César achava-se em Ravena com apenas uma legião, a décima terceira ; as outras acampavam do outro lado dos Alpes. Em segredo, mandou a Arímino, primeira cidade à frente, centuriões e homens de escol com ordem de ali penetrar em pequenos grupos armados apenas de gládios ; a cavalaria devia apoiá-los. Ele próprio partiu rumo à Arímino, na calada da noite , e atravessou o Rubicão a 10 de janeiro de 50 A.C., malgrado o anátema imposto a todo general que passasse em armas aquele curso-d´água. A tradição historiográfica nos mostra o general hesitante na margem, depois cruzando para o outro lado e exclamando : ----- A SORTE ESTÁ LANÇADA (!) -----, de fato, ele tinha tomado todas as medidas para se apoderar de Arímino ; pela manhã, a cidade era sua. Logo ordenou que as legiões além dos Alpes se reunissem a ele, e ,enquanto isso, apressou o recrutamento que havia determinado na Gália Cisalpina. Ainda estava em Armínio, com seus lugares-tenentes empenhados na tomada das cidades, quando lhe chegaram de Pompeu palavras amistosas, explicações, exortações à concórdia, tudo bem condimentado por conselhos graves. O objetivo era deter-lhe a marcha com a proposta de negociações. Na capital, a notícia da arrancada de César espalhou o terror. Entre a nobreza, foi um salve-se-quem-puder. Os cônsules deram o exemplo correndo para juntar-se à Pompeu, que partira na véspera, deixando os dinheiros públicos àmercê do primeiro que se aventurasse a uma incursão em Roma. Pompeu estava desconcertado. A rapidez de César anulava todos os seus cálculos de defesa : daí as patéticas tentativas de reconciliação, cujo objetivo se traía claramente. Sem recriminar, César apresentou sem demora suas condições : partida imediata de Pompeu para a Espanha ; licenciamento das respectivas forças ; suspensão dos recrutamentos na Itália ; renúncia ao sistema de opressão observado havia dois anos ; independência absoluta para os comícios, o povo e o senado. Apresentava-se assim como defensor da mais ampla liberdade. Enquanto os emissários de Pompeu tomavam o caminho de volta para Cápua, César avançava. Arrécio, Pisauro, Fano, Ancona, Ingnúvio, Áuximo caíam, uma a uma, em seu poder. Prisioneiros e trânsfugas engrossavam diariamente seu exército. Em vão Pompeu tentava tratar como inimigo todo aquele que não pegasse em armas a favor de sua causa. Mas mesmo Catão, o severo Catão, declarava ser tudo preferível à guerra civil. Tal era o estado de ânimo quando chegou a resposta de César: exigia o abandono prévio de todas as localidades em poder de Pompeu, e a partida deste. Domínio Aenobardo tinha chegado a recrutar quinze mil homens, parte no Sâmnio, parte entre os pelignos e os marsos, raças das mais belicosas da Itália. César aproximava-se, no entanto, reforçado pela décima segunda legião, chegada recentemente. No primeiro choque, as coortes às quais Domício tinha confiado a defesa duma ponte antes de Corfínio são desbaratadas e se refugiam a cidade; seu general abriga-se ali e envia mensagem apo´s a de Pompeu . César investe contra a localidade, Pompeu parece surdo. Abandonado, Domício planeja fugir, mas seus soldados sublevam-se e entregam a cidade, seu chefe e sua companhia. César poupa os prisioneiros, deixa-os em liberdade com sua bagagem e até o dinheiro público em sua posse, protege-os contra toda violência e, finalmente, incorpora todo esse espólio militar ao seu exército. Tanta moderação lhe vale mais do uma vitória : imediatamente se acalmam todas as preocupações com os bens materiais ; todos voltam ao trabalho, aos negócios; menos do nunca na história do Império Romano se cogita pegar em armas contra César agora. Bom número de Senadores voltam à Roma ; os pretores ali distribuem justiça e os edis organizam festas. Quanto aos exaltados da aristocracia e seu chefe, seu último recurso fora emigrar; prepararam-se para isso enquanto a exasperação crescia junto com seus medos. Os pompeanos (porém ) não tinham mais do que ameaças de represálias e vingança nos lábios : senhores do mar outrora, prometiam reduzir a Itália à fome. César, cujas forças aumentavam dia a dia, dirigiu-se rapidamente para Brindes, no sul da Itália, onde Pompeu tensionava embarcar para Epiro. Chegou quando metade das forças inimigas já se fazia ao mar. Atacou a cidade e tentou obstruir a entrada do porto a fim de obrigar seu ilustre adversário a entregar-se com o que lhe restava de himens e armas. A luta se arrastava. Em breve a frota aristocrática voltou. Os sitiados conseguiram escapar e alcançar o solo da Grécia. Em dois meses, Júlio César se tornou senhor de toda a Itália, atraindo para seu partido toas as tropas deixadas sem comando ao longo do caminho. Apressou-se a providenciar a reconstrução da frota, que lhe fazia muita falta, e o aprovisionamento da Itália. Em seguida, partiu para Roma afim de organizar e fazer reconhecer o seu governo , com a ajuda dos magistrados e senadores que não haviam respondido ao apelo dos adversários. Entrou em Roma sem encontrar resistência. Proclamou a anistia geral, restaurou a ordem pública, reorganizou a administração e partiu para conquistar a Espanha.
K.M.
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