hegemonia norte-americana na década de 1970, e sobretudo na de 1980, foi que pela primeira vez as organizações de Bretton Woods alçaram-se a uma posição de destaque na regulamentação monetária global. De forma semelhante, o Conselho de Segurança e a Assembléia Geral da ONU foram usadas como instrumento pelo governo dos Estados Unidos para legitimar sua intervenção na guerra civil da Coréia no início da década de 1950 e, posteriormente , perderam toda sua centralidade na regulamentação dos conflitos internacionais, até serem revitalizados no fim da década de 1980 e início da seguinte. Cabe ressaltar porém que a atrofia parcial e o uso instrumental dessas organizações, no momento de expansão máxima da hegemonia mundial norte-americana, não implicaram umretorno às estratégias e estruturas da hegemonia mundial britânica.As organizações de Bretton Woods e a ONU conservaram muito de seu valor ideológico na legitimação da hegemonia norte-americana ---- em nítido contraste com a ausência de instituições trans-estatais e internacionais de visibilidade no estabelecimento da hegemonia britânica ----- o ''livre-mundismo '' norte-americano foi tanto uma negação quanto um prolongamento do imperialismo britânico de livre- comércio. Ampliou o sistema de Westfália, mas não foi baseado no imperialismo nem no livre-comércio, ao menos não no sentido britânico. A operacionalização reducionista da visão de Roosevelt, através do estabelecimento da ordem mundial da Guerra Fria, longe de diminuir, , fortaleceu o impulso ''anti-imperialista '' e ''anti livre-cambista'' da hegemonia norte-americana. Essa operacionalização reducionista simplesmente institucionalizou a competição ideológica entre os Estados Unidos e a União Soviética . Assim, há poucas dúvidas de que o processo de descolonização do mundo não ocidental teria sido muito mais problemático do que realmente foi, não fosse a intensa competição ideológica e política que jogou os Estados Unidos contra a URSS até o fim da década de 1950 . Sem dúvida, essa mesma competição intensa levou o governo americano a tripudiar do direito do povo coreano e, mais tarde, do direito do povo vietnamita de resolver, sem interferência externa, a disputa que levava os governos de seus territórios o norte e do sul a entrar em guerra. Mas esse atropelo aos direitos costumeiros das nações soberanas nada mais foi do que um aspecto da expansão do Sistema de Westfália sob a hegemonia norte-americana, mediante a introdução de restrições sem precedentes à liberdade das nações soberanas de organizar as relações com outros Estados com seus próprios cidadãos como bem lhes aprouvesse.
K.M.
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