sábado, 22 de abril de 2017

TUDO ESTÁ CONTRA NÓS.




Levantar-se bastante satisfeito , o que raramente acontecia, indo e vindo em seu gabinete, olhando atentamente os quadros ------ presos à parede ----- que mostravam as posições do Exército e da Marinha. Costumava dizer que nada lhe dava tanto prazer quanto esses quadros que se renovavam no primeiro dia de cada mês. Todos os detalhes neles indicavam : números de Regimentos de Infantaria e Cavalaria, nomes dos oficiais e número dos recrutas, a situação dos depósitos a distribuição geográfica das tropas. Era como um espelho, sempre atualizado , dos ministérios da Guerra e da Marinha. Teria de despachar, nesse dia, Com Talleyrand, responsável pela pasta das Relações Exteriores. Napoleão não tinha uma simpatia muito profunda por Tayllerand, mas nunca abrira mão de ouvi-lo e consultá-lo . Isso, entretanto, não impediu que lhe houvesse conferido o título de Príncipe de Benevent e muito menos de considerá-lo como uma dos melhores diplomatas da França e do mundo --- senão da história. Não esquecia , porém , que pouca confiança um homem como ele poderia inspirar já que desertara de todos os partidos pelos quais passara. Não perdia oportunidade, para mortificá-lo e repreendê-lo e, como de costume, dispensou-lhe acolhida glacial. Quando Talleyrand acabou de lhe apresentar o relatório dos assuntos normais, Napoleão perguntou : 

------ E nada mais (?) -----
------ Sim, senhor. Há algo mais e, sem dúvida, não muito agradável (.) ----, disse Tayllerand.
------- Diga o que é.
------ Acabou de chegar o correio da Espanha. As notícias são bastantes inesperadas. E tão inverossímeis que, não fossem oficiais, nelas ninguém poderia acreditar : o Marechal Dupont teve um sério revés, em Andaluzia ,nos campos de Baillen.
------- Que revés ?? -------, perguntou Napoleão.
------As tropas espanholas, reforçadas por camponeses armados, aprisionaram o Marechal Dupont depois de sangrentos combates. Aprisionaram-no juntamente com dezessete mil homens.
------- Impossível ! ----, exclamou Napoleão.
------Poucos conseguiram se salvar ----, continuou Talleyrand, completamente indiferente à surpresa do Imperador: ----- E os que escaparam devem estar correndo, nos bosques, fugindo como loucos. Os espanhóis inventaram novo sistema de luta: a guerrilha, que estão empregando com muita eficácia. A prisão do Marecham Dupont prova isso.
------ E o que estão fazendo nossos generais ???? -----
----- Donos apenas do terreno onde pisam; Sua Majestade, o Rei José fugiu de Madri.
------ Fugiu ! ---- repetiu Napoleão consigo mesmo, incrédulo.
------É o que diz textualmente a mensagem -----, reforçou Talleyrand.
------ Impossível !, Que dirá a Europa ??! Que dirá o mundo ??! -----
------ Isso porém não é tudo ---- acrescentou Talleyran : ---- Os ingleses desembarcaram em Portugal.
------ E junot ?
-----Comandados por Artur Wellesley sitiaram em Sindra o Marechal Junot com todas as suas tropas. Junot tbm acaba de render-se.  Era irremediável e eu o predisse desde o início, quando Murat caiu sobre Madri como magarefe
------ Talvez demasiado brando.
-------Pelo contrário. Demasiado duro.
------ POR DEUS, NÃO LHE ENTENDO , PRÍNCIPE ! -----, bradou Napoleão.
------ Talvez tivéssemos conseguido alguma coisa mais com um pouco de diplomacia. ---
----- POrque não com ''terror '' ??? ---
------ A retirada de D. João VI para o BRasil já foi um aviso. A velha Ibéria vem provando há séculos, desde César , que sabe combater e lutar.
------ Basta, basta ! -----, exclamou novamente Napoleão. ----- É lamentável. Só temos notícias ruins.


Talleyrand fitou-o, sem se alterar, habituado que estava a reconhecer os erros de Napoleão. A insurreição espanhola levava-o a chamar as tropas da Alemanha e a mostra-se sem gênio para combatê-las.  Sua ofensiva clássica não dava resultados contra os espanhóis que, em bandos, agrediam no melhor sistema de guerrilhas.  E até este momento Napoleão conseguira evitar os protestos do povo ----- tão sacrificado quanto os adversários pela série de guerras ----- que mantinha incólume sua tradição de invencibilidade. Em Paris porém quando correu a notícia das derrotas de Dupont e Junot, que o governo ocultava , estourou como uma bomba. Corpos do Exército de Napoleão rendiam-se pela primeira vez. Seria possível que os invencíveis, os ''SENHORES DO MUNDO '' , se tivessem deixado cercar por tropas quase ''irregulares'' ??? E o mito da força providencial de Napoleão ??? , que o fazia sair vitorioso de todas as situações, acabou sofrendo um rude golpe.  O paralelo entre os vencidos e os vencedores era quase inconcebível. Os primeiros haviam estado em Austerlitz, os outros procediam dos campos e das aldeias. Napoleão,que julgara dominar a Espanha com algumas Divisões, resolveu intervir em pessoa. Exasperado estava com o fato de seu irmão ---- o Rei José ---- ter sido forçado a fugir de Madrid para não ser preso. Ratificou, em Erfurt , um tratado de aliança com o Czar Alexandre I . E reunindo um exército de 200 mil homens, atravessou os Pirineus.  Seu avanço, como de costume, foi avassalador. Levou tudo de vencida até pisar em Madrid. Colocou seu irmão José no trono de novo  e procurou  reunir seus generais. E teria tomado mais providências militares infalíveis, caso não tivesse sido coagido a regressar disparadamente para Paris. Comunicavam-lhe que os austríacos, já refeitos, apresentavam-se dispostos a lançarem-se novamente em uma guerra. Não foi exatamente agradável a despedida do irmão :


----- Prevejo dias difíceis (.) -----, disse Napoleão à ele : ----- Deixarei na Espanha tropas suficientes para massacrar qualquer perturbação, mas a verdade é que TUDO ESTÁ CONTRA NÓS.


K.M.

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