Se o progresso científico se tornou desinteressante do ponto de vista da ''política das idéias '', se a solução dos problemas científicos não toca mais de modo algum nos nossos problemas vitais, não se pode esperar mais nada para o cotidiano, das culturas de especialistas encapsuladas ---- fora as inovações técnicas e as recomendações em termos de técnicas sociais. Após o ''Esclarecimento '', os conhecimentos científicos só devem ser usados mesmo para o progresso técnico e , quando muito, para o planejamento econômico e administrativo . A força orientadora da ação é concedida apenas às ciências históricas que presentificam as tradições e asseguram as continuidades com meios narrativos. Isso explica a valorização das ciências do espírito que procedem por meios narrativos e, ao mesmo tempo, uma crescente desconfiança em relação à história como ciência social e uma desvalorização ainda mais acentuada da sociologia e seus esquematismos reducionistas, os ''diagnósticos de época ''. O tipo da coisa que jamais passaria pela cabeça dos neoconservadores norte-americanos. Até pelo fato de que seus principais porta-vozes eram sociólogos. Dessa perspectiva, torna-se compreensível igualmente a resistência contra as reformas escolares, que desembocam na absorção de matérias das ciências sociais nos planos de ensino . No entanto, este surto de ciências sociais na formação dos planos de ensino, que ocorreu nos Estados Unidos décadas antes, seria possível reagir com maior serenidade caso fosse lembrado o conflito disputado no final do século XIX entre os defensores das Humanas e das Realien, as ciências naturais .DE resto, a tese do pós-Esclarecimento é tudo, menos convincente , . Certamente, as imagens metafísicas e religiosas do mundo se decompuseram . E as ciências empíricas não oferecem nenhum substituto de valor para elas. Mas jáo alto nível de sínteses científicas popularizadas testemunha que os conhecimentos cosmológicos sobre a origem e o desenvolvimento do universo, qie os conhecimentos biomédicos sobre o mecanismo da transmissão hereditária, que principalmente os conhecimentos antropológicos e etológicos sobre história natural do comportamento humano e a evolução de nossa espécie, que , além disso, os conhecimentos psicológicos sobre o desenvolvimento da inteligência na criança , sobre o desenvolvimento da consciência moral , de seus afetos e impulsos, que as investigações de estados intensificados da consciência, que os conhecimentos sociológicos sobre o surgimento e o desdobramento das sociedades modernas ------ que tudo isso continua a afetar a autocompreensão dos sujeitos agentes. Esses conhecimentos alteram também os ''standards '' da discussão de problemas vitais, para os quais as próprias ciências empíricas não têm uma resposta pronta. Finalmente, seria preciso perguntar aos neoconservadores norte-americanos, que gostariam assim de colocar a ciência à distância, como é que eles mesmos querem comprovar suas repostas bastante eloquentes sobre a lastimosa e suposta ''crise de orientação '' ---- se não é com argumentos que devem resistir ao exame científico. . Todavia, é importante exercitar cautelas no trato prudente com conhecimentos hipotéticos e, por conta disso, provisórios ; exige-se tbm uma boa dose de ceticismo em relação ao alcance e à capacidade produtiva de ciências que dependem de um acesso hermenêutico a seu domínio de objetos, e justifica-se certamente o cuidado de proteger a autonomia da práxis cotidiana, própria do mundo da vida, das intervenções não mediadas de especialistas , ainda profissionalmente incertas em grande medida. No que concerne, por exemplo , às artes plásticas, Gehlen havia defendido que a vanguarda, ainda nos anos 1960, havia perdido sua ''força de contágio '' ----- Nós aprendemos a viver (dizia ele ) ao lado da 'arte hodierna ' (.) -----, Em uma visão retrospectiva sobre as décadas de 60 e 70 , , Hans Sedlmayr chega a outras conclusões. Ele está convencido de que ''O anarquismo estético seria muito mais perigoso que o político ''. Sedlmayr vê o primeiro romantismo de Jena vinculado à arte de vanguarda do presente por meio de uma ''LINHA NEGRA '' que passa por Baudelaire, Rimbaud e Artaud e o Surrealismo , . Assim , ele conjura todos os perigos de uma práxis artística que de início abstrai de todas as ordens extra-estéticas, para ''fazer mundo '', ''fazer rizoma '' com a Arte no ABERTO do mundo, a fim de explodir então os limites da obra estética e tornar-se subversivamente eficaz no cotidiano burguês. No entanto, não é exatamente ''neoconservador '' esse lamento aflitivo e essa inquietação , e sim a reação à ele ----- a proclamação da ''pós-modernidade'' . ''Pós-moderna '' é tbm a palavra-chave para se compreender um debate que veio ganhando ganhando ares líquidos e reptilianos a partir da academia nos últimos vinte anos, e que agora parece condenado a seguir girando em círculos improdutivos eternamente, com reedição perpétua dos livros de Zygmunt Bauman e seu fãn-clube mundial.
K.M.
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