A crescente turbulência das décadas de 1970 e 1980 enquadra-se bem no meu padrão de recorrência de formas de gestão. Pode ser tomada como um sinal da desarticulação do sistema, tal como instituído sob a hegemonia dos Estados Unidos, e pode ser projetado como um componente-chave de uma futura reconstituição do sistema, possível mas não certa, sobre novas bases. Contudo, o ressurgimento de formas modernas primárias de gestão do EStado e da guerra, em meio a questionamentos da autoridade estatal numa escala e âmbito sem precedentes, sugere que talvez haja realmente algo de especial na atual turbulência ou ''turbulências '' sistêmicas, em comparação com manifestações anteriores desse fenômeno . É como se o moderno sistema de governo , depois de se expandir tanto quanto podia em termos espaciais e funcionais , não tivesse para onde ir senão ''para frente '' , rumo a um sistema de governo inteiramente novo , ou ''para trás '', retrocedendo a formas primitivas modernas ou até pré-modernas de gestão do EStado ou da guerra. O sistema para mover-se para frente e para trás ao mesmo tempo . Esse movimento duplo sempre foi um traço fundamental do sistema mundial moderno. Na minha esquematização, o ''velhos regimes '' não fazem apenas ''persistir '', são repetidamente ressuscitados, tão logo a hegemonia que os superou é, por sua vez, suplantada por uma nova hegemonia. Numa linha similar, John Ruggie sustentou que o traço principal e mais característico do moderno sistema de governo foi a diferenciação das coletividades em espaços territoriais fixos e mutuamente excludentes de dominação legítima. Embora as formas substantivas e as trajetórias individuais das nações instituídas por essa diferenciação tenham variado ao longo do tempo , sua''espécie '' é claramente discernível desde o século XVII até hoje. Hoje porém essa forma de territorialidade, como base de organização da vida política, parece estar dilacerada por um ''espaço funcional '' NÃO TERRITORIAL, que cresceu dentro do moderno sistema de governo , mas que constitui uma negação institucional da territorialidade exclusiva desse sistema. Entre os principais aspectos dessa implosão, Ruggie menciona a idéia do HIPER-ESPAÇO PÓS-MODERNO de Frederic Jameson, resultante da ''internalização '' das relações internacionais dentro das próprias formas institucionais do capitalismo global. Os ''laços micro-econômicos transnacionalizados criaram uma região não territorial na economia mundial ----- um espaço de fluxos descentrado , mas integrado , que opera no tempo real e existe paralelamente aos espaços-de-lugares aque chamamos ''economias nacionais '' . ''Esses espaço-lugares convencionais continuam a manter uns com os outros relações econômicas externas que ainda chamamos de comércio , de investimentos estrangeiros e coisas similares, e que são mais ou menos eficazmente intermediados pelo Estado. Na região econômica não -territorial do globo, porém ,as distinções convencionais entre interno e externo são sumamente problemáticas, e qualquer EStado específico não passa de um estorvo nos projetos estratégicos globais das empresas '' (Ruggie ) . O aumento explosivo do número de empresas multinacionais e de transações dentro delas e entre elas tornou-se o fator mais crucial no definhamento do moderno sistema de nações territoriais como sede primária do poder mundial. Como frisa ainda Ruggie '' é muito fácil exagerar o ineditismo do HIPER-ESPAÇO PÓS-MODERNO EMERGENTE , em virtude das deficiências nos nossos hábitos de percepção. Esses hábitos foram formados nos espaços-lugares convencionais e são totalmente inadequados para descrever, e menos ainda para explicar , o desenvolvimento do ESPAÇO-DE-FLUCXO singular que é gerado pela INTERNALIZAÇÃO das relações inter-estatais nas estruturas organizacionais do capitalismo mundial. Dada essa inadequação, é possível que os ESPAÇO-DE-FLUXOS NÃO TERRITORIAIS tenham existido paralelamente aos espaços -de-lugares nacionais, sem serem percebidos, durante toda a história do moderno sistema mundial
K.M.
Nenhum comentário:
Postar um comentário