Altas finanças : uma invenção florentina

As bases das altas finanças , em sua forma moderna capitalista, foram lançadas durante a expansão comercial do fim do século  XIII e início do XIV. Mas só atingiram a maioridade depois que essa expansão chegou ao fim. As primeiras grandes negociações financeiras para além dos Alpes foram realizadas por negociantes sienenses que viajavam para a Inglaterra e os reinos setentrionais como coletores papais ; e esses negócios com Roma e em nome de Roma, que incluíam ''exportações invisíveis '',como as peregrinações, as indulgências  e as dispensas,, continuaram a ser essenciais para a influência continental e a prosperidade das casas bancárias florentinas e sienenses durante todo seu apogeu no século XIV e XV. Esses negócios imensos exigiam uma administração especializada e, como bem observou o comerciante cronista Giovanni Villani, os florentinos ''logo reconheceram a vantagem de se tornarem banqueiros do Papa, pois, desse modo , o maior capital flutuante do mundo teria que passar por suas mãos '' (citado em Cox e Roover ) . A liderança das empresas comerciais florentinas nas altas finanças européias estabeleceu-se com base no comércio da religião, em nome de Roma,  combinado ao comércio de lã, em nome da própria Florença. A rápida expansão da indústria lanígera florentina no fim do século XIII implicou uma ampliação progressiva da ''área de captação '' em que eram comprados insumos e para a qual eram vendidos seus produtos finais. ''Como a oferta local de lã crua havia-se esgotado , grandes quantidades de fibra toscamente tecida eram importadas, sobretudo da Holanda e da França,  para serem reprocessadas e receberem o acabamento dos hábeis artesãos florentinos. À medida que se descobriram novas fontes competitivas de oferta de lã crua na Espanha, Portugal e Inglaterra, a produção de lã de Florença expandiu-se , apenas para se re-instalar mais uma vez , mediante a criação de oficinas para as etapas iniciais e mais grosseiras do processo de fabricação, no Brabante, na Holanda, na Inglaterra e na França, onde se podia encontrar a melhor lã '' (Cox). Do lado da demanda dessa equação, os mercados dos Estados italianos foram suplementados por mercados em rápida expansão no Levante , onde os produtos de lã com acabamento florentino eram trocados por especiarias, tinturas e outros produtos asiáticos. E '' como a qualidade continuasse a se aprimorar '', observou o viajante Giovanni Villani ''eles encontraram o caminho da França, da Inglaterra e dos mesmos mercados de onde tinham vindo originalmente, e para os quais eram vendidos em troca de tecidos não processados '' (citado em Cox) . A formação e expansão das redes de Altas Finanças foram inicialmente inseridas e alicerçadas na ampla e densa rede de transações criada pelo comércio de lã : '' Os grande banqueiros eram, ao mesmo tempo , membros das guildas de lã,  de modo que a atividade bancária internacional e o comércio de tecidos tiveram um desenvolvimento co-extensivo.Como banqueiros, eles convertiam em lã o dinheiro e as dívidas contraídas em países estrangeiros; aceitavam a lã como garantia de empréstimos ; permitiam que os débitos papais em países estrangeiros fossem pagos com lã ; pleiteavam concessões de comércio aos senhores feudais , especialmente o monopólio do mercado de lã, quando esses governantes pediam favores financeiros. Também financiavam a produção de tecidos no país e no exterior e forneciam empréstimos de curto prazo para a comercialização do produto final '' (Cox ). Enquanto o comércio de lã continuou a crescer rapidamente e gerou lucros elevados, ele constituiu o principal elemento dinâmico da expansão das redes bancárias florentinas por toda a Europa.

K.M.